Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Personalidade de 2013: O Romeu da Rodomeu

Edição n° 1348 - 08 Janeiro 2013

Romeu Sergio de Oliveira, 47, é um daqueles sacramentanos que acreditaram e foram à luta. Filho de Anicácio Afonso de Oliveira e Eurídes Maria de Oliveira (Dona Negrinha). Romeu é o caçula de três filhos. Casado com Andréia Cristina Pires de Oliveira, pai do jovem universitário, Thiago Sérgio Pires de Oliveira, que cursa Administração na Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), um apaixonado por caminhões. Romeu começou cedo na linha de leite com seu pai. Tinha apenas 13 anos quando já começou a transportar leite sozinho. E daí até comprar o seu primeiro caminhão foi poucos anos. E não parou mais, fazendo valer seu forte tino administrativo, o que levou a ser hoje líder no segmento de coleta de leite para o Laticínios Scala, com a empresa Rodomeu.

Romeu nos contou sua história...

 

ET - Vamos falar da infância, dos estudos, dos amigos do tempo de criança.

Romeu – Nasci e sempre vivi em Sacramento, estudei na escola Coronel, mas só até a oitava série. Minha infância foi um pouco diferente da dos outros meninos, porque desde os oito anos começei a puxar leite com meu pai, para o Scala. Aos treze anos assumi um caminhão, um Ford F 350, 1966. Naquela época não era muito cobrado a carteira de motorista. Era tudo estrada de terra, de fazenda a fazenda. Eu sabia tudo de caminhão e fui puxar leite. Comecei na linha de Conquista pra cá, tudo estrada de chão. Trazia, diariamente, uma faixa de 400 litros de leite.

 

ET – Não era fácil a vida dos leiteiros naquela época. Você, com 13 anos, estudando à noite, saindo de madrugada. Não era perigoso dormir ao volante? E a habilitação?

Romeu – Não, eu dormia bem. E saía por volta das 6h, já não era de madrugada... Aos poucos as linhas foram aumentando e minha experiência também. Então, fui suportando tudo muito bem. De Conquista fui pra Nova Ponte e dali para o município todo. Na época, a gente começava a tirar carteira um pouco antes dos 18 anos, então quando completei os 18 já estava com a carteira em mãos. Aí não parei mais e foram 24 anos de estrada.

 

ET – Desde 1978, mas você continuou com a empresa?

Romeu – Sim, quando parei de puxar leite, em 1999, já havia aberto a transportadora, há uns dois anos antes. Tive que parar para gerenciar a empresa. Mas esse tempo de estrada foi muito bom, porque adquiri muita experiência em relação a estrada e suas dificuldades, conhecendo também o município todo.

 

ET – Cada estradinha, cada fazenda ..

Romeu – Cada porteira de fazenda .. E era um tempo difícil, porque era tudo latão e a gente é que tinha que carregar nas costas. Às vezes, nem via o dono da fazenda. O leite nos esperava nos latões, em cima de uma pequena plataforma. Era muito puxada a vida de leiteiro. Faça sol, faça chuva, não tem sábado, domingo, feriado. Já passei o dia de Natal, o dia inteiro encravado na estrada., mas graças a Deus nunca tive acidente. O que acontecia eram coisinhas à toa: pneu furado, caminhão quebrado, coisas da profissão mesmo. E depois, dificuldades sempre há, faz parte da profissão, até hoje. A gente viajava sozinho, então era difícil. Hoje é uma maravilha se formos comparar...


ET – A profissão de leiteiro foi a única opção que você teve na época?

Romeu – Talvez, não, mas eu gostava. Sempre gostei de caminhão e gostava de viajar. Desde pequeno eu era doidinho pra guiar e quando comecei a profissão, já tinha participação no caminhão. Papai comprou e passou parte pra mim. Eu trabalhava com ele. E sempre alimentava esse sonho de um dia ter muitos caminhões, tipo uma transportadora. O tempo passava, mas a ideia continuava, e muita coisa evoluiu e nesse tempo eu já tinha dois caminhões.

 

ET – E quando começou a concretizar esse sonho, criando à transportadora?

