O contador Agenor Inácio Filho, o Agenorzinho, está feliz da vida. Das muitas lutas empreendidas, dos muitos sonhos acalentados, dos muitos realizados, ele contemplou recentemente um que foi gestado há 41 anos... Isso mesmo, aos 15 anos, ainda incipiente na carreira que abraçara como menor aprendiz no escritório de contabilidade de Vilmar Melo,
Agenorzinho inaugurou em junho o escritório próprio da empresa, que também criara há algum tempo, a Êxito Contabilidade. “- Eu queria ter a minha independência, afinal a gente estuda visando isso. A gente trabalha a vida inteira pensando sempre em melhorar. Mudei de endereço cinco vezes, mas consegui um diferencial nesse intervalo, que é a fidelidade com meus clientes e eles me incentivaram de certa forma a investir em alguma coisa e fui em frente. E montei meu próprio escritório. Gostaria de ter um espaço bem maior, mas este aqui está excelente, porque a vida me ensinou que nem sempre o grande é o que resolve. O que vale é a satisfação de ter algo seu, realizar o seu sonho. E outra, isto aqui é a minha cara, participei de cada detalhe, desde a fundação”, contou em entrevista ao ET, que conheceu um pouco mais de sua vida.
Aprimorando os conhecimentos
Para Agenor, o tempo é sempre presente. Nunca é tarde para aprender. Tanto que, só depois dos 50 anos enfrentou um vestibular e já está concluindo o curso de Ciências Contábeis na UniAraxá. “São 40 anos! Já teria aposentado se não tivesse deixado de fazer as coisas da maneira certa, em vez de pensar só em ganhar dinheiro. Mas vá lá!! Como autônomo, trabalho há 20 anos e outros quase 20 como empregado. Iniciei num escritório de despachante, junto com o saudoso Paulo Roberto Zago, depois fui para o escritório rural com Dalmo Scalon, trabalhei com o Toninho, a Noélia, o Vilmar, enfim trabalhei com vários contadores e com cada um ia aprimorando na área. Depois, passei a fazer parceria com alguns outros contadores. Era um bico aqui, outro ali, até que aprendi a arte de mexer com a contabilidade da construção civil com o Vilmar, que trabalhava com a Creil, do Renato Crema. Vilmar foi meu professor nessa área, um ótimo professor e foi crescendo a vontade de ser independente...”
A experiência como bancário
Por um período de três anos, trabalhou no Banco Nacional, tempo que, segundo ele, lhe deu uma visão muito grande, um contato visual com o sistema, completado com outra experiência na Prefeitura. “Esses dois empregos me deram visão do que Sacramento precisava na área de Contabilidade, que é um mercado onde todos têm espaço, mas poucos têm chance de chegar a algum lugar, porque o cliente é exigente. Eu aprendi no banco, na prefeitura e trabalhando nesses escritórios todos, que se eu tivesse um diferencial, conseguiria chegar onde estou hoje, e graças a Deus consegui”.
O diferencial de Agenorzinho
“O diferencial do Agenor é ser o Agenor. Não ser aquele que só está atrás da mesa, não ser aquele que manda, mas aquele que participa. Eu participo de tudo o que acontece dentro das empresas clientes e mesmo das construções civis. Minha obrigação é mexer com papeis, mas estou sempre junto, visito a obra, oriento sobre cada uma das etapas de financiamentos. Sou um dos primeiros a trabalhar nesse ramo. Fiz cursos no Sebrae e trouxe a novidade para Sacramento em meados da década de 1990, quando eu já estava trabalhando como autônomo. A demanda era grande, o pessoal buscava informações e ninguém sabia dar, aproveitei a chance e corri atrás. Tive na época uma ajuda muito grande da Tarcila, do Banco do Brasil, que me orientou sobre os contatos. Aí fiz uma parceria com o Vilmar de Melo, que foi meu patrão, meu professor e investimos nessa área, até hoje trabalhamos nessa linha de ação”, conta.
A história de vida
Os estudos secundários de Agenor foram feitos na Escola Técnica de Contabilidade Maria Crema. “Sou de uma das últimas turmas do curso de contabilidade na cidade.Quando me formei já era casado, filhos crescidos. Parei o curso, quando me casei em 1977. Sou casado há 35 anos. Eu tinha 21 anos, projetos de casar e aí parei de estudar. Fui para o banco, onde fiquei três anos e só me formei mais tarde”, recorda.
Os trabalhos de Igreja
Desde a juventude, Agenor foi um fiel devoto da Igreja Católica. Engajado nas pastorais, amante da música, dos corais da igreja e, de repente, um vacilo: o alcoolismo. Mas Agenor superou e mostrou a si mesmo, à família e toda a sociedade, que o serhumano não está imune, ele pode cair e se levantar, basta ter vontade. “Como todo ser humano, a gente acha que é dono da verdade, dono de si e de tudo e essa foi uma etapa muito triste na minha vida com o alcoolismo. Foram cerca de quinze anos nessa vida, logo após sair do banco’’, reconhece, hoje engajado em vários movimentos.
