O musicoterapeuta Júlio César Botelho Pucci, 31, já está em Dowajack, no estado de Michigan (USA), desde o dia 3, onde permanecerá durante seis meses preparando-se para um trabalho voluntário no continente africano, tudo isso com o total apoio e a maior força dos pais, Hércules Aurélio Pucci (Lelinho) e Aracy Botelho Pucci (Cici), dos irmãos George e Diego. Pucci está participando doprograma II CD, de Michigan, uma instituição parceira da Ong, Human People to People, que tem parcerias de trabalhos na África, basicamente em Moçambique. Em entrevista ao ET, afirmou: “Vejam bem, não vou me ausentar como rebelde, só quero ver o outro lado da vida de forma mais fraternal”.
A idéia da viagem é recente...
Tudo começou no ano passado, conforme ele mesmo conta. “Uma amiga, a Gabriela Fullin Teodoro Rodrigues, filha do Dr. Pedro, no final do ano passado, me disse que estava indo para a África. Conversamos muito e eu disse que iria também, mas parou aí, afinal minha vida estava arrumada aqui. De repente, a ideia reacendeu como um fogo no coração. Todo lado que eu olhava, tudo o que pensava via a África na minha frente. Gabriela já está lá e logo falei com ela da minha decisão e ela me ajudou muito para agilizar a documentação, através do programa II CD, de Michigan, uma instituição parceira da Ong, Human People To People, que tem parcerias de trabalhos na África, basicamente em Moçambique. Enfim, Gabriela me passou todas as coordenadas e fui em frente na preparação da papelada”.
Os critérios para seleção...
A seleção, segundo Pucci, é feita através de um questionário, abordando assuntos como a pobreza mundial e as propostas para mudanças. “São vários os critérios para a seleção. Têm que ser pessoas com formação superior, experiência em trabalho social e ter propostas do que eu poderei fazer no programa. Enfim, tem que ter um ideal social, ideal de mudança. Pelo que entendi, nossa função lá é formar líderes de comunidades. Já numa segunda etapa, é a preparação da documentação e o pagamento do programa no valor de U$ 4,2 mil. Depois, vem a documentação no Brasil com passaporte e visto, mas eles enviam uma carta de recomendação”, explica.
A preparação para o trabalho...
Nos primeiros seis meses, Júlio Pucci ficará na sede da instituição em Dowajack, no Michigan. “A sede da II CD, fica em Dowajack um local afastado da cidade, uma fazenda auto sustentável, onde plantam hortaliças usando adubo orgânico, um jardim onde se pratica os handswork (trabalho com as mãos) para desenvolver o tratamento com as mãos; além disso, divulgam os trabalhos com comidas das pessoas de várias partes do mundo que moram lá. Ali, eu ficarei durante seis meses, me preparando com aulas de inglês e sustentabilidade. Além da parte prática, que é o trabalho nas atividades da fazenda, temos aulas teóricas de Política, Economia, Comunismo, Socialismo e tudo em Inglês. Terei que tomar cuidado para não voar”, diz com uma boa risada, acrescentando: “Depois, em Moçambique, será mais fácil, porque eles falam português”, comenta, aliviado. “Entendo que nosso objetivo na África será o de preparar os africanos para se auto sustentarem, ganharem seu dinheiro, formar professores, instrutores”, explica, acrescentando que a viagem e as atividades na África são em pequenos grupos. “Não é um trabalho individual, são grupos de quatro, cinco e mais um coordenador, que eu vou conhecer lá. Retornando, permaneceremos mais dois meses na sede, no Michigan para a avaliação das atividades”, informa.
O lado fraternal da vida...
Mesmo não sendo um trabalho totalmente voluntário, porque os interessados estão pagando a viagem, Júlio está muito feliz. “Novas experiências, o novo me atrai e, depois, poder doar-me será bom. Ultimamente, ando lendo muito sobre o amor incondicional, e tenho procurado, nas horas vagas, vivenciar isso. Às vezes, com ações simples como parar para conversar com alguém, visitar alguma pessoa sozinha, doente. Tenho buscado novas experiências, aprendendo a conhecer o outro. Creio que o conhecimento é como um manto que nos dá sustentação para enfrentar o desconhecido, por isso estou indo para o desconhecido para buscar conhecimento e amor”, enfatiza.
Coração e braços abertos...
