Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Morre em Uberaba o pequeno Joaquim

Edição n° 1302 - 23 Março 2012

Joca, como era carinhosamente chamado por todos, ganhou o apelido dado pelos funcionários e equipe médica do Hospital São Domingos, em Uberaba, onde vivia internado desde que nasceu, por ser portador de Encefalopatia Hipóxico-Isquêmica ou paralisia cerebral. Nessa curta existência, Joca foi um exemplo de superação e de luta pela vida, graças, principalmente, à dedicação de seus pais.

No dia 24 de julho do ano passado, o pequeno Joca foi notícia no Jornal de Uberaba, quando completou oito anos. Na capa, a manchete, “Criança internada há oito anos é exemplo de vida” com a foto da sua festa de aniversário na UTI neonatal do hospital rodeado pelos pais, irmãos e amigos. 

A matéria continua na página A8, com o título, “Família dedica vida à criança internada desde o nascimento”. Nela, a dentista sacramentana, Carla Cunha Scalon Rezende, mãe de três filhos, conta que a gestação foi comum e normal como a de qualquer outra mãe, mas no dia do parto vieram as complicações. 

De acordo com a pediatra Raquel Romani, responsável pela UTI neonatal do Hospital São Domingos, “Carla teve um deslocamento de placenta e após o descolamento houve um sangramento para dentro da bolsa amniótica. Então, faltou oxigenação na placenta e o bebe sem oxigênio no cérebro, sofreu uma parada cardiorrespiratória”. 

Carla e todos os familiares sabiam que a doença era irreversível, mas afirmou na matéria que para a família e, sobretudo para ela, Joca era uma criança normal, apesar de seu problema de saúde. “Converso, brinco e procuro levar a vida da melhor forma possível. Há oito anos visito meu filho na UTI neonatal todos os dias. Nunca falhei com ele”, conta Carla, que elogia o carinho de todos do hospital.

 “- Todos brincam, conversam e procuram dar toda atenção possível para ele. Não tenho palavras para expressar minha eterna gratidão pela equipe médica, enfermeiros e funcionários. Todos os dias, quando visito meu filho, ele está sempre limpinho, cheiroso e alimentado”. 

Para Carla, aceitar a situação foi a melhor atitude que ela poderia ter. “Entendo que Joca não pode ver, nem falar, mas passei a aceitar tudo isso dia após dia. E a cada visita procuro levar muito amor e carinho a meu filho”, contou na reportagem, destacando que ama todos os filhos igualmente. “Tudo o que posso, faço por eles. Com Joaquim não é diferente. A única diferença é que não moramos juntos, mas o que pudermos fazer por ele, mesmo que seja no hospital, fazemos”. 

O pai, José Luiz, também visitava o filho com freqüência e relatou também no jornal a festa que fizeram no aniversário do filho. “É muito ruim não ter ele conosco, em casa, mas vamos ao hospital com freqüência. No aniversário dele, comemoramos os oito anos na própria UTI. Decoramos o quarto com tudo que ele tem direito”, recordou e Carla completou: “Foi uma festa linda, com faixa de parabéns, presentes, brinquedos e muitas fotos. Vou guardar essas imagens para sempre”. 

Carla também dá lição de aceitação e coragem, pois não considera sua vida difícil. “No começo foi complicado aceitar, mas depois com a ajuda de amigos, da família e de Deus, entendemos que, infelizmente, as coisas às vezes não acontecem do jeito que gostaríamos que elas acontecessem. Hoje, somos vencedores, não porque lidamos bem com o caso do meu filho, mas porque colocamos o amor que sentimos por ele acima de tudo. Se ele viver por mais 30 anos, continuarei vindo aqui todos os dias, por mais 30 anos”, afirmou ao repórter do Jornal de Uberaba.

Carla, José Luiz e os irmãos de Joca não tiveram essa oportunidade. No dia 21 de fevereiro, Joaquim morreu. Apesar da dor e da ausência, sabem que dedicaram tudo o que puderam ao filho e ao irmão querido.  Também a família foi exemplo de superação, de dedicação e de amor prá todos nós. Aqui vemos que a Eutanásia não tem sentido, que o aborto não tem sentindo, quando o amor é vivido na sua maior plenitude. 

Agradecemos a artista plástica, Elaine Scalon, prima de Joca, que nos passou a notícia, pois à época, a redação do ET não havia tomado conhecimento.