Alcoolismo é uma doença
Fui para Franca e voltei achando que bebida para mim não seria diferença. Me tornei alcoólatra, mas nunca fui um alcoólatra que me entregasse ao vício, tinha meus sonhos, sabia que tudo tinha um momento. Eu tinha um histórico familiare há o histórico social, todo lugar, toda festa tem bebidas e se você não adere não pertence à galera, não é da turma. Nunca gostei de molecada, sempre estava com uma turma de pessoas mais velhas e com eles aprendi muita coisa, uma delas a ser boêmio. Mas eu achava que pararia quando quisesse,só que a coisa não é assim, a gente sempre quer mais. Alcoolismo é uma doença e não tem cura, por isso digo que sou alcoólatra, estou sóbrio, mas não posso descuidar. Não escondo de ninguém que sou alcoólatra”, afirma.
Resgatando a alegria de viver
Sereno, conta da internação na fazenda Bom Jesus, em Araxá, onde permaneceu até receber o diploma de graduado, o que para ele é um orgulho. “Tenho orgulho em ostentá-lo, porque lá comecei a conhecer uma pessoa: eu. Mas um eu voltado para aquilo que sempre fui, uma pessoa engajada, trabalhadora, com princípios cristãos. A partir do momento que me recuperei, resgatei tudo, família, trabalho, a alegria e a vontade de viver.
Os verdadeiros amigos...
“Não são aqueles do boteco, aqueles a quem pago bebida ou me pagam... Os verdadeiros amigos são aqueles que, conhecendo minha capacidade, abriram seus corações para me receber, para me incentivar. O Dedé e a Socorro, da Loja Central, me trataram como a um filho. Eles sentavam comigo e mostravam as coisas da vida, me orientaram a resgatar aquilo que eu era. Eu achava interessante, mas deixava pra lá, até queas coisas começaram a piorar, a ponto de começar a perder a família”.
Uma grande companheira
“Foi aí também que aprendi que eu não tenho uma esposa, tenho, na verdade, uma grande companheira, que confiou. Um dia ela chegou pra mim e disse: “Eu me casei com você, porque te conheci um homem, hoje você está aqui, amanhã você sai”. Tínhamos quatro filhos, nossa caçula tinha nove anos. Ela me fez enxergar algumas coisas que eu precisava ver e aí tomei uma decisão, fiz a escolha de buscar ajuda. Eu fui me internar por vontade própria. Esse livre arbítrio falta em muitos programas, que forçam as pessoas à internação. A família, os amigos têm que fazer com que a pessoa entenda a necessidade e queira se curar, não é impor, pegar à força e levar. Fui por minha vontade própria”.
Agenor e o trabalho no Nata
Enquanto Agenor estava internado, Dedé e um grupo de amigos organizavam na cidade uma forma de apoio para recebê-lo. “Diferentemente do que dizem do Nata - Núcleo de Apoio a Toxicômanos e Alcoólatras, ele surgiu na cidade por mim e para mim. Durante minha internação, Dedé se inteirou de toda a pedagogia e organização do Núcleo de Araxá.
E aqui fez tudo em silêncio, com o apoio do Zeti do Memeco (José Américo de Souza) e da Igreja. E quando saí da internação, na Fazendinha de Araxá, em 1993, eles já tinham tudo organizado e me entregaram para conduzi-lo, como uma forma de me manter em atividade no núcleo.
Fizemos uma reunião numa das salas da EE Afonso Pena Jr. com a presença do pessoal de Araxá e iniciamos os trabalhos. E o Nata está aí funcionando, orientando as famílias, as pessoas que precisam”.
O apoio da família
Neste mês de julho, Agenor foi convidado para abrir e fazer o encerramento do encontro que reunirá na Fazenda Bom Jesus, cerca de 500 graduados. “Sou o mais velho graduado da região, por isso me deram essa que considero uma grande honra. “Estou de pé, com a graça de Deus”, diz emocionado, ressaltando a importância do apoio da família para o recuperando. A minha sobriedade depende da distância do meu braço, eu não posso esquecer disso nunca. Com meu braço, com minha mão eu posso pegar o que quiser e levar `a minha boca, por isso é importante a participação constante nas reuniões, o contato consciente com Deus e o apoio constante da família. E é importante lembrar que as pessoas muitas vezes precisam de algo mais que comida, roupas, muitas vezes as pessoas precisam muito mais de apoio moral, que bens materiais...”
Agradeço a Deus...
Hoje, Agenor é um homem realizado na família e profissionalmente, engajado na Igreja com cânticos, liturgia e catequese, atuante nos trabalhos sociais. “Sou um homem feliz, casado com Maria das Graças Inácio Fraga e digo mais, a Graça é casada comigo há 35 anos, mas eu sou casado com ela há 20. A partir do momento que eu tomei consciência enquanto pessoa, enquanto ser humano é que passei realmente a valorizar os outros 15 anos que passamos juntos. Somos pais de quatro filhas, dois genros, três netos, a mais velha com 16 anos. E agora realizando este sonho tão sonhado. Agradeço a Deus por tudo na minha vida”.