Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Ao paraíso, o velho camarada Deda

Edição nº 1365 - 07 Junho 2013

José Antônio de Faria, mais conhecido como Deda, 94, morreu no último dia 4, por volta das 23h30 na casa da filha, a Profa. Angela Faria com quem residia há alguns anos. “Papai, até por causa da idade, já vinha meio debilitado e morreu serenamente, sem jamais reclamar. Faleceu tranquilo, sereno como viveu sua vida”. 

Após ser velado por inúmeros amigos e familiares e receber as coroas de flores e homenagens de representantes do meio político, esportivo e sindical da cidade, Deda foi sepultado às 15h, no Cemitério S. Francisco de Assis, após as exéquias proferidas pelo vigário paroquial, Pe. Paulo Humberto Martins e homenagem do jornalista Walmor Júlio Silva, em nome do jornal O Estado do Triângulo e do Sind-UTE.

Seu Deda, como era conhecido, nasceu em Guaíra (SP). Ainda criança, aos três anos, veio com a família para as barrancas mineiras do rio Grande; o pai viera fazer o madeirame da fazenda dos Ambrósios. Aqui, Deda perdeu o olho direito numa brincaderia. Tempos difíceis e de poucos recursos, o tratamento foi em casa e mais a promessa a Santa Luzia. Ainda criança, já em Guaíra, outra perda, a do pai, Virgílio, que deixou órfãos a mãe, Adelaide,  e sete filhos, dentre eles o caçula  Deda.   Aí foi tocar a vida dificil em GUaíra. Os estudos foram poucos, até o quarto ano primário, mas Deda venceu.

 Depois de deixar Guaíra e passar por diversas cidades paulistas, em 1941, Deda chegou às Minas Gerais, em Uberlândia, e foi trabalhar numa fábrica de sapatos e arreios, onde conheceu o cunhado, Dedão. Daí foi um passo conhecer a futura esposa, Julieta Cordeiro. Já casados, em 1947, Deda vem morar em Sacramento, terra natal da esposa, lugar ideal para ele criar os filhos, Abadia, Antonino, Ângela, Betô e Delfina, de saudosa memória.

Foi seleiro e tapeceiro na nova cidade. Trabalhou muitos anos com o amigo Beta até comprar um Bar, na praça Getúlio Vargas. Destaque-se o pioneirismo de Deda no serviço radiofônico na cidade. Ele  montou no seu bar, a Confeitaria Brasil, um  serviço de alto falante, que até então era novidade,  para fazer propaganda do Clube Atlético Sacramentano, o CAS, mas o serviço de estendeu para outros ramos. 

Ideológico, sempre de viés socialista, em Sacramento não demonstrou sua militância comunista dos velhos tempos. Esteve sempre fiel à linha política da esposa, irmã do então prefeito João Cordeiro, do antigo PSD. Mesmo bem próximo de políticos e da política, nunca se aventurou, contribuiu com a história da cidade que o acolheu como filho, por 66 anos, de outras formas, uma  delas no esporte local, junto ao   CAS, clube em que foi presidente e  tesoureiro. Deda dedicou-se também a outras obras: diretor e procurador do Sacramento Clube e diretor da Santa Casa de Misericórdia por três gestões, época em que chegam à cidade, as irmãs de São José de Cluny.

 Por seus inúmeros serviços prestados e colaboração para o desenvolvimento da cidade, Deda, em 1976 foi agraciado com o título honorífico de Cidadão Sacramentano.  Recebe também a Comenda da Ordem de Nossa Senhora do Patrocínio do Santíssimo Sacramento, várias homenagens do CAS e do jornal 'O Estado do Triângulo', o título de Personalidade do Ano. 

Deda deixa à cidade um grande legado e lições de vida. Por ocasião dos seus 90 anos em 2009, numa entrevista ao ET, declarou: “Sempre que vou à igreja, faço as preces, agradeço, peço por tudo e todos. Estou debaixo do manto de Nossa Senhora Aparecida e tenho a proteção de Jesus Cristo. Mas visito também Eurípedes Barsanulfo que é um grande benfeitor e protetor, é um arauto de Deus. Deus é um só, para todas as religiões, todas elas pregam o amor de Deus... E toda manhã desço,  vou até a pracinha de Nossa Senhora D'Abadia. Lá eu converso com ela, agradeço e peço bênçãos para todos e volto pra casa”. 

E sobre a vida de 90 anos, emocionou os presentes ao dizer: “Foi uma bênção, está sendo uma grande bênção. Sou grato pela vida. Aliás,  não sei como recebi tanto, porque nada ofereci. Eu fui, desde criança, protegido, amparado por Deus, por Jesus, por meus  pais, meus familiares, meus amigos, minha esposa, meus filhos. A acolhida, a estima, as homenagens que recebi... Se há uma pessoa feliz, esta sou eu, sou a única ou uma delas... Sou feliz, muito feliz...”. 

E foi assim que Deda partiu para a casa do Pai neste dia 4.  Com justiça, Deda,  teve a honra de ter a bandeira de Sacramento sobre seu féretro e a camisa do time que ajudou a fundar; as bandeiras do Brasil, Minas Gerais e Sacramento hasteadas a meio mastro no Monumento ao Fundador da cidade e o decreto de luto oficial de três dias, assinado pelo seu sobrinho, o prefeito Bruno Scalon Cordeiro.