Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Celso Brait curtindo a aposentadoria...

Edição n° 1237 - 24 Dezembro 2010

O subtenente Celso Aparecido Brait, 50, comandante do Grupo da Polícia Ambiental de Sacramento, é o mais nosso aposentado da Policia Militar  de Minas Gerais, desde o dia 9. E já está de malas prontas para se mudar para Uberaba, onde reside o filho,  Celso Brait Neto, 23.  Junto com a esposa Cleides, Brait quer estar mais perto dos filhos, sobretudo de Camila, 22, atleta líbero da seleção brasileira que joga no Osasco (SP), quem sabe até mesmo como seu empresário. Brait está feliz e com a certeza do dever cumprido, lamenta deixar a cidade que o acolheu tão bem há 18 anos, mas garante que não vai perder a oportunidade de visitar a cidade e os amigos. 

 

Quem é Brait


Celso Aparecido Brait, 50, é natural de Colina (SP), filho  de Celso  Brait e  Zulmira de Souza Brait. O mais velho dos quatro irmãos: Celso, João Ricardo, Marlene e Marcos, todos, pais, irmãos e sobrinhos,  residentes em Colina, inclusive o avô, João Augusto,  com 98 anos. Em Colina morou e estudou até os 17 anos, quando mudou-se para Mirassol para cursar a Escola Técnica Agrícola. “O Colégio Agrícola oferecia na época o equivalente ao Ensino Médio, que era a febre no momento. Mas eu já pensava em sair de Colina, cidade pequena, carente de frentes de trabalho, a vida difícil, eu pensava em sair para trabalhar.  Mas naquela época, ganhar a vida com um curso técnico era impossível. Depois de formado fui trabalhar numa usina de açúcar e álcool em Mococa (SP),  e foi um tempo difícil, menino novo, fora de casa, longe dos amigos, namorada, serviço muito pesado e ganhava o salário mínimo. Era o salário que eles ofereciam para o técnico agrícola, profissão que não era valorizada como hoje...”

 

O ingresso na Policia Militar de MG


Brait tem parentes na cidade de Frutal e sempre, a cada dois meses, acompanhava a família à cidade mineira a passeio. E foi lá que conheceu a esposa Cleides. E foi também em Frutal, que ele se inscreveu para o concurso da PM. “Em 1981, andando pela cidade, vi o anúncio do concurso para a Polícia Florestal. Meu primo, Valdir, também de Frutal, e eu nos inscrevemos. Mas isso do nada, porque não temos tradição,  ninguém da família fora policial. Acho que foi oportunismo, coisa de rapaz, que estava correndo atrás de alguma coisa e o concurso nos chamou a atenção. O interessante é que no dia da prova, fomos de Frutal para Uberaba, 40 rapazes, num ônibus, e desses,  apenas Valdir e eu, dois paulistas inscritos em Frutal, fomos aprovados. Foi um susto prá todo mundo, porque ninguém nos imaginava na Polícia, nem eu. Nunca havia pensado nisso. No ano seguinte, 15 de junho, ingressamos em Bom Despacho e 20 anos se passaram... Ingressei no batalhão Florestal, fizemos o curso e retornei para servir em Frutal. No início de  1982, mudei para Uberlândia, onde fiz concurso para cabo, sempre fui atrás de cursos, concursos...”. 

 

A Trajetória  


Celso Brait aposenta-se como subtenente e passa para a reserva como  2º Tenente e se surpreende ao olhar para  trás, os primeiros anos “Tínhamos uma vida muito boa em Frutal, mas abri mãos de  lá para galgar na carreira. Depois do curso de cabo, fiquei um tempo em Uberlândia, mas eu precisava voltar a Frutal para casar. Aí, pedi transferência para o Prata, cidade a 100 k de Frutal, e, em  maio de 1986,  Cleides e eu nos casamos. Em Frutal, permaneci até 1989 e lá nasceram os meninos Celso e Camila. Em 1989, segui para Belo Horizonte para o concurso de sargento onde fiquei até dezembro e voltei para Uberlândia, onde trabalhei quatro meses. Uberlândia tinha uma Cia da Polícia Florestal, mas naquele mesmo ano extinguiu-se aquele modelo. A partir de janeiro de 1990, criou-se um novo modelo, com a implantação de sedes de companhias em determinadas cidades. Eu já era conhecido do Capitão Saulo e ele me convidou para continuar na Cia de Uberlândia e eu fiquei mais três anos. 