Romeu - A Transportadora Rodomeu foi fundada em 1990. A demanda foi aumentando, o Laticínio Scala, para quem eu e papai sempre trabalhamos há quase 40 anos, também foi ampliando e exigindo mais transporte. Então, vi que era a hora de abrir a empresa e comecei com quatro caminhões. Mas comecei com os pés no chão, ainda fazendo linha, com todo leite transportado em latões. Quando foi em 1995, mais ou menos, chegaram às leis normatizando o transporte de leite. A fiscalização foi apertando e todos os leiteiros tiveram que se adequar. O negócio é o seguinte, ou você cumpre as leis ou fica fora do mercado.

 

ET – Quando os caminhões tanques substituíram os latões?

Romeu – Começamos a granelização em 1998. Isso foi um negocio muito bom para todos, para o laticínio, para o produtor e para os motoristas, porque nós, os leiteiros, tinham que carregar nos ombros latões com 50 litros de leite, não era mole não. E muitas vezes nem ajudantes tínhamos.

 

ET – E o nome, Rodomeu?

Romeu – O nome 'Rodomeu' foi engraçado, porque é um pedaço do meu nome, alias, é o meu nome inteiro .. Mas a ideia foi a seguinte, eu peguei o RODO, de 'rodoviário', e o MEUde mim mesmo (risos). E o interessante é que existem varias transportadoras com o nome, Rodomeu, mas a nossa Transportadora Rodomeu foi a primeira a ser registrada na Agencia Nacional de Transportes Terrestres, exatamente com este nome. Existem até transportadoras Rodomeu, até mais velhas que a nossa, só que não eram registradas. Fomos os pioneiros a fazer o registro, então a marca é nossa e está autorizada a viajar pelo Brasil inteiro.

 

ET – E a partir de então, a Transportadora ganhou impulso?

Romeu – De fato. Comecei com três, quatro caminhões, porque havia uma lei que limitava três caminhões em nome de pessoa física. Hoje, temos 24 caminhões, todos dentro das normas legais, rodando diariamente e captando uma média de 250 mil litros por dia. São 13 caminhões nas coletas em fazendas e 2bitrens, que transportam posto a posto, ou seja, da Pratinha para o Scala. Nossos 15 caminhões que transportam leite rodam 4200 KM em média todos os dias. Os outros transportam matéria prima para as Rações Scala, como farelo de soja, de algodão e milho. Começamos a empresa com três motoristas, e hoje são 46 funcionários, dos quais 38 são motoristas. Já passaram muitos funcionários pela empresa, e destaco que todos foram muito valorosos. Nossos funcionários mais antigos são os motoristas Antonio Carlos Pavini, o Catiara, e o João Afonso. E tenho também meu braço direito, o Wemerson, conosco há cinco anos. Alem de outros, que já trabalharam na Rodomeu e aqui se aposentaram.


ET – A empresa completou 22 anos, então podemos dizer que foi quase um caminhão por ano?

Romeu – É .. Realmente não havia pensado nisso, mas á media é essa. Só sei que não foi fácil, mas graças a Deus, vencemos. Estamos com essa frota de 24 caminhões com menos de dez anos de uso, todos legalizados. E, posso dizer que valeu a pena o investimento e o mais importante, estou fazendo o que gosto, o que sempre sonhei.

 

ET – Fale um pouco dessa fidelidade com o Laticínio Scala.

Romeu – Papai, como eu disse, trabalhava pra eles, e eu também, quando iniciei ainda na época do Seu Nino, sempre foi com o Laticínio Scala. Nunca mudei. É uma empresa muito boa, que começou como empresa familiar. A empresa nos ajudou muito e acho que podemos comparar o inicio da nossa transportadora com o inicio do Scala que começou com o Seu Nino e seu Sebastião puxando leite num caminhãozinho pra fazer o queijo e hoje é essa potencia. Eu comecei com papai, assumi a linha, puxei muito leite, e hoje...

 

ET – É também uma potência ..

Romeu – Não, não tanto .. (risos) Somos uma empresa de porte média, de pés no chão, enfrentando os desafios comuns a todas as empresas. Mas dou muito graças a Deus por toda essa persistência e vontade de vencer que sempre tive. E posso dizer que foi o incentivo do Scala que me levou a fundar a empresa. Aconteceu o seguinte, eles reuniram os leiteiros e explicaram que para prestar serviços pra eles, a gente precisaria ter empresa registrada com tudo legalizado. Eu trabalhava como autônomo, então não havia alternativa, ou inovava ou perdia as linhas. Pensei, é hora de começar. Mas sem capital, tirei no dia a dia de trabalho. E como o Scala precisa das empresas organizadas, aí as coisas fluíram.

 

ET – E que lição você tira de tudo isso, dessa evolução toda?

