O missionário redentorista, Pe. Valdemar Beltrame, 85, esteve em Sacramento, dia 25 último, para presentear a cidade com um rico acervo filatélico e apresentar a coletânea de cópias ampliadas de suas pinturas que, conforme testamento, deverão ser doadas à cidade após a sua morte. O acervo foi entregue ao secretário de Turismo e Cultura, Amir Salomão Jacob, no Arquivo público, que terá a guarda dos selos e, futuramente, das pinturas.
Para o secretário, foi um feliz momento. “São seis mil selos temáticos, tudo isso será guardado no Arquivo Público e futuramente deverá ir para o museu da Imagem e do Som, que pretendemos criar. Essa coleção é uma riqueza extraordinária. E, ele está nos mostrando as cópias ampliadas de todas as sua pinturas que virão para Sacramento”, afirmou.
Pe. Beltrame faz ainda no seu testamento, lavrado no dia 13 de julho, uma recomendação, à Congregação do SSmo. Redentor: “Após a minha morte, deixo este álbum para o museu de Sacramento, aos cuidados de Amir Salomão Jacob”. Ao conhecer a vontade do sacerdote, o secretário disse ao ET que vai recolher esse álbum com todas as 80 pinturas de Pe. Beltrame, para fazer parte do acervo do museu da Imagem e do Som. “Até que este museu seja criado, esse álbum ficará como fonte de pesquisa no Arquivo Público, junto com a coleção filatélica. Ambos são de uma riqueza imensa para Sacramento”, reconheceu Salomão.
A paixão pelos selos
Padre Waldemar Beltrame não sabe exatamente quando começou a colecionar selos. “Eu não tinha me dado conta da quantidade de selos que reuni. Faz muitos anos, pelo fato de eu viajar muito e ter muitos amigos, recebia selos de vários países. Deve ter mais selos estrangeiros que do Brasil. Eu não me lembro bem quando comecei”, contou, narrando ao ET, como conseguiu colecionar tantos selos.
Lembra o missionário que a maior quantidade reunida de uma só vez ele conseguiu com o Prof. Jorge Fidelis Cordeiro. “Eu saia pedindo selos para as pessoas. Um dia, por acaso, falando com o Jorge Cordeiro, perguntei-lhe se tinha selos e ele então me chamou na sua casa. Para minha surpresa havia um saco, desses de farinha, branco, cheio de selos. Olha, quando recebi aquilo foi uma alegria. Quando eu vi aquele negócio fiquei louco, passei vários dias no paraíso e comecei a organizá-los”, disse.
O trabalho seguinte, segundo o sacerdote, foi organizar a coleção segundo temas. “Aí resolvi colocar numa pasta, divididos por temas: flores, esportes, natal, prédios, datas históricas, pessoas importantes, etc. A coleção de futebol é variadíssima. É bela, tem gente histórica aqui”, mostrou.
Questionado se sabia qual o selo mais antigo, Pe. Beltrame não soube responder. “Não tive essa curiosidade, é preciso avaliar um por um para descobrir, só sei que há selos muito antigos”, ressaltou, afirmando que vale a pena conhecer a coleção. “Mesmo as pessoas que não são especialistas em selos, vão gostar de ver. É uma atração”, ressaltou, mostrando centenas de selos guardados numa caixa, ainda não catalogados.
Padre Beltrame deixa com o secretário uma sugestão de ir completando a coleção: “Os correios incentivam muito a filatelia, existem casas especializadas, se vocês quiserem, podem comprar, não os lotes, mas os selos a partir da última data que está aqui. Para uma prefeitura não é demais continuar a coleção”, sugeriu, destacando que muita gente gostaria de ter a coleção.
A arte de trabalhar com as cores e pincéis
Falando de seu gosto pela pintura, o sacerdote disse que tudo começou ainda na infância. “Comecei a gostar da pintura ainda criança, com seis, sete anos. lá no Rio Grande do Sul, onde nasci, havia uma revista chamada Careta. E vinham nela as charges dos principais políticos nacionais e internacionais. E eu desenhava aqueles políticos, eu fazia caricaturas e era muito elogiado pelos adultos. Na escola, fiz alguns trabalhos e sempre que havia exposição dos trabalhos, eu recebia os méritos. No seminário fiz alguns desenhos para nossas revistas. Depois quando fiquei padre, parei. A formação era muito rígida e como havia tanto trabalho para um padre fazer, deixei de pintar. Às vezes, de vez em quanto, eu fazia alguma coisa, mas muito poucas. Simplesmente fui parando...”
