Os irmãos Marcondes e Mário Lúcio Ribeiro da Silva há 30 anos fundaram a Maramar, empresa de transportes de passageiros, que há 16 é a responsável pelo transporte urbano na cidade. A empresa existe legalmente há 30 anos, mas o trabalho dos irmãos começou bem antes, em fins dos anos 1970, com a linha de ônibus do Quenta Sol, ambos muito jovens. “Eu, de cobrador, passei a motorista, com 17 anos dirigia o ônibus naquelas estradas rurais”, recorda Mário Lúcio, confessando uma transgressão.
Naturais de Ituiutaba, Marcondes, 56, Mário Lúcio, 52 e a irmã Marlene, 57, são filhos de Messias Bernardo Silva e de Dorvalina Vieira de Queiróz. Ainda crianças, perderam a mãe num acidente de trator. Desgostoso, o pai juntou os filhos e voltou para Sacramento e foi morar na região de Quenta Sol, onde nascera. Pouco tempo depois, optou por Sacramento, mais uma mudança, dessa vez definitiva. Na cidade, educou muito bem os meninos dentro do Protestantismo. Prestes a completar 91 anos, Seu Messias recita com facilidade e de cor capítulos e versículos da Bíblia, livro que lê diariamente, alternando as leituras com as lides na horta de verdura que cultiva num terreno ao lado da garagem da empresa. Os irmãos seguiram os ensinamentos do pai que os fez fieis à religião e à unidade familiar.
Ambos, Marcondes e Mário Lúcio são pais de família e vão passando aos filhos as lições que aprenderam desde criança. Marcondes é casado com Rivanda Carvalho, duas filhas e uma neta; Mário Lúcio é casado com Adalgisa Augusto Silva, dois filhos. Marlene é solteira e cuida do pai com a ajuda dos irmãos, que estão sempre presentes. Uma família exemplar. A bonita história de vida e de trabalho de Marcondes e Mário Lúcio é mais um registro do ET, nestes 45 anos de história. Vamos conferir.
ET - Antes da Maramar, vamos começar a falar lá atrás, começar por seus pais...
Mário - Papai nasceu na região de Quenta Sol. Ali ele cresceu e viveu boa parte da juventude e conheceu o Protestantismo, influência de um primo dele, Argemiro Faria Lobato, que foi um dos pioneiros do Protestantismo no município e que se tornou muito amigo do Sr. Leonardo Nye. Argemiro morava aqui na cidade, mudou para Quenta Sol e lá começou a implantar a religião. Papai abraçou a doutrina e resolveu ir para Ituiutaba, um dos grandes centros da nossa religião em Minas Gerais e lá conheceu a mamãe. Casaram-se e ficaram morando em Ituiutaba. Possuíam um sítio e lá mamãe faleceu num acidente de trator em 1970. Papai desgostou, vendeu tudo e voltou para o Quenta Sol, onde moravam sua mãe e outros familiares. Ficamos no Quenta Sol dois anos e meio e depois mudamos para Sacramento.
ET – Pra estudar ou pra trabalhar?
Marcondes – Mais pra trabalhar. Papai foi trabalhar com o Sr. Leonardo Nye, na máquina de arroz, que havia na descida da rua Tiradentes. Lá hoje, é uma oficina mecânica. Estudamos na cidade só por uns tempos. Mas antes de chegarmos aqui, estudamos no Quenta Sol. Quando papai resolveu voltar, éramos crianças. Mário tinha de oito pra nove anos e eu de 12 pra 13. Fomos para o Quenta Sol e nós dois fomos trabalhar na Pinusplan. Eu, no plantio, e o Mário, no viveiro. Para mim isso foi bom, porque me aposentei aos 52 anos, aos 14 anos eu já tinha carteira assinada, mas o Mário Lúcio, não, era só nos recibos. Vimos pra cidade e eu passei a trabalhar na marcenaria de Sr. Leonardo, no bairro do Rosário, onde é hoje o depósito do Scala. Depois fui para a padaria JB, dos irmãos Jerônimo, que passou depois para Padaria Sacramentana, e numa padaria em Rifaina. Estudo mesmo foi só até a sexta série, incompleta. O Mário Lúcio sempre foi top na escola, mas eu nunca gostei e não voltei mais a estudar. O mundo e a vida foram minha escola.