Romeu – Uma grande lição: A persistência vale a pena: Hoje, olho para trás e vejo a evolução que foi de quando eu comecei aos 13 anos. Foi uma mudança considerável. Perdia muito leite, se encravasse, então, adeus. Hoje, o leite chega gelado à plataforma de descarga. Cada produtor é responsável pela qualidade do seu leite. Os tanques não são mais comunitários, cada um tem o seu, visando justamente a qualidade. Se o leite perder lá no tanque a responsabilidade é do produtor, se perder no caminhão, é responsabilidade nossa. Por isso, os motoristas são treinados pelo Scala para a medição da qualidade, da acidez do leite. Se não estiver dentro das normas exigidas, eles não transportam, porque um leite de qualidade inferior pode alterar o restante e fazer perder toda a carga.

 

ET – Com relação à produção leiteira no município, as estradas, as linhas ..

Romeu – A produção aumentou muito, muito mesmo, por conta das novas tecnologias, genética, ate mesmo os pequenos produtores estão produzindo muito mais. As estradas e as linhas também melhoraram, e cada caminhão, que só fazia uma rota por dia, hoje, temos caminhões que fazem três. Alem disso, hoje a segurança é muito grande, a qualidade do serviço e do leite também. A única coisa difícil é a falta de comunicação entre os motoristas e a empresa, os telefones celulares ficam sem sinal em muitas regiões. O que facilita um pouco é que a maioria das fazendas tem telefones. Mas posso dizer com certeza que a tente tem que ter vontade de trabalhar, ter muita persistência, porque tem hora que as coisas ficam difíceis e se agente vacilar acaba desistindo.


ET – A Rodomeu tem uma garagem própria para guardar, consertar, lavar todos esses caminhões, com pessoal especializdo?

Romeu – Sim, temos. Na Rodomeu tudo veio acontecendo aos poucos. Essa infraestrutura para administrar toda essa logística de transporte e manutenção tem apenas quatro anos. Antes, tudo funcionava em um pequeno terreno na rua Eurípedes Barsanulfo, perto da casa do papai, até que compramos essa área com toda essa estrutura. Diariamente, os caminhões passam por manutenção. Chegou da viagem, descarregam, vem pra manutenção. A lavação interna dos tanques é feita na própria plataforma do laticínio, já a lavagem externa é feita no posto 'Santo Antonio'.


ET – Como é a sua rotina diária, lazer, esporte? ..

Romeu – Tem um ditado que diz que, ' o olho do dono é que engorada o gado'. E posso dizer que sigo isso à risca. Os caminhões não ficam aqui, mas todos os dias estou presente na hora da saída da frota. Diariamente, às 5hrs da manhã, estou aqui, de segunda a segunda. Despacho todo mundo, acompanho a saída de todos. Saio da empresa por volta das 8hrs da noite, mas sempre atento, ligado, desde a hora que a frota sai até a hora que chega. E cada um que chega tem a obrigação de falar da viagem, como se fosse um relatório da viagem: o que aconteceu com o caminhão, com o fornecedor, .. Se não for assim, não funciona, temos que ter responsabilidade com o que nos propomos a fazer.

 

ET – Fora do pátio, o que faz?

Romeu – Na minha vida pessoal, acho que sou um 'cara' normal que gosta de ver um jogo, tomar uma cerveja, um bate-papo com os amigos. Sou cruzeirense, mas não sou fanático. Sempre que posso, gosto de ir à Praça de Esportes, mas não jogo bola, nunca joguei futebol, mas gosto de estar na roda de amigos, da cervejinha. Sou um homem religioso,tenho muita fé, sem no entanto ir muito à igreja. Sou devoto da Nossa Senhora Aparecida, que é a protetora da nossa empresa. E acho importante ajudar a quem precisa, quando podemos estamos sempre dispostos à ajudar.

 

ET – O filho Thiago, cursando Administração, ao formar volta para ajudar o pai?

Romeu – Com certeza sim. Termina seu curso agora no fim do ano e já disse que vai trabalhar conosco, mas todos os fins de semana que vem para Sacramento ele procura se interar dos acontecimentos, tentando ajudar da forma que pode. Vai uma ajuda muito boa. Só não sei se ele vai chegar aqui às cinco da manhã (risos). Mas depois chega no lugar, porque gosta muito desse ramo de negocio, gosta muito de caminhão e depois vale a pena investir nos filhos.