 

Chegada a Sacramento


O subtenente Celso Aparecido Brait assumiu o Grupo de Polícia Florestal de Sacramento em março de 1993, que havia sido instalado em meados de 1978.  Diz hoje o comandante que o início não foi fácil. “Não tínhamos veículos, nem barcos e não era só aqui, a precariedade era muito grande em todo o estado. Não tínhamos nem como fazer planejamento de operações. Tínhamos o mínimo do mínimo.  Uma vez, no início, ainda em Frutal, cheguei a pensar em sair da polícia e fazer outra coisa, mas depois mudei de ideia e logo começaram as mudanças. Ao longo desses 20 anos, houve uma evolução muito grande em todos os aspectos, a instituição mudou muito, na valorização humana do profissional, na estrutura logística, inclusive em termos de leis. A evolução foi grande em todos os aspectos. Hoje, na minha opinião, acho que ainda faltam pessoas. O quadro está defasado, muita gente está aposentando e os que entram não suprem as faltas”. 

 

Aposentadoria aos 50 anos


Brait tem a sensação do dever cumprido, mas diferentemente da maioria dos brasileiros, aposentou-se aos 50 anos e explica como isso ocorre. “Por lei, aposentamos com 30 anos de serviços, mas há um beneficio para os militares. Devemos ter no mínimo 20 anos na polícia e os outros dez anos, podem vir da iniciativa privada, por isso a aposentadoria aos 50, há policiais  aposentando até com menos idade. Fomos beneficiados pela Lei complementar 109, por ter tempo de INSS, férias prêmios  que não gozei e o arredondamento, tudo isso foi levado em conta”, justifica. 

De acordo com Brait ele poderia continuar trabalhando, após a aposentadoria. “Essa lei é antiga, após a aposentadoria, após a publicação da transferência para a inatividade, podemos ser reconvocados com contrato anual, até a idade máxima de 60 anos”, explica, revelando inclusive que já recebeu convites, mas ainda não pensou nisso. “Major  Aquino, nosso comandante, já conversou comigo umas três vezes a esse respeito, mas não me decidi. Não vou dizer que não farei isso, mas não me vejo daqui a seis meses, um ano novamente na ativa. Isso não quer dizer que isso não possa acontecer, mas ainda não pensei nisso. Minha filha Camila sente muita falta da gente, acho que é hora de a gente estar com ela, pretendemos estar mais perto dela.  Estou satisfeito por ter chegado até aqui e feliz por ter podido  fazer alguma coisa de útil, para Sacramento, Conquista, nesses quase 18 anos”.

 

Desafios vencidos


Ao longo desses 20 anos na PMMA, muitos desafios foram enfrentados, muitos obstáculos superados e a principal dificuldade foi enfrentar a falta de conscientização, a resistência no cumprimento das leis. “A falta de educação ambiental foi um dos nossos maiores desafios. A ferramenta mais eficaz nas questões ambientais. Avançou muito, mas não foi fácil, porque trabalhamos com uma geração de pessoas com a educação e uma outra, os mais teimosos, com  educação e repressão, devido à exploração inadequada do meio ambiente. Para nós não é fácil,  porque não trabalhamos sozinhos, há todo um sistema a ser obedecido, mas melhorou muito, com o trabalho dos promotores que são também curadores do meio ambiente”, diz.

 

Fez o melhor de si


Nesses 20 anos de vida militar, Celso Brait afirma ao aposentar-se que fez o melhor de si. “Na minha avaliação, no compromisso com minha própria consciência, procurei fazer o melhor na minha função, dar o melhor de mim em todos os lugares porque passei, mesmo que não estivesse satisfeito com alguma coisa, sempre procurei trabalhar com responsabilidade e comprometimento. A insatisfação com alguma coisa faz parte do ser humano, mas a gente aprende a superar”, salienta, destacando que não pensava ficar tanto tempo em Sacramento. “Quando ingressei na Policia, não tinha idéia do que seria e nunca pensei que ficaria tanto tempo num lugar como fiquei em Sacramento. Cheguei aqui numa época  de muitas instabilidades na própria policia militar.  Tivemos muitos problemas, pelo fato de a  nossa atividade ser complexa, porque além de adotar a conduta operacional, temos que aplicar as multas administrativas e ninguém gosta de ser multado. Foi preciso muita sabedoria para administrar isso. Não é muito fácil mudar a cabeça das pessoas, mudar comportamento, mudar atitudes”, avalia.

