José Alberto Bougleux, 65, o Buglê, mais conhecido atualmente como Beto, esteve em visita a Sacramento na última semana, ao lado da esposa Valnice, a convite da amiga da família, a sacramentana, Mariângela França Cunha, residente em Brasília. Recebeu o ET na casas do casal Marilene França e Pavine para uma entrevista.
Buglê pode até ser desconhecido pelas atuais gerações, mas os mais velhos, sobretudo os torcedores do Atlético Mineiro, Santos e Vasco sabem bem quem ele é. Magno, por exemplo, sabe. Recordando o encontro, ao ser apresentado a Magno, como o jogador que fez o primeiro e único gol no Mineirão, exatamente no dia 5 de setembro de 1965, quando o estádio foi inaugurado, em um jogo entre a seleção mineira e o River Plate, Magno, logo disse: “Com todo o respeito, não foi, não! Eu estive no jogo da inauguração. Quem fez o gol foi o Buglê”. E José Alberto revelou: “Eu sou o Buglê”, contam os amigos. Foi um riso só e o “dá cá um abraço”. Isso acontece, Magno, afinal já se passaram 47 anos.
Na entrevista, Buglê, que jogava como meio de campo mais ofensivo, recorda o gol: “Aos sete minutos do segundo tempo, depois de o Delén, do River Plate, perder um pênalti, aconteceu a jogada, que começou com um lançamento do ponta direita. Ele cruzou, o goleiro saiu, foi rebater, furou e eu fiquei sozinho”, contou, lembrando mais: “Eu era camisa 8, a 10 era do Dirceu Lopes”, disse, simpaticamente.
O nome 'Buglê' é um aportuguesado do francês 'Bougleux. “Sou de descendência francesa e o sobrenome 'Bougleux' era muito difícil para as pessoas lerem e escreverem. Resolvi aportuguesar o nome, que tem o mesmo som”, conta entre risos.
José Alberto Bugleux nasceu em São Gotardo, aqui no Alto Paranaiba. “Joguei durante 14 anos e hoje sou aposentado, com salário mínimo (risos). Jogador nenhum consegue jogar 25 anos para aposentar. Na minha época, jogador já era bem remunerado, mas era tudo entre luvas e ordenado. Dinheiro reunido a gente nunca tinha, porque os pagamentos 'mensais' eram de 90 dias, 120 dias... Os clubes não tinha patrocínio, viviam da renda do público nos estádios”, diz.
A trajetória como meio-campo por 14 anos
Natural de São Gotardo, Buglê foi revelado nas categorias de base do Atlético Mineiro. O jogador participou do elenco profissional do clube alvinegro entre as temporadas de 1963 a 1966. Com a camisa alvinegra fez 85 jogos e marcou 15 gols, um deles o primeiro gol da história do Mineirão, quando no dia 5 de setembro de 1965, atuou pela Seleção Mineira em um amistoso contra o River Plate e marcou o único gol daquela partida, aos sete minutos do segundo tempo.
A seleção mineira jogou com Fábio; Canindé, Bueno, Grapete e Décio Teixeira; Buglê, Dirceu Lopes e Tostão; Wilson Almeida (Geraldo, depois Noventa), Silvestre (Jair Bala) e Tião. O River jogou com Gatti; Sainz, Ramos Delgado, Crispo e Cap (Civica); Matosas, Sarnari e Delém; Cubilla (Lallana), Artime (Solari) e Más. O público foi de 73.201 pagantes.
Saindo do Atlético, Buglê foi para o Santos, onde ficou dois anos (1967/1968). “Fiz parte da equipe do Santos na era Pelé, época em que conquistamos dois campeonatos paulista consecutivos (1967/1968)”, recorda.
O terceiro grande clube foi o Vasco da Gama, entre fins de 1968 até 1974, conquistando com a equipe vascaína o Campeonato Carioca de 1970. Dono do próprio passe, Buglê jogou por dois anos no Paris Saint Germain. “Na época, comprei meu passe do Vasco, fiquei cinco meses no América e fui para a França, sem empresário nem nada. No Brasil, esse negócio de empresário começou em 1965, mas eu já era considerado velho, nos padrões daquela época”.
Por causa de uma suspensão de 180 dias não pôde participar da Copa do Mundo de 1968. “Eu estava suspenso e o Tostão foi no meu lugar. Naquele tempo a CBF não levava jogador com punição. Minha suspensão, aconteceu dois jogos após inaugurar o Mineirão com o gol. No primeiro jogo Atlético x Cruzeiro realizado no Mineirão, pelo Campeonato Mineiro houve uma briga entre as equipes e eu estava no meio. Fomos expulsos e suspensos por 180 dias”, recorda.
Treinadores foram vários, mas de um ele deles, Buglê não esquece: Zezé Moreira. “Foi ele quem me tirou dos juniores aos 17 anos e me lançou no principal do Atlético Mineiro. O Wilson de Oliveira também foi importante na minha vida, foi ele que me convidou para treinar no Atlético. Devo muita coisa a esses dois”.
A chegada de Buglê ao futebol profissional foi graças à mudança da família para Belo Horizonte. “Papai era contador e mamãe diretora de escola. Ela foi transferida para a capital e nos mudamos para o Barro Preto e ingressei no futebol de Salão do Cruzeiro, junto com Tostão, Ronaldo, que depois foram meus colegas de seleção e de clube”.