Júlio foi, mas, digamos, meio que no escuro, porque, na entrevista, demonstrou isso. “Estou indo na entrega. Não sei ainda o que vou fazer, só vou descobrir nesses seis meses de preparação, assim como, vou conhecer os companheiros de grupo, que podem ser de qualquer parte do mundo. Mas, tenha certeza de que estou indo de coração e braços abertos. Cheguei num ponto na vida, que conheci e consegui bens materiais, meu nome ficou conhecido de maneira respeitosa pelo que realizei, tive amores, enfim, vivi o ciclo dos homens. Só que, de repente, veio um vazio, então vou buscar preenchê-lo de um jeito que desejo: servindo o outro. Sei que será difícil, quase utópico, mas vou conseguir”, desabafa, ressaltando: “Vejam bem, não vou me ausentar como rebelde, só quero ver o outro lado da vida de forma mais fraternal”.
Muita música, vivência e experiência...
Julio nasceu, cresceu e fez boa parte dos estudos em Sacramento, na EE Cel. José Afonso de Almeida até o 2º ano do Ensino Médio, o 3º cursou no Colégio Rousseau, mais um ano de cursinho no colégio Objetivo, em Uberaba e, a partir de então, cursou Musicoterapia, na Unaerp (Ribeirão Preto), concluindo o curso em 2006. Dos estudos realizados na cidade, destaca os anos do Coronel. “Foi um tempo muito bom, em que os valores eram muitos focados, a amizade, a irmandade, família. A gente não ficava só estudando. Tenho muita saudade daquele tempo, dos colegas e professores, que eram como pais e trago isso comigo até hoje”, lembra. Na bagagem, seu violão, o instrumento do artista nato, expert, herança do pai, Lelinho. “Comecei a tocar festas do Dia das Mães e dos Pais e outras atividades que tivessem músicas e no Colegial pegamos a mania de tocar ao vivo na hora do intervalo, a participação no FACC, enfim, sempre desenvolvendo a arte musical. E ainda hoje sou convidado para ministrar dinâmicas, workshops da musicoterapia inclusive para professores. A música é o instrumento para a busca da harmonia das pessoas”.
A vida na universidade...
“Na universidade a vida foi maravilhosa. Eu me defino antes e depois da universidade. Lá eu era um dos cabeças, havia muitos encontros e interação. Nessa área musical tive a oportunidade de conhecer grandes mestres e crescer no jazz, no erudito e no popular. Na filosofia, conheci antropólogos, sociólogos, filósofos e de cada um a gente vai absorvendo um pouco. Na religião, pude praticar o budismo por dois anos, conhecendo a filosofia, os princípios da religião. A universidade foi um tempo de fusão cultural, que trago comigo e que me fizeram compreender as diferenças no contexto humanístico, até porque, nos estágios, atendíamos pessoas de várias classes sociais e visitávamos áreas muito precárias. E, através da dor que todos trazem para o terapeuta, passamos a ver que todos são iguais, todos são uma coisa só. O ser humano em si é muito bonito, mas a essência dessa beleza são as diferenças”, filosofa.
A volta à terra natal...
“Me formei em 2006 e permaneci por mais um ano em Ribeirão, por conta das bandas que integrava e que me sustentavam nesse período. Era a forma de eu ter dinheiro para me sustentar lá, porque como recém formado, o que ganhava não dava para aluguel, comida, aí eu supria as necessidades tocando em bandas. Mas já nesse um ano, eu vinha a Sacramento a cada 15 dias para fazer trabalhos voluntários e divulgar a musicoterapia, que até então era uma profissão nova, inclusive no Brasil. Eu ia à APAE, ao Lar Solidário, Lar S. Vicente, Santa Casa, até que, no final de 2007, comecei a receber propostas de trabalho na cidade e retornei às origens, onde permaneci até os dias de hoje”.
O palhaço Júlio Pucci...
A arte de fazer palhaçadas é também um dom de Pucci. Começou com os 'Doutores da Alegria', fazendo brincadeiras e animando os enfermos da Santa Casa, acompanhado por um grupo de amigos. Daí resultou o bloco carnavalesco, 'Bloco da Alegria', mostrando toda sua performance, além de trabalhar em várias escolas e instituições. “E, como freelancer, toquei em algumas bandas, ministrava aulas de música (violão, bateria, guitarra e contrabaixo) e, durante dois anos, workshops na Uniube e UFTM, com o objetivo de levar a arte para os médicos e estudantes, mostrar que arte, no meu caso a música, também pode curar e foi uma excelente experiência”, lembra.
Muito que agradecer...
E assim Júlio Pucci foi tocando a vida nas terras do Borá, levando a sua arte e fazendo arte por onde passava, até para angariar fundos para a viagem. Para ele o coração vai apertando no momento da partida, a ansiedade é grande, mas tem muito que agradecer, a Sacramento de um modo geral. “A todas as pessoas que acreditaram no meu trabalho, que me ajudaram. Eu olho para Sacramento e vejo pai, mãe, amigos. Eu vou, mas eu volto e trazendo mais na bagagem”, finaliza, despedindo-se.