Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Em 80% dos casos da Covid-19 os sintomas são leves

Edição nº 1719 - 20 de Março de 2020

O médico sanitarista, Cristiano Arantes (foto), membro da comissão de enfrentamento da Covid-19 no município, participou do curso de preparação promovido pela Secretaria Regional de Saúde de Uberaba e repassou as informações para os demais médicos e toda a equipe de saúde do município. Arantes, bem como outros médicos da comissão, Diogo Cassiano Rodrigues e Claudinei participaram da coletiva com o secretário de Saúde, Reginaldo Afonso dos Santos, nessa terça-feira 17, quando foram detectados dois casos suspeitos do novo coronavírus na cidade. Em entrevista, Cristiano falou ao ET

 

ET - As primeiras medidas preventivas contra o novo coronavírus foram decretadas pelo governo municipal esta semana. De que forma o governo e a população podem contribuir para que a cidade obtenha uma resposta positiva no combate a essa terrível doença, a Covid-19?

Cristiano - Como todos já sabemos, vivemos uma pandemia de um vírus novo e nós não possuímos ainda a imunidade para combatê-lo, então todos nós estamos suscetíveis a nos infectar e é a resposta do organismo é que vai determinar a gravidade da doença. Algumas pessoas nem chegam a desenvolver a doença, mas mesmo não desenvolvendo, elas são transmissoras do vírus. Por isso, o melhor que a população tem que fazer é ficar em casa, evitando aglomerações e contato com outras pessoas. Outra medida é sempre lavar as mãos com água e sabão, proteger a boca, o nariz quando espirrar e tossir. 

 

ET – Quanto ao governo...

Cristiano - Além de transmitir as informações ao maior número de pessoas, precisa preparar o sistema de saúde para dar conta da demanda, alocar recursos, contratar mais profissionais de saúde e capacitá-los. Felizmente, tudo isso está sendo feito, inclusive, estabelecendo um fluxo de atendimento para evitar que as pessoas procurem as unidades de saúde, porque a maioria dos casos do coronavírus são sintomas simples. Só procurem as unidades em caso de necessidade mesmo. Importante destacar que todo o governo está empenhado no sentido de diminuir a velocidade de transmissão do vírus, porque isto dá tempo de o sistema de saúde ir se adaptando e dando resolutividade aos casos complicados, por isto é de extrema importância, o esforço de todos nesse sentido.

 

ET -  No ponto de vista médico, as principais e mais urgentes medidas, recomendadas desde o início, são a higienização das mãos e não frequentar ambientes com aglomeração e circulação de pessoas. O lavar as mãos com água e sabão tem o mesmo efeito do uso do álcool gel, infelizmente, agora com o preço explorado abusivamente em alguns estabelecimentos? 

Cristiano - Lavar as mãos com água e sabão tem o mesmo efeito do álcool gel. E, seja com água e sabão ou álcool gel as mãos têm que ser bem lavadas (lavar na frente, atrás, entre os dedos, debaixo das unhas). O álcool é importante se as pessoas estiverem num ambiente externo, na rua, enfim, em locais que não tem água e o sabão para a higienização. Em casa, água e sabão bastam. 


ET -  Com relação aos ambientes carregados, o decreto fala em “cancelamentos de eventos acima de 250 pessoas em ambientes abertos e de 100 nos espaços abertos”. Qual seria mesmo o ideal, a recomendação médica? 

Cristiano - A recomendação médica é não reunir pessoas. Quanto mais isolada, sozinha a pessoa ficar, melhor, quem puder ficar em casa, fique. Em caso de realmente precisar se reunir com outras pessoas, que seja em espaços aberto, ventilados e com uma distância mínima de  dois metros  um do outro e que não tenha nesses ambientes ninguém com sintomas respiratórios (espirros, tosse, coriza, febre, gripe). Pessoas com esses sintomas respiratórios devem ficar em casa.  

 

ET -  Como se dá a evolução do coronavírus nas pessoas, considerando a sua faixa etária, de crianças, jovens, adultos e idosos? 

Cristiano - Em 80% dos casos os sintomas são leves, como de um resfriado comum, uma gripe e as pessoas vão curar de forma espontânea e, na verdade, não tem tratamento específico. É por esse motivo que pedimos às pessoas para não irem às unidades de saúde nem pronto socorro. Só façam isso se houver sinal de complicação: febre alta por pelo menos três dias, falta de ar ou tosse, principalmente se forem pessoas idosas e pessoas com doenças crônicas, como por exemplo, diabetes, pessoas que usam corticoides...

