Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

As Personalidades do Ano de 2010

Edição n° 1239 - 07 Janeiro 2011

 

Anualmente, desde 1976, o ET escolhe as Personalidades do Ano, pessoas que se destacam nos seus diversos campos de atuação, quer empresarial, social ou filantrópico ... As personalidades de 2010 são três cidadãos que alcançaram sua aposentadoria depois de longos anos de serviços dedicados a um incessante trabalho em suas respectivas atividades.

Podemos dizer que foram exemplos de cidadãos dignos, honestos e que servem de exemplo para todos nós pela perseverança e entusiasmo em seu trabalho. São eles, Antônio Clarete Zandonaide, que comemorou em 2010, cinco décadas de trabalho  ligado a empresa Zandonaide Materias de Construção; o Cabo PM, César Donizete, ou o César da Beija-Flor; e o médico Francisco Olívio Bereta, nosso Dr. Bereta. Veja abaixo, um resumo biográfico de nossos homenageados. 

 

Claret Zandonaidi

 

Aos 70 anos, o empresário Antônio Clarete Zandonaide tem uma história de vida dedicada ao trabalho. São  50 de trabalho empresarial na cidade, a partir da fundação da loja Zandonaide Materiais para Construção, que começou em 21 de outubro de 1960, junto com o pai Pedro Zandonaide (Olimpia Fornazier Zandonaide). 

Dois homens com coragem, muita garra e sonhos. O pai, pedreiro e o filho, Clarete, menino ainda como servente, construíram várias casas na cidade pelos idos de 1950.  Mas ambos com um forte tino empresarial começaram o negócio de vendas de telhas e tijolos no bairro do Rosário, em meados de 1958.

Aos poucos, o negócio foi ampliando além de telhas e tijolos, vendiam também madeira, manilha e cimento... Clarete sai de Sacramento e, durante três anos, conclui, em Muzambinho, o curso de Mestria Agrícola. Retorna a Sacramento e houve uma tentativa de diversificar os negócios: Pedro compra para o filho o Bar do Langerton Feliciano de Deus (1960), afinal fora ali o primeiro emprego de Clarete, onde juntara o  dinheiro pra comprar a primeira botina, aos sete anos de idade. 

Mas logo, Langerton que fora para Brasília e o negócio foi, digamos, desfeito, com uma compensação monetária empregada na compra de Clanter Scalon um antigo prédio na rua Major Lima,  onde hoje está instalada a cinquentenária loja, Zandonaide Materiais de Construção Ltda. Ali começou a sociedade  entre pai e filho, Pedro e Clarete.  “Eram  duas portinhas na frente, onde é nossa garagem, hoje. Começamos aqui com os materiais de construção que já trabalhávamos, mais uns galõezinhos de tinta na prateleira e, na porta da loja, tínhamos uma charrete velha para entrega”, recordou Clarete.

Em 1961, os irmãos entraram na sociedade e a loja ganha outra razão social: Pedro Zandonaide & Cia Ltda. Em 1972, os irmãos Arnaldo (de saudosa memória), José Luiz, Pedrinho e Clarete inauguram, em Uberaba, a Zandonaide Materiais  para Construção. Em 1984, a sociedade é desfeita na loja de Sacramento, quando Clarete e a esposa Tereza Gerolim assumem a loja, comprando as cotas dos irmãos.

  Em 986, o sobradinho deu lugar ao imponente prédio  de 5 mil metros quadrados, com a loja e o depósito.  Em 1993, os filhos Claretinho, Alexandre e Beatriz passam a fazer parte do quadro funcional, como registrados, porque há muito já trabalhavam na loja. No ano seguinte, 1994, por questões administrativas, a Zandonaide de Sacramento deixa de fazer parte da Zandonaide de Uberaba.

Em 2010, a Zandonaide Materiais para Construção completou 50 anos com uma grande festa. Afinal são 50 anos de trabalho, de superação de crises financeiras, de sobrevida à concorrência, de dificuldades pessoais, inclusive,  mas foram momentos em que Clarete contou com a compreensão do pai, da esposa e dos filhos.  Mas foram, sobretudo, a  persistência e a coragem as responsáveis por esses 50 anos.

Entregando a administração da loja para a esposa e os filhos, Clarete iniciou a criação de cavalos mangalarga marchador, destacando-se hoje como um dos principais empresários do ramo no país, com o Haras Zandonaide. Atividade a que se dedica com o mesmo amor dedicado à loja.  Por toda essa jornada de trabalho, Clarete é Personalidade do Ano de 2010. 


