Há 22 anos em Palmas, no estado do Tocantis, Leomar diz que nasceu com o novo estado. ‘‘Era um poeirão só, dava medo. ‘‘Como diz a canção, ‘Enfrentei fortes batalhas...’ e estou em Palmas há 22 anos. Ali nasceram meus filhos. Ali me profissionalizei no magistério e ali sou feliz, não apenas como professor da Universidade Federal do Tocantis, mas por me integrar de corpo e alma à vida comunitária. Mas nunca me esqueço de minha cidade natal. Logo que me aposentar, cumprir o compromissos que firmei com a UFT, voltou para este torrão natal...’’
Veja o final da entrevista.
ET - Como e quando chegou a Palmas?
Leomar - Cheguei através de um convite feito em 1991 e lá estou até hoje. Cheguei em Palmas não havia cidade ainda, tudo o que existe lá, eu vi nascer e crescer. Acompanhei o desenvolvimento de Palmas e lá nasceram meus dois filhos mais novos, Athos e Edith, os dois moram em Recife. A vida não foi fácil em Palmas, porque não havia nada lá, só poeira. Hoje vejo que as dificuldades que vivemos em Palmas, resultaram numa grande vitória. Palmas é uma metrópole, chique, linda, com 220 mil habitantes. É uma capital onde se encontra tudo o que há nas outras capitais. E saber que fizemos parte dessa história isso nos orgulha muito.
ET - Conta, então, um pouco de sua história em Palmas. Chegou e foi trabalhar no magistério?
Leomar - Sim, como eu disse, cheguei através de um convite para assumir a coordenação do Colégio Frederico Pedreira e lá permaneci alguns anos. Depois fui transferido para outros colégios. Depois, fui convidado para trabalhar no Projeto Sistema de Organização Modular de Ensino (SOME), que consiste num quadrante com quatro municípios e tudo o que é ministrado durante um ano é fechado em 70 dias e divididos em conteúdos. Cada município ministrava aquelas disciplinas específicas para aquele quadrante a cada 70 dias. E ia fazendo o rodízio. Esse método de trabalho nos possibilitou formar muitos professores, porque Tocantins não tinha professores. Foi um projeto que durou oito anos e deu muito certo, com muito bons resultados. E eu tive a oportunidade de, a cada 70 dias, estar numa cidade, tendo a oportunidade de conhecer muitos lugares no Estado e conviver com as pessoas.
ET - Essa convivência com as pessoas, o seu jeitão descontraído, de se relacionar com todo mundo, fazer amizades não o levou à política, não, nessa época? Especialmente num estado tão incipiente?
Leomar - Na verdade não foi nessa época, porque até hoje estou enveredado na política (risos). É difícil morar em Palmas se não tiver uma consciência política, porque tudo em Tocantins tem conotação política. Não se faz nada lá sem política.
ET - Você disse que se orgulha de ter contribuído com a história de Palmas. Me desculpe, mesmo com Siqueira Campos?
Leomar - Sim, mas por que você tá falando isso?
ET - Como a gente sempre foi meio de esquerda, e como você leciona Ética na UFT, eu acho uma contradição. O Siqueira não foi um homem público muito ligado ao conceito aristotélico de se fazer política, não...
Leomar - Eu ingressei no grupo político do Eduardo Siqueira Campos, criador do Estado, o primeiro governador por três mandados (1989/1991, 1995/1998 e 1999 a 2002) e o atual governador. Ele é chamado de “ditador do cerrado”, mas é um cara muito bom. Pode parecer até incoerência, pelo meu tino esquerdista, mas dizia meu avó Sozipater: “A necessidade faz o sapo pular” (risos). Mas na verdade Tocantins não tinha essa ideologia de ser contra ou a favor, a ideologia era a do desenvolvimento do estado. Por isso, o Siqueira Campos levantando essa bandeira, é carregado no colo, é um herói.
ET - Você está brincando... Não acredito que o Léo que conheci esteja falando umas coisas dessas.
Leomar - Os que entraram depois dele foram muito corruptos, também. As coisas pioraram depois de alguns anos... É como dizem, desculpando a expressão, “o cocô é o mesmo, só mudam os mosquitos”. Siqueira Campos é o Governador, pertenço ao grupo político dele, mas não trabalho mais com ele. Siqueira está muito idoso, acredito que não seja mais a bola da vez, não. Agora, existe a política e a “pornolítica”, a política suja que há em todo lugar, e o x da questão é saber driblar isso.
ET - Chegou a ocupar cargos no governo, a candidatar-se a algum cargo político?
Leomar - Ocupei cargos, sim. Fui nomeado diretor de escola, depois chefe de gabinete, mas não era isso que eu queria. Eu me sentia garoto de recado. E eu sou professor, não quero esses cargos, eu quero um giz na mão, é isso que sei fazer. Aí voltei a lecionar. Sou professor de Bioética na Universidade Federal de Tocantins, faço o que gosto e trabalho com muitos colegas que foram meus alunos.
ET – E como candidato?
Leomar - Nunca, mas fiz pior, candidatei minha esposa para vereadora. Trabalhamos muito, mas não ganhamos. Lá também impera a tal da “pornolítica”. Se não tiver dinheiro, não ganha a eleição. Na política, infelizmente, é o vale quanto pesa e não pesávamos nada, porque não tínhamos dinheiro, mas foi legal, ela ficou suplente. Este ano o PTS me convidou para sair candidato a deputado estadual, mas não quero política de frente, gosto mesmo é dos bastidores. Isso não é do meu alvitre nem minha vocação.
ET - Como é que você ingressou na universidade federal sem mestrado, doutorado?