 

ET - A evolução do vírus é maior nessas pessoas...

Cristiano - Sim, mas todas as pessoas podem ser portadoras do vírus, inclusive crianças, e transmitirem a doença. É muito importante que todas as pessoas se alimentem bem, comidas saudáveis, verduras, frutas, tomem muita água, evitem refrigerantes e doces, para que o sistema imunológico responder ao vírus, porque pelo que sabemos, há uma guerra entre o sistema de defesa e o vírus.

 

ET - Ao evoluir para um caso considerado grave, o paciente vai para a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo). Nesse estágio, quais são os procedimentos médicos e medicamentosos utilizados no combate à Covid-19 e o tempo de resposta?

Cristiano - A pessoa vai para a UTI quando está com insuficiência respiratória, porque o processo inflamatório é tão grande que já ocupou os alvéolos pulmonares e aí a pessoa tem um edema de pulmão (acúmulo de líquido nos pulmões, impedindo o processo de oxigenação do sangue). Nesse caso, o paciente tem que ser entubado para fazer a respiração mecânica assistida. Além desse procedimento, o médico entra com o antibiótico, para prevenir infecção. Essas são as condutas adotadas e, normalmente, são duas a três semanas para o paciente se recuperar na UTI. À medida que ele vai evoluindo, há outros medicamentos para tentar reverter possíveis choques. Mas isso depende da evolução de cada um.

 

ET -  A causa da morte devido ao novo coronavírus seria insuficiência respiratória?

Cristiano – Sim, a causa básica de morte é insuficiência respiratória, o pulmão, os alvéolos ficam muito comprometidos dependendo da evolução e aí não ocorre a troca gasosa, a pessoa então tem falta de oxigênio, os órgãos, principalmente o coração, precisa de oxigenação e aí a pessoa tem falência dos órgãos em decorrência dessa insuficiência respiratória. A pessoa pode ter também  uma infecção  generalizada, evoluindo para choque séptico. 

 

ET - Nos primeiros sintomas da Covid-19 ou de uma gripe comum, bem parecidos, gostaríamos de saber a diferença entre uma doença e outra e quais medicamentos não se deve usar?

Cristiano - Os sintomas do coronavírus são muito parecidos com o de um resfriado,  uma gripe: febre, dor de garganta, tosse, coriza (nariz escorrendo), desconforto respiratório (falta de ar), ou seja, esses sintomas fazem parte do quadro clínico de infecções respiratórias. E assim como para o resfriado e a gripe não existe tratamento especifico, não existe também para o coronavírus. Por isso, a ideia é, não passar o vírus pra frente, não adianta a pessoa ficar indo ao médico quando apresentar sintomas leves, porque não existe tratamento, não existe vacina. A ordem é ficar em casa e tomar Dipirona ou Paracetamol. Não tomem antinflamatórios, tipo Ibuprofeno, Nimesulida, Diclofenaco, Alivium, Diprospan. Só tomem esses medicamentos por indicação médica, porque eles podem trazer complicações.  

 

ET - O Sr sabe a porcentagem dos pacientes que têm correspondido bem ao tratamento, ainda sem uma vacina, em relação àquelas faixas etárias citadas?

Cristiano – Como eu disse, em 80% dos casos os sintomas são leves, como de um resfriado comum, uma gripe e as pessoas vão curar de forma espontânea e na verdade não tem tratamento específico. A evolução do vírus é maior em pessoas idosas, porém, todas as pessoas podem ser portadoras dele, inclusive crianças e, também, transmitirem a doença. 

 

ET - É possível uma pessoa adquirir o coronavírus e ficar curada sem tratamento intensivo, sem respiração mecânica?

Cristiano - A grande maioria das pessoas vai ficar curada sem tratamento intensivo, sem respiração mecânica, sem medicamentos. Muitas pessoas não vão nem saber que adoeceram, outras terão sintomas bem leves, uma porcentagem muito pequena, ou seja, uma minoria, vai evoluir para insuficiência respiratória. E torcemos para que assim seja, a menor quantidade possível, e que ganhemos tempo para que essas infecções venham num espaço de tempo maior, para dar tempo de o sistema de saúde trabalhar, porque se forem muitos casos de uma vez, a situação complica. Pode ser que o sistema não suporte, não dê conta de atender, por isso a importância de as pessoas ficarem em casa, evitarem contato com pessoas, principalmente com pessoas com problemas respiratórios. 