 

Polícia Ambiental ajudou o meio ambiente


De acordo com Brait, a Polícia Meio Ambiente, antes chamada de Policia Florestal, ganhou corpo no país a partir de 1965. Em Minas, no ano seguinte, portanto a Polícia Ambiental mineira tem 44 anos de existência. Brait reconhece que, se não fosse a Policia Ambiental, a depredação no país será bem maior do que é hoje. “Eu tenho a certeza de uma coisa, que a existência dessa atividade do policiamento ambiental,  exercido pelas polícias militares em todo o Brasil, contribuiu muito, de forma positiva para a preservação ambiental, juntamente com os órgãos ambientais que foram sendo criados, porque a PMMA não trabalha sozinha, é um conjunto de ações. Eu tenho certeza de que impedimos muito estrago, nesses anos em que estive na polícia ambiental muito se fez. Creio que, se não houvesse esse segmento de polícia no país a situação estiaria bem pior”. 

 

20 anos sem sequelas

 

Nesses 20 anos na PMMA, nenhum acidente, nenhuma lesão ou ferimento grave, nenhuma ataque de animal ou de pessoas. 'Nunca disparei uma arma de fogo, nunca fui ferido, sempre procurei aplicar aquilo que aprendi nos treinamentos”, recorda, revelando e tecendo elogios ao seu substituto,  sargento Denilson Antonio Caldeira, que  assume a vaga a partir de janeiro. “Sempre nos preocupamos com quem viria para cá, que tomasse gosto pela cidade, como nós tomamos, foram quase 18 anos aqui. Mas sempre me preocupei, não com alguém, não digo que dê continuidade, mas alguém que  faça algo melhor que aquilo que conseguimos fazer. Mudanças sempre são benéficas. Sargento Caldeira é uma pessoa muito competente, que poderá fazer muito pela cidade”, diz Brait.

 

Cidadão sacramentano

 

O frutalense Celso Aparecido Brait recebeu da Câmara Municipal o título de Cidadão Honorário  Sacrameno, em 1998. Ao se despedir, deixa a Polícia Ambiental garantindo que cumpriu muito bem o seu trabalho e honrou a Polícia Militar de Minas Gerais. “Procurei dar o melhor de mim e foi, sobretudo, um aprendizado, conhecer pessoas. Começaria tudo novamente se preciso fosse. Voltaria a morar em Sacramento. Nossa mudança para Uberaba, não é uma ideia isolada, mas de família, foi uma decisão conjunta, mas a casa fica aqui, vamos estar sempre aqui. Temos muitos amigos na cidade, mas vejo que nesse momento na vida, aposentado, dá prá mudar e pensar em alguma coisa e esperar os netos”, diz.

 

Mensagem final 


Finalizando, Brait deixa uma mensagem aos colegas de trabalho. “Na festa de despedida no sábado, 11, com a presença de colegas de outras cidades, falei a todos, da minha satisfação, pedi a continuidade do trabalho e que eles façam o que não conseguimos. Ressaltei a importância do compromisso e responsabilidade no trabalho, o amor à profissão, que é o que nos dá o sustento para criarmos nossas famílias. Que deem valor á profissão, valorizem a Polícia Militar... Ou seja, que vistam sempre a camisa da PMMG”, diz, expressando os seus agradecimentos a todos. “Para Sacramento, os amigos deixo o nosso carinho, o nossos respeito, consideração e um agradecimento de coração por tudo o que  a cidade nos deu. fomos felizes aqui, por isso vamos estar sempre no ir e vir. Camila já falou que o Carnaval será aqui... E, desde já desejo a todos boas festas no Natal e Ano Novo”, conclui.