Cesar Donizetti
O cabo PM César Donizete de Oliveira tem hoje 50 anos, dos quais 30 foram dedicados à Polícia Militar, com uma folha de serviços irrepreensível, quase toda ela vivida em Sacramento, onde era conhecido como  César Policial, César do Futsal,  César da Mocidade, César do  Carnaval ou Cesar da Beija-Flor. 
E foi em Patos de Minas, sua cidade natal, que conheceu sua esposa, que é sacramentana, a carnavalesca  Rosemeire Idualte, com quem se casou  há 23 anos e juntos  criaram  os filhos Gabrielly, 18, Nayan, 16 e Naíne,  4. Aqui nasceu também o neto Antony, de nove meses, que curte a beça a corujice do avô.  
Com um ano de idade, Cesar  foi para a companhia dos pais adotivos, Virgílio José de Santana e Sidônia Braga da Silva, assim como os outros cinco irmãos biológicos, mas que hoje mantém estreitos laços. Cada um dos irmãos foi para um lado, mas Cesar continuou em Patos de Minas, onde cursou as series iniciais do Ensino Fundamental e aos 18 anos, após  servir no  Tiro de  Guerra, ingressou na  Policia Militar em 1979, quatro anos depois da instalação naquela cidade do Batalhão da Polícia Militar.
“ Primeiro, trabalhei na obra de construção do Batalhão, depois fiz o  curso de soldado e assim que concluí fui mandado pra Sacramento pra ficar três meses  e nunca mais saí. Chegamos juntos, na época, Sargento Geraldo, os soldados Carlos,  Gislaine e eu, tendo como comandante, o cabo Luzmar. Éramos quatro soldados e o comandante”, recorda.
“A vida do soldado na gloriosa Polícia Mineira, com sua longa força de serviços prestados à nação - conta Cesar - era bem mais dura do que hoje. Pouco contingente, um fardamento inapropriado para nosso clima tropical, com manga comprida e gravata, quepe pesado, revólveres cal. 38 com cinco, seis munições, salário baixo, mas nunca deixou de se primar de homens destemidos para todas as situações”, diz, recordando que a guarda da antiga cadeia, com 60, 70 presos, era feita por quatro soldados, um pra cada 12 horas de trabalho, enquanto hoje são sete agentes da Suapi, por turno, equipamentos e armas de última geração, toda informatizada... 
“- Hoje a eficiência é muito grande – afirma mais - a tecnologia ajudou demais em todos os aspectos. Veja o quartel que será inaugurado aqui em Sacramento, será um dos mais modernos do interior de Minas”. 
 O soldado Cesar, aposentado recentemente com o reconhecimento da população pelo seu relacionamento com a população, e mesmo vivendo situações de risco iminente, própria da profissão, foi sempre tido como um soldado 'mais humano e pacificador'. “Eu sempre acreditei na recuperação do ser humano, independente do que houvesse e me sensibilizava com o preso, a família. Sempre tratei todos da mesma maneira, nunca gostei de abuso de poder, sempre entendi que o meu direito vai até onde começa o do outro. Acredito que as pessoas possam se recuperar, embora as estatísticas mostrem o contrário...”, diz em entrevista ao ET, recordando o seu tempo vivido como policial militar.l
Paralelamente ao trabalho na Polícia, César envolveu-se com várias atividades sociais na cidade. Mas em especial no futsal, quando, com outros técnicos, no início dos anos 80, criou o Copão de Futsal de Sacramento. “Tudo começou entre nós mesmos, os times que treinavam no Marquezinho, o Norberto Polastrini, o Jair da Feirinha, sem nenhuma interferência da Prefeitura. Só poucos anos depois, no governo do Dídia, com o Polaco na coordenação, que a secretaria de Esportes assumiu”, recorda, informando que o time da Polícia Militar conquistou o primeiro troféu do Copão.
Mas Cesar, antes de organizar o primeiro Copão já estava, digamos, de 'namoro' com o carnaval, ao freqüentar os ensaios da bateria da Mocidade Alegre, do então presidente Avelu Silvas, que conquistou vários títulos.  “Fiquei encantado de ver o Silvio Pereira tocar o repelique e continuei a ir nos ensaios, até qua alguns anos depois assumi a presidência da Escola.  Fiquei muitos anos na Mocidade,  mas um dia não deu certo mais e fundamos a Beija Flor Sacramentana, em 1995, que nasceu com dissidentes da Mocidade. Assim como a Operários nasceu com os dissidentes da 13 de Maio, Azor e Odorico; o Nivaldo, da Beija-Flor, saiu e fundou a Acadêmicos do Borá...