Leomar - Isso foi muito interessante, porque é a coisa mais difícil entrar numa federal. Quando me formei em Filosofia com os padres sacramentinos, fazíamos a proficiência em São João Del Rey, mas em 2011 foi cassada a proficiência e eu teria que voltar para São Paulo para fazer uma matéria que ficou faltando. Eu não tinha dinheiro para ficar em São Paulo, só que nesse ínterim estavam abertas as inscrições da Universidade Federal de Tocantins e me inscrevi. Fiz o vestibular para licenciatura plena em Filosofia e passei em 17º lugar. Fui para a aula feliz da vida e aquela aprovação me deu uma força muito grande. E qual não foi minha surpresa ao ver que meu professor, que tinha sido meu aluno no Maranhão. Ele ficou surpreso e me chamou para conversar. Levou-me até o reitor e eu fiquei trabalhando na universidade com Gerontologia Social, um trabalho com idosos, porque eu tinha o curso de Enfermagem que fiz com os camilianos. E aí veio o convite para lecionar Bioética para o curso de Enfermagem.
ET - Nesse trabalho, você faz como aqueles políticos demagogos que conversam com os idosos afirmando que eles estão na 'Melhor idade?
Leomar – Claro que não. Que bobagem! A melhor idade é a dos 18, 20 anos... Falar que a melhor idade é a do velho, isso é política, é fazer gracinha, é enganar as pessoas, é para ganhar votos. Eles estão, na verdade, na terceira idade. Eu estou com 60 anos e vejo as diferenças no corpo, na locomoção, no desempenho sexual, há mudanças e muitas, não há o que se negar. E, na verdade, o velho não pode ter a mentalidade jovem, ele tem que ter mentalidade atual, desfrutar das coisas atuais, mesmo sendo da terceira idade. O grande trabalho da universidade é o trabalho intergeracional, que busca fazer as gerações caminharem entre si, numa relação bonita, um respeito mútuo entre as gerações, é a consciência intergeracional, cada um com o seu tempo vivendo num mesmo espaço. Isso vai acabar com o preconceito.
ET - O Brasil está preparado para esse aumento da expectativa de vida?
Leomar - Não. Aliás, isso me preocupa muito. Daqui a oito, dez anos, a maior população do Brasil será a de idosos, pessoas acima de 60 anos e o país não está preparado para isso. Não há nada, não há investimentos nessa área, na vestimenta, no calçado, nos alimentos, no lazer, nem políticas públicas adequadas. E a chegada dessa população será de supetão, porque o índice de nascimentos é muito pequeno.
ET - Retornando a Palmas, continua sua vida de professor, agora solteiro, até quando?
Leomar - Moro num apartamento próximo da universidade e solteiro. Com muita parcimônia, porque a idade não permite mais muitos devaneios. Mas sou feliz. Acho que fico em Palmas até me aposentar, um compromisso que tenho também com a UFT. Mas no dia seguinte volto para Sacramento, vou fazer alguma coisa, viver uma vida maravilhosa e quem sabe vire até professor por aqui. Estou feliz, sou cristão e fico na minha e agradeço muito a Deus, aos padres, aos amigos. Devo muita obrigação a muitas pessoas.
ET - Finalizando, foi legal rever a cidade, os amigos?...
Leomar - Foi muito interessante... Até me entrevistaram em um desses jornais de Sacramento e eu disse que não encontrei aqui pobres, miséria... E fui mal compreendido. Disse isso porque eu moro no Tocantins, um estado pujante, mas um lugar que tem também muita miséria, uma miséria terrível. Eu não vi isso em Sacramento, então eu fiquei feliz... Agora sei que precisa melhorar a saúde, a educação, habitação...
ET - Mas pelo amor de Deus, Léo, você exagerou, né... Dizer que Sacramento não tem pobres é ser muito demagogo...
Leomar – (Risos) Mas minha avaliação é a melhor possível, estou encantado, apaixonado. E quando digo que Sacramento não tem pobres, estou fazendo um tributo a todos os governos que passaram pelo poder... Eu até pedi ao Bruno Cordeiro que continue isso... E estou assim, como dizemos em Tocantins, 'cantando os quatro pneus', porque realmente invadiu o coração. Sabe aquela coisa quando você chora pra dentro, quando as lágrimas caem diretamente no coração e dói pra caramba? É esse sentimento que estou deixando em Sacramento essa saudade, uma coisa querida, telúrica, feliz da vida e quero regressar agora com mais frequência.
ET – Pra terminar, pode confirmar uma declaração postada no sítio da Prefeitura que você seria o próximo secretário da Educação, a partir de janeiro?
Leomar – Ainda não li os comentários sobre a minha nomeação de secretário, mas agradeço os nomeadores preocupados com uma educação de 'berçonalidade', me senti enaltecido. Quem sabe um dia... Dizem que sou competente, o mundo dá muitas voltas... Sou prova viva disso. Quero esclarecer, para que não fique dúvida alguma, aos leitores, amigos o seguinte: Minha visita ao Passa Perto teve um único objetivo, matar as saudades que arrocham o peito; o que passou disso... não procede.
Termino, repetindo a grande Célia Bianchi, poetisa do meu tempo: “Sacramento o teu nome traduz a perfeita e sublime união... o teu nome é hino de amor vibrando em meu coração”.
ET – Valeu, Leozão! Grande abraço, vê se toma juízo agora na política.
Leomar - Abração, Boy! Quero agradecer muito a todos que amavelmente me receberam com carinho. Obrigado. Me senti intacto nos velhos alicerces. Sem palavras para explicitar a felicidade latente dentro do coração. Obrigado.