O professor de Educação Física, Geraldo Magela Manzan Carvalho, 20, emocionou-se numa das salas de aula da Escolinha Tio Tofe (APAE), na quinta-feira, 15, pela manhã, quando foi recebido com o ídolo pelos alunos da professora Maria do Carmo Ferreira (Kaká), que durante alguns meses trabalhou com os alunos entre 9 a 11 anos, a biografia, rica em fotos, de Geraldo desde bebê, do jovem professor e atleta, que dá exemplos pela sua postura na vida social, desportiva, religiosa e familiar. E o melhor, os baixinhos nem sonhavam quem era o ídolo. “Pra uns ele era padre, pra outros, era médico, jogador e hoje eles vão descobrir”, conta a Profa. Kaká, momentos antes de Geraldo entrar na sala.
O trabalho faz parte da conscientização dos alunos que precisam de uma referência na vida. “Vivemos num mundo em que há muitas drogas, violência, corrupção, falta de responsabilidades nas famílias, nos governos, em todas as esferas da sociedade; um mundo em que os maus estão se dando bem. O trabalhador luta, batalha a vida toda com honestidade e não consegue o que muito mau caráter consegue sem trabalhar. Nossos e muitos dos nossos alunos têm se espelhado nessas pessoas. Os ídolos deles são as pessoas que conseguem vencer pelo mal, os que se dão bem no mundo do crime, os que vencem sem trabalhar e têm carro bonito. Eles vêem que as pessoas honestas batalham e andam a pé. Eles falam isso pra nós. Então, decidimos criar um projeto, mostrando-lhes que eles podem ser felizes, ser reconhecidos na sociedade sem bebida, sem drogas, sem violência. Estamos mostrando que existem pessoas que conseguem vencer, se sobressair sem drogas, sem bebidas”, explica a diretora Raquel Aparecida Costa, que diz mais: “A Kaká pegou como o exemplo o jovem Geraldo, que hoje vem se revelar para os meninos que estão ansiosos”, explica.
De acordo com a diretora, há casos de alunos apaeanos que entram pro mundo das drogas. “Alguns não estão mais aqui e que estão envolvidos no mundo das drogas, infelizmente, essa é uma realidade. E não é porque eles têm deficiência mental que estão livres, muito pelo contrário, eles são mais usados no tráfico. Temos casos de alunos que pela inocência, pela falta de malícia, eram usados pra entregar droga e a nós cabe orientar, preparar para a vida, mostrar as realidades e mostramos para onde o caminho das drogas os levará, mostramos exemplos do final dessas pessoas” explica.
Para a professora Kaká, os alunos estão se projetando num mundo irreal, um mundo fictício e, muitas vezes, perigoso. “Eles se espelham no que vêem na TV, por exemplo, muitos deles querem ser mutantes (da novela da Record). Para os nossos alunos, eles, os 'mutantes' não sentem dor, não sofrem, se transformam pra se defender, outros se transformam pra fazer o mal (Liga do Mal e Liga do Bem). E outros são os ídolos deles”, conta.
“Então – prossegue - a gente precisa trabalhar um referencial mais próximo, que eles possam ver, tocar e sentir e, sobretudo entenderem que essas pessoas existem e é possível a gente vencer e ser do bem. Sempre mostramos para os alunos que na vida há dois caminhos, o do bem e o do mal e usamos a frase: 'Você faz suas escolhas, suas escolhas fazem você'. Eu pensei no Prof. Geraldo que está sempre em contato com crianças em três escolas para ser referência para eles. E o resultado final foi excelente, porque, a expectativa deles era grande pra conhecer uma pessoas que há mês eles conhecem só por fatos e fotos”.
A Apae conta com atualmente 151 alunos que recebem atendimento pedagógico e clínico.
Geraldo Magela: ‘posso ser referência, ídolo não’
Falando da visita e do sentimento do momento, Geraldo explica que não se vê como ídolo. “É complicado esse negócio de ídolo, digamos que eu seja um referência, uma pequena referência em relação às tantas que eles devem ter e que, infelizmente, sabemos que nem sempre são boas”, afirma e acrescenta: “Eu fico até assustado com isso, aliás, essa escolha nos impõe mais responsabilidade. Mas fiquei feliz”, reconhece.
E falando das referências que teve na vida, diz que sua primeira e maior referência são os meus pais, Sandra e Evaldo. “Meus pais sempre estiveram muito presentes. Depois a gente vai crescendo e tive algumas referências no esporte, o Oscar Schimidt, no basquete; o Tandy, no vôlei, que sempre foram grandes exemplos de pessoas dentro e fora das quadras. E tive outros bons ídolos e o maior deles, Jesus Cristo. Aprendi que temos que nos espelhar Nele em tudo e o restante vem por acréscimo”.
Geraldo se assustou ao chegar à sala e ver suas fotos de bebê, de aniversários, nos primeiros estudos, na aula de música e de natação, na catequese, na coroação, nas festas, atividades de adolescentes, no carnaval vestido de mulher, e suas fotos de formatura. “Meu Deus, essas fotos aqui!!!”. E numa roda com a criançada falou de maneira informal do valor da vida, dos perigos que nos rondam, enfim mostrar que no importa onde estejamos os perigos estão lá, mas que devemos saber nos defender”, resumiu.