 E hoje, com orgulho, pousa diante de três dezenas de troféus conquistados com sua Beija Flor.
“Além da gloriosa Polícia Militar, Carnaval sempre foi minha paixão, embora as dificuldades sejam muitas...”. 
Pelo serviço prestado à cidade como policial, pelo trabalho no esporte e pelas inovações que trouxe para o Carnaval da cidade, Cesar é personalidade do Ano 2010. 
Francisco Bereta
Francisco Olivio Bereta, o Dr. Bereta é uma figura peculiar na cidade. Diariamente, por mais de 30 anos, naqueles tempos em que os médicos usavam impecáveis roupas brancas, foi um ir e vir pelas ruas centrais rumo à Santa Casa e de volta ao consultório sempre à disposição dos  pacientes. Cada bebê que nascia,  lá estava ele, sempre solícito, talvez confirmando hoje que a maior parte da geração  que hoje está na faixa dos 30 anos,  passou pelas suas mãos. 
Durante 25 anos, Dr. Bereta, filho do comerciante José Bereta Filho e Jovina Vieira Bereta,  foi o único pediatra da cidade. Francano de nascimento, após fazer os primeiros estudos em Sacramento, onde residia, completou na sua cidade natal o ensino médio. Ingressou na Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, onde cursou Medicina, especialista em Pediatria, e retornou à cidade. Casado com a analista clínica, Sumair Regina Singer Aust Bereta, o casal tem duas filhas, Francelize e Francianne e dois netos, Helena e Heitor. 
Assim, a partir dos anos 1980  aqui chegou para inaugurar um novo tempo na medicina infantil na cidade e na Santa Casa.  “Minha história aqui é longa, afinal foram 30 anos e pudemos acompanhar a evolução da Santa Casa em si, assim como a evolução da saúde pública no país. Quando cheguei aqui era o INPS e  a saúde pública não tinha o que tem hoje. Para agravar o problema, a população da  zona rural era muito grande, não havia estradas e eram pessoas praticamente desassistidas”, lembrou Dr. Bereta, em recente entrevista ao ET, quando foi homenageado pela Santa Casa, ao inaugurar uma Brinquedoteca com o seu nome.
 Conta o médico que chegavam crianças em estados gravíssimos na Santa Casa. “Nessa época, era só eu no atendimento. Com isso o  desgaste foi muito grande e houve uma grande soma de investimentos em paciência, dedicação e sacrifício de parte a parte, tanto minha como do hospital, que tentava amenizar.  Os outros médicos tinham os pacientes deles, mas quem atendia os pacientes da saúde pública era apenas eu, isso durante 25 anos. Depois, foram chegando outros, nos últimos cinco anos e fico feliz em ver que tanta coisa mudou na atenção à saúde da criança. Mas se eu fizer um balanço, hoje,  acredito que posso deitar e dormir com a consciência do dever cumprido, dentro das possibilidades, da minha parte dei o máximo”, diz convicto o médico que se aposentou dos serviços da Santa Casa.
Seu amor à profissão é imenso, sua atenção e preocupação com a saúde infantil são constantes por  acreditar  que  “a criança que não receber toda a dedicação material e afetiva,  proteção, no futuro ela será problema para a sociedade”. E embora reconheça que a saúde nesses 30 anos andou a passos largos, entende que muito ainda há que ser feito. 
Costuma dizer que “o pediatra é advogado das crianças... É preciso que haja ações conjuntas voltadas para a criança”. E nesse sentido é um crítico dos projetos voltados para a criança, na comunidade. “Faltam na cidade  projetos integrados para a criança. A saúde da criança não é só ela estar alimentada, higienizada e fisicamente bem. Ela precisa de mais, precisa  de bem estar-social, mental e ambiental”. 
Para Bereta o problema das famílias com as drogas, o alcoolismo, a delinqüência, a violência, é gravíssimo e afeta as crianças. “Se as crianças continuarem crescendo como estão crescendo sem as atenções voltadas para elas, qual será o futuro delas?”, questiona, afirmando nas entrelinhas que só o médico não vai curá-las. E suas palavras são a confirmação de sua paixão pela profissão e pelas crianças e que o faz comparável a um médico do corpo e da alma. E que o faz Personalidade do Ano de 2010.