Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Adiel quer trazer Narcóticos Anônimos para Sacramento

Edição n° 1314 - 15 Junho 2012

O jovem Adiel Gomes Borges, 29, está fazendo um trabalho para trazer para Sacramento a entidade Narcóticos Anônimos (N.A.), uma sociedade sem fins lucrativos, de homens e mulheres para quem as drogas se tornaram um problema maior. “Frequento a N.A. há mais de quatro anos em Uberaba ou Araxá. Somos adictos em recuperação, que nos reunimos regularmente para ajudarmos uns aos outros a nos mantermos limpos. Este é um programa de total abstinência de todas as drogas”, explica, destacando que não há nenhuma discriminação contra as pessoas que quiserem pertencer ao grupo. “O único requisito para ser membro da N.A. é o desejo de parar de usar a droga”, salienta. 

A ideia de Adiel  em trazer para a cidade a NA é para ajudar a si mesmo e aos outros, inclusive na prevenção. “As reuniões mais próximas por aqui são em Uberaba, numa das salas da Paróquia de Nossa Senhora D´Abadia, onde sempre participo,  e na Medalha Milagrosa, de quem recebem total apoio, e, também em Araxá. Mas a entidade está presente em Franca, Ribeirão Preto, no Brasil inteiro”, informa, adiantando que o que falta para o grupo de Uberaba vir implantar a N.A. em Sacramento é um local.

“- Conseguindo um espaço, os grupos de Uberaba e Araxá virão fazer o trabalho de divulgação na cidade, ou seja levar as informações às escolas, hospitais, presídios,  empresas e à população como um todo e  aí começaremos a trabalhar”, diz, ressaltando que Sacramento precisa de uma entidade dessas. “Assim como eu precisei, outras pessoas também precisam. Sacramento tem muitos adictos, este é o nome usado para denominar os usuários compulsivos de qualquer droga. Sacramento tem muita gente precisando de um trabalho desses, inclusive eu, razão principal de eu estar nesse empenho junto às autoridades para conseguir esse espaço”, justifica.

Segundo Adiel, as reuniões são abertas para as pessoas que têm o desejo de se abster. “A N.A. funciona como uma terapia de grupo, com todos falando a mesma linguagem. A N.A. não interessa com o quanto, quais ou quando a pessoa usou, quais eram os seus contatos, o que fez no passado, o quanto você tem ou deixa de ter; só se interessa pelo o que a pessoa quer fazer a respeito do seu problema e como podemos ajudar. O recém–chegado é a pessoa mais importante em qualquer reunião, porque só dando podemos manter o que temos. Aprendemos com nossa experiência coletiva e aqueles que continuam voltando regularmente às nossas reuniões mantêm-se limpos. Não prometemos curar ninguém, fazemos a nossa parte e o adicto entra com a sua vontade, tudo depende da pessoa: eu quero, eu posso, eu consigo”, explica. 

Adiel diz que já fez alguns contatos para conseguir um local para reuniões, mas sem êxito. Persistente, diz que não vai desistir.   “Vou correr atrás e vou conseguir este local”.

 

Testemunho de superação e vontade de vencer

 

O jovem Adiel mostra uma sinceridade que surpreende os repórteres, através de um testemunho de superação e de vontade de vencer. 

“- No próximo dia 17, completam dois anos que estou sóbrio, isto é, sem usar nada que altere meu humor, nenhum tipo de droga, inclusive o álcool. Há um ano e três meses estou fora da internação, já trabalhando. Não estou curado, porque a questão da droga não é cura. Por isso preciso me manter nas reuniões, porque sou um usuário compulsivo, num descuido posso volto à minha droga de preferência”, revela com sinceridade. 

De acordo com Adiel, ele iniciou nas drogas entre 15 e 16 anos, como todo mundo começa. “Bebidas  e mais bebidas, um baseado aqui outro ali, porque não falta quem tenha e te ofereça. Só que fui aumentando, buscando drogas mais pesadas e cheguei   ao fundo o poço, até que pedi ajuda pra minha família. Falei pra eles: 'Por favor, me ajudem que não consigo mais'. E aí minha família se mobilizou. Estive internado duas vezes, com eles sempre ali ao meu lado”, conta.

Afirma mais que o apoio da família é fundamental. “Sou muito agradecido a meus pais Wilson e Cleusa, e a meu irmão. Não fossem eles não sei se teria conseguido. Eu sei o mal que causei a eles, reconheço meu erro e sobretudo,  reconheço que tenho uma família maravilhosa, que não me abandonou na hora que eu mais precisava. Devo minha recuperação e eles e á minha força de vontade”, reconhece.

Segundo Adiel, o que o levou às drogas foi a curiosidade e até um pouco de falta de informação. “Havia uma propaganda na TV com os dizeres: 'Não use drogas'. Falava dos males da droga e no final batiam um carimbo que a TV chegava a balançar, eu assistia àquilo e ficava pensando...’’, recorda.

 Adiel reconhece que no início tudo é muito bom. ‘‘Só que aí a gente experimenta, usa e vê que não é nada daquilo. Se eu disser  que droga é ruim, estarei mentindo. O problema da droga é que é uma coisa boa, no início é delicioso, dá uma sensação diferente. No começo é um alívio imediato, só que depois não dá pra ficar sem ela. O problema da droga são as consequências que ela  traz. As consequências são tristes, horrorosas, terríveis. Cheguei num ponto que não  conseguia me olhar no espelho, mas não  conseguia parar”, conta. 

Adiel conheceu a N.A. numa das internações. “Eu sabia que tinha Cerea, NATA, Amor Exigente, mas nunca tive o interesse de procurar, porém eu vi que precisava encontrar uma solução, mudar meu estilo de vida e aí conheci essa sociedade sem fins lucrativos, Narcóticos Anônimos e fui recebido com  muito carinho”, afirma.

Por fim, reafirma sua intenção de trazer a N.A. para Sacramento. “Não quero trazer pra cá a N.A. como forma de me gabar, pra dar uma de  bonzinho; quero trazer a N.A., primeiro pra me ajudar, porque estou em recuperação e, também às pessoas que querem sair desse mundo terrível das drogas. Nessa batalha, primeiro é Deus e, segundo sou eu, isto é, primeiro tenho que cuidar de mim e aí virá a soma, a N.A. aqui vai ajudar outras pessoas que precisam”.