ET – E você, Mário, mais jovem, arranjou também um trampo logo?
Mário Lúcio - Eu iniciei na loja Central do Dedé por dois anos, depois para a loja de calçados do Juvenal, irmão do Dedé, além de outros bicos. Eu entregava pão de madrugada pra Padaria JB e estudava à noite. Só que não aguentei o batidão. Levantava às 2h30 da madrugada pra entregar pão e, às 8h00, começava na loja, e, às 7h da noite já estava na escola. Tive de fazer uma opção, estudo ou trabalho. Não deu outra, saí da escola na sexta série. Só voltei a estudar há dois anos atrás. Eu resolvi fazer um curso de Torneiro Mecânico, que exigiu a conclusão do Ensino Fundamental (8ª série), então, fui para o Telecurso passei num ano. Aí empolguei e decidi fazer também o Ensino Médio. Saí muito bem, fechei todas as matérias.
ET – Mesmo assim, não era puxado conciliar o trabalho de balconista de loja com padeiro de padrugada?
Mário Lúcio – Muito. Tanto que não aguentei e larguei a loja, optando pela padaria que rendia mais e cheguei a padeiro. Saí da padaria pra ser cobrador de ônibus. Meu tio, que morava no Quenta Sol, comprou a linha e me levou pra trabalhar com ele, de cobrador do ônibus. Como meu tio era muito sistemático e sem muita paciência para mexer com o povo, que não é fácil, resolveu vender a linha. Como eu já dirigia por aquelas estradas, ele me ofereceu a linha. Vi que era um bom negócio, porque lá na região, naquela época, só havia dois carros. Chamei o Marcondes, mostrei que o negócio era bom e decidimos comprar a linha, mas...
ET - ... Com que dinheiro?
Mário Lúcio - Isso mesmo. Só que temos um amigo lá de Ituiutaba, que havia mudado pra Sacramento naquela época, o Sr. Olavo Miguel, que frequenta nossa Casa de Oração. Um dia, o Marcondes falou com ele do negócio, que era coisa boa, e ficou nisso. O Sr. Olavo, caladinho, saiu daqui, foi a Ituiutaba, onde tinha os negócios dele, pegou todo o dinheiro que precisávamos e nos entregou limpinho...
Marcondes - Naquela época, 1978, NCR$ 24 mil (cruzeiros novos), pra pagarmos em 24 meses. De primeiro, não financiavam as coisas, mas havia a confiança. Aí fomos trabalhar pra pagar. Nesse ano tirei minha carteira de motorista.
Mário Lúcio - Devemos isso tudo que temos ao Sr. Olavo Miguel, que confiou na gente. Fomos trabalhando e pagando. Ficamos com a linha do Quenta Sol três anos, mas como a gente sempre quer mais, vendemos a linha para o Luiz Magnabosco (Dídia) e compramos um caminhão, que era nosso sonho. Com o caminhão, caímos na estrada, os dois na boleia, alternando no volante. Viajávamos pra todo lado, transportando o que aparecesse de madeira a nióbio, de Araxá pra Santos. Depois, vimos que caminhão era bom, mas não era tanto assim. Era muito perigoso. Resolvemos parar, mas a aula foi boa, aprendemos muito.
ET – De boia-fria a marceneiro; de vendedor de loja a padeiro; de motorista de jardineira a caminhoneiro... E depois?