 

ET -  Por falta de leitos hospitalares, a Itália chegou ao ponto de optar pela internação dos pacientes mais novos na UTI em detrimento dos idosos. Essa decisão utilitarista não seria estabelecer um cálculo hediondo, no sentido de tomar o jovem como uma peça ainda útil à sociedade, que trabalha, paga imposto... enquanto o idoso, o aposentado representa uma despesa para o Estado?

Cristiano - Chegar ao ponto de escolher entre quem vai viver e quem vai morrer é uma escolha muito difícil e muito triste. Tem a questão econômica, sim. No mundo de hoje, com essa busca por lucro, a sociedade acaba valorizando os mais jovens, a força de trabalho que ainda pode gerar riquezas para as nações. Mas há um outro dado a ser levado em consideração, que é a expectativa de vida, os jovens têm uma expectativa de vida muito maior que a de um idoso. A gente nunca vai justificar uma escolha dessa, mas acredito que esta escolha da Itália seja pela expectativa de vida e não por uma questão econômica. 

 

ET -  Enquanto Macron na França fecha as fronteiras e decreta anistia das contas de luz, gás, água e aluguel, Bolsonaro suspendeu tributos (que naturalmente serão cobrados depois) ampliou o Bolsa Família (que ele mesmo contingenciou (bloqueou)  no início de seu governo) e anunciou, nessa quarta-feira 18 auxílio financeiro para profissionais autônomos. Que análise o Sr faz dessas medidas?

Cristiano - O mundo está passando por um momento ímpar na história do capitalismo, devido ao impacto que está sendo gerado na economia, então as medidas não podem ser tímidas e já estão sendo adotadas, para que as pessoas tenham o mínimo para sobreviverem. Então, suspender impostos, anistiar dívidas tudo isto tem que ser feito. Não sabemos ainda como os governos vão administrar gerenciar essa crise financeira grande que vem por aí, por conta do absenteísmo (ausências no processo de trabalho), da indústria, do comércio paralisados. O cenário econômico vai mudar muito e os governos vão, sim, ter que rever dívidas, impostos. Mas vemos que os governos já acordaram para isso e esperamos que tomem as devidas medidas, porque elas serão muito necessárias. 


Santa Casa está preparada para casos graves

O médico Diogo Cassiano Rodrigues, membro da Comissão de Enfrentamento do Coronavírus, logo após a coletiva de imprensa, nessa terça-feira 17, com o secretário de Saúde falou ao ET sobre a importância da reunião, os pacientes suspeitos e as condições da Santa Casa para enfrentar os possíveis casos da Covid-19.

 “- A iniciativa realizada hoje é extremamente importante, porque está nas mãos de cada brasileiro, de cada sacramentano fazer a sua parte, para tentar, não conter, porque é praticamente impossível, mas tentar ser afetado de maneira branda por esse vírus. Na minha opinião, a Secretaria de Saúde deve dar todas as informações que ajudem a população. Eventos assim, garantem à população que ela está segura tanto em relação ao tratamento quanto ao diagnóstico”. 

A respeito dos dois pacientes suspeitos localizados na cidade e encaminhados para sua cidade de origem, Araxá, Diogo, ressalva que eles não foram atendidos na Santa Casa, mas numa unidade de Saúde. “Com esse plano de contenção, temos uma sala preparada, equipada e pessoal preparado para o atendimento. Nesse caso específico, os pacientes foram orientados para o isolamento domiciliar, em Araxá, sem nenhum contato com a Santa Casa. E isso foi importante, porque os pacientes e profissionais da Santa Casa   não tiveram contato com os suspeitos, não sendo afetados”, garante. 

Questionado se a Santa Casa está preparada para receber os casos mais graves, Diogo garantiu que sim. “Estamos preparados para enfrentar casos mais graves. Mas o importante é conseguirmos abrandar, para que isso venha num maior tempo possível. A  Santa Casa passou por adequações de espaços, com uma sala do pronto socorro isolada, para que os pacientes que apresentem sintomas gripais ou respiratórios não tenham contato com outras pessoas”, explicou, fazendo um alerta. 

“- O importante é pedir para as pessoas não procurarem o pronto socorro para atendimento simples (dores que podem ser controladas e que podem aguardar, por exemplo, dor nas pernas, dor de barriga). É importante que as pessoas tenham a educação de procurar o atendimento apenas em casos de urgência, porque a transmissão do vírus ocorre na sala de espera. As urgências sempre terão prioridade”.