Padre Beltrame parou de pintar, mas as cores e os pinceis estavam apenas adormecidos na sua vida de sacerdote e acordou quando chegou a Sacramento. “Vim para Sacramento e no início fiz alguma coisinha, mas um dia fiz o propósito de não pintar novamente. Eu achava que na minha idade, estudar, ler, rezar eram coisas mais importantes”, ponderou.
E foi graças a um pedido da artista plástica, Beatriz Almeida, que lhe pediu uma tela da padroeira da cidade, que Pe. Beltrame, voltou à pintura. “Na hora neguei, mas depois pensei em atendê-la e fui pintar com muito carinho, muito amor, a Nossa Senhora que ela pediu e eu fiquei impressionado de como a pintura, os pinceis, as cores deslizavam maravilhosamente na minha mão. Quando lhe entreguei a pintura, ela ficou comovida, emocionou-se. Aí eu pensei, por que não continuar a pintar?”, disse.
Conta o sacerdote que a decisão só foi tomada depois de conversar com algumas pessoas místicas que gostam de Nossa Senhora. “Elas aconselharam a continuar a pintar coisas sérias, de valor e eu então dei asas à arte”, revelou.
O encarte que futuramente virá para a cidade contém cópias ampliadas de suas obras que vão desde sacras, natureza, abstrato. Não me considero um pintor criativo, mas vejo as imagens na minha frente, pego o pincel e a arte vem”, explicou, revelando que a maior parte de suas obras estão com amigos. “Em Sacramento há muitas, eu fazia e presenteava as pessoas, doei praticamente todas e não são poucas, algumas nem sei pra quem dei”, destacou.
O carinho por Sacramento
Natural de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, nascido em 1926, descendente de italianos teve infância como qualquer outra criança da época. “Nasci numa família de classe média, papai trabalhava, possuía um comércio de secos e molhados e vivi como todas as crianças. Aos 12 anos fui para o seminário. O interessante é que, naquele tempo, seminarista não voltava pra casa, senão depois de ordenar. Férias eram no seminário, que era internato. No dia que parti, me despedi de meu irmão que tinha oito anos e era um menino, como eu também era um menino com apenas 12 anos. Quando voltei como padre, 12 anos depois não o reconheci. Meu irmão era moço. Eu não conhecia mais ninguém, nem amigos nem família. Aí, então decidi fazer a árvore genealógica da minha família, que existe até hoje”, recordou.
Como sacerdote, Pe. Beltrame iniciou os trabalhos no Rio Grande do Sul, na cidade de Carazinho, onde havia um seminário redentorista. De lá seguiu para as missões. “Fiquei muitos anos nas missões, viajei para muitos lugares no Brasil pregando missões. Depois me mandaram para trabalhar com retiros e cursos. Fiquei nessa atividade por 12 anos. Um belo dia, já chegado na idade, o diretor provincial me chamou e perguntou se eu queria ser professor. Eu assustei e falei: “Nossa Senhora! A criançada não quer gente velho pra professor”. Mas aí o diretor me tranqüilizou. “É justamente por isso, para ter alguém de mais idade junto com eles”. Então eu aceitei e vim para Sacramento. Morei em Sacramento no tempo dos padres, Vicente Andrade, que foi pároco de 1987 a 1991, e Pe. Dalbó. Eles foram embora, mas eu permaneci até o fechamento da casa”, recordou.
Nos anos em que viveu em Sacramento, Pe. Beltrame conquistou muitos amigos. “Gosto demais de Sacramento. Quando cheguei, éramos três padres, Vicente Dalbó eu. Eles ficaram na pastoral da Igreja e eu fiquei atendendo os doentes, famílias e falecidos. Eu ficava o dia inteiro por essa conta, andava o dia inteiro, há poucas casa em Sacramento que não visitei. Conheci muita gente, porque eu ia dar atenção nos momentos difíceis das pessoas, na doença, na morte, nos problemas familiares. Além disso, eu fazia também visitas de cortesia. Sempre gostei de conhecer pessoas e me tornei conhecido, por isso sempre que posso estou por aqui”, disse, posando com as mãos na cintura, gesto bem típico dele.
Padre Beltrame, que tem 73 anos de vida religiosa (desde o ingresso no seminário), comemorou no dia 14 de agosto, Dia de São Maximiliano Maria Kolbe, 60 anos de vida sacerdotal. “São 60 anos de padre, já se passou muito tempo”, concluiu, mostrando a cópia de uma obra. “Essa aqui dei para o José Alberto, são as três partes da pessoa: a esfera física, mental e espiritual. Eu vejo a pessoa com essas três dimensões”, contou.