Edição n° 1275 - 16 Setembro 2011
Um caminhão de coleta de lixo da cidade, dirigido por Gilmar Machado, 47, tombou na esquina da avenida Professor Rabelo com a rua Castro Alves, no sábado, 10, por volta das 11h30 e deixou um de seus ocupantes, José Ivan, que estava na plataforma da caçamba, em estado de coma.
De acordo com Gilmar, dois funcionários que trabalham no coletor, Marcio Alves e Márcio Rodrigues encontravam-se com ele e, na cabina, e José Ivan, na parte de trás. “Havíamos terminado de recolher o lixo do bairro Maria Rosa e estávamos indo para a usina de compostagem. Estava descendo a rua Prof. Rabelo, com o caminhão engrenado na terceira marcha, devagar como sempre dirigimos. De repente, ele ficou neutro, tudo que eu fazia pra engatar não respondia. Pisei no freio, deu um estalo e o caminhão desembestou. Eu gritei, mas não sei se o José Ivan ouviu. Buzinei, o pessoal lá perto tudo ouviu. Não sei porque ele não pulou”, conta.
Em poucos segundos, Gilmar disse que teve de tomar uma decisão angustiante, converter à esquerda, para a rua Castro Alves, ou descer reto. “Quando eu olhei pra baixo e vi aquele movimento na rua, carros, pessoas, casas... E acho que dado a minha experiência, pensei na hora em virar pra esquerda, porque havia ali poucas casas, uma rua reta e daria pra parar com segurança. Só que havia um carro parado à direita e não deu pra abrir mais a curva. Se eu batesse no carro iria direto pra cada do José Bento. Aí o caminhão bateu no canteiro central e quando fiz a curva ele tombou. Se estivesse vazia, acredito que não tombaria, mas estava a cheio de lixo, umas oito toneladas ou mais de lixo”, explica, consciente de que se tivesse tomado a decisão de descer para o centro da cidade, a tragédia seria bem maior.
Lamentando a gravidade do estado de José Ivan, Gilmar lembra que o companheiro era um dos recolhedores do lixo, que viaja na plataforma, atrás da carroceria. “Ele estava na parte de trás, onde tem o apoio para as mãos e os pés. As pessoas questionam porque ele não pulou. Eu não sei. Não sei se ele não ouviu ou se ficou com medo. A gente não sabe a reação das pessoas...”, comentou.
Gilmar lembra também a reação de outro colega cabina. “Um dos funcionários que estava comigo na cabine ficou estático. Ele ficou rígido... parado. É muito rápido”, explica, mostrando o ombro e pescoço inchados. Um dos que estavam na cabine quebrou um dedo da mão e outro teve um arranhão“. Foi um susto muito grande, pena que José Ivan não teve a mesma sorte. Eu saí do caminhão, ajudei os outros dois a saírem e quando fui atrás do José Ivan ele estava caído. Ele bateu com a cabeça e ficou lá caído...”, diz, ainda comovido com que aconteceu.
Motorista na Prefeitura há 19 anos, Gilmar informou que foi a primeira vez que viveu um drama assim. “Trabalho há 19 anos no caminhão de lixo e é a primeira vez que acontece uma coisa dessas, e, também, é a primeira vez que dá problema num caminhão. A gente fica muito triste com o colega, trabalhamos juntos há mais 15 anos. queria que todo mundo saísse bem. A gente é uma família, todo dia junto, eu não queria isso...”, lamenta, demonstrando muita tristeza.
De acordo com Gilmare, na análise de pessoas que presenciaram o acidente, se o caminhão não convertesse à esquerda, e seguisse avenida abaixo, aí a tragédia seria grande. “Se desce desembestado, ia fazer um estrago muito grande, ele vai pegando mais velocidade, chegaria lá na igreja. Tem gente que fala que ele pararia na parede da igreja. Ele não pararia, ia arrebentar tudo e passar direto, até tombar.
Gilmar informa que os caminhões de lixo, passam periodicamente por manutenção. “Na semana passada mesmo teve uma revisão”, afirmou. Sobre o que aconteceu com o freio, Gilmar disse que os mecânicos da Prefeitura confirmaram o defeito mecânico. “Os mecânicos abriram e viram que estourou a cuíca de freio, constataram que houve falha mecânica, uma fatalidade. Estou triste, abalado, mas na minha consciência, lamentando profundamente o que aconteceu com o Ivan, fiz o que tinha de ser feito”, ponderou.
Por pouco o chefe de transporte não testemunha o acidente
Márcio Luiz de Freitas, Marzola, chefe de transportes da Prefeitura, que tomou no momento as primeiras providências, não quis informar sobre o laudo técnico da ocorrência. “Essas informações técnicas ficam sob a responsabilidade da Prefeitura, sei que o jurídico já está tomando as providências para uma sindicância interna e vocês podem ver com eles”, disse, revelando apenas as providências que tomou no momento do acidente .
“- Coincidentemente, eu subia a Professor Rabelo e o caminhão descia. Ouvi um barulho, mas pensei que fosse rangido do engate da marcha. Quando virei na praça Idalides Milan Rezende, o Danylo, da loja na esquina, me ligou e disse: “Você acabou de passar e o caminhão de lixo tombou ali embaixo”. Contornei a praça e cheguei logo. A polícia chegou também e testemunhas já haviam acionado a ambulância. Tomei a providencia de acionar o secretário de Obras, onde está ligado o Transporte e avisei o prefeito”, disse.
De acordo com Marzola, logo após o BO, foi acionada a seguradora e a PM acionou também a polícia técnica para periciar caminhão. “A PM liberou a retirada do caminhão, justificando que a perícia faria depois o seu serviço. Para retirar o veículo do local, tivemos que usar dois guinchos da empresa Ribeiro e uma pá carregadeira da Prefeitura, pra trazer o caminhão carregado para o pátio. A perícia fez o seu trabalho no domingo, mas não falou com ninguém. Fez os trabalhos de praxe e foi embora. O laudo sai depois. O lixo só foi descarregado na segunda-feira”, disse mais.
Ainda segundo Marzola a família de José Ivan e os funcionários envolvidos estão recebendo toda assistência da PMS, através da assistente social Mirele Cristina da Matta; diretora da RH, Elisângela Duarte; técnica em segurança no Trabalho, Gislene dos Santos; psicóloga Roselaine Paula de Freitas Pinheiro, além do acompanhamento das agentes de saúde e apoio logístico de idas e vindas a Uberaba, onde Ivan está internado. “A gente lamenta, lamenta muito mesmo”, declarou.
Na terça-feira, 13, à tarde circulou pela cidade a notícia da morte de José Ivan, mas não passou de boato. O que se sabe é que seu estado é gravíssimo.