Mário Lúcio – Voltamos à jardineira. No que vendemos o caminhão, o Dídia ganhou as eleições (1983/1988-1989/1992). E como não podia ficar com a linha, que era municipal, ele nos ofereceu a linha de volta e, também a linha que havia comprado, a de Jaguarinha, além de mais um ônibus que fazia a Resa - Reflorestadora Sacramento, que cuidava da floresta de pinus. Compramos os três ônibus dele e fomos trabalhar.
Marcondes - E como eram três ônibus tivemos que abrir firma. Abrimos a empresa, oficialmente, no dia 1º de abril de 1983, e nunca mais paramos. Começamos com o transporte para Quenta Sol, Jaguarinha e Resa. Tentamos fazer turismo, porém não deu certo. Fomos para a Adservis, empresa contratada pela Cemig para fazer a limpeza da vila de Jaguara, e ali trabalhamos durante quase 15 anos. Tudo isso com nosso próprio esforço, sempre reconhecendo aquela primeira ajuda do Sr. Olavo.
ET - Então, são 30 anos de empresa, que tem um nome um tanto estranho, Maramar, aqui bem no interiorzão... Como nasceu o nome?
Marcondes - O nome da empresa é engraçado mesmo, porque ela nunca foi de mar a mar, só de córrego a córrego (risos). Mas tem uma relação, sim, não com Sacramento, mas com nós mesmos. O nome vem das primeiras letras de nossos nomes, Marcondes e Mário, uma criação do David, filho do João Moicano, que na época trabalhava na loja de peças de seu pai, onde comprávamos. Conversando com o David, falamos que precisávamos de um nome para o nossa empresa. Ele, na hora, disse que iria arrumar um, perguntou os nossos nomes e disse: “Taí, Maramar”. Gostamos e ficou o nome. Muitos anos depois é que fomos saber que existe outra empresa com este nome em Cuiabá, Transporte Maramar, e dizem que há uma outra no litoral paulista...
ET - E quando vocês começaram a fazer o serviço circular da cidade?
Marcondes - Começamos em 1997, no Governo do Biro. Mas antes, quando o Dr. José Alberto, era prefeito (1977/1982), ele pôs um coletivo por conta da prefeitura e que circulava umas três vezes por dia. O Dídia entrou, acabou o circular. No final do governo dele, tentamos colocar um circular, mas foi só prejuízo. No primeiro governo do Joaquim (1993/1996), o coletivo voltou a ser da Prefeitura. Aí o Biro ganhou as eleições (1997/2000-2001/2004) e nisso acabou o serviço da Adservis, em Jaguara. Voltamos à cidade e começamos com o circular na cidade, mas dessa vez, em parceria com a Prefeitura.
ET – Como era essa parceria?
Marcondes - Os nossos ônibus eram subsidiados pela prefeitura. Na época, houve uma concorrência bem participada, com empresas de Araxá, Uberaba, Uberlândia, até a Vera Cruz de Ribeirão Preto, mas nós ganhamos e iniciamos o serviço em 1997, o primeiro ano do governo do Biro. Quando o Joaquim foi eleito em 2004, continuamos, mas fizemos outro tipo de parceria: a Prefeitura entrava com os ônibus e suprimentos (combustível e peças) e nós, da Maramar, entramos com o espaço (a garagem) e toda mão de obra, manutenção em geral, os motoristas e cobradores. Esse contrato foi renovado nos mesmos termos com o prefeito Baguá e, agora, com o prefeito Bruno. Toda a arrecadação é depositada em Banco em nome da Prefeitura. As conferências são feitas mensalmente através da contagem de passageiros que passam pela catraca e dos passes recebidos. Nós temos um contrato com um valor fixado na licitação. O Baguá comprou dois ônibus e agora o Bruno comprou esse com acessibilidade para cadeirantes.
ET - A cidade tem muitos cadeirantes que usam o transporte? Como eles receberam a novidade?
Marcondes - A aquisição desse ônibus vem atender a legislação. Começamos a rodar no dia 3 de junho e ainda não foi usado por nenhum cadeirante, mas antes, algumas vezes houve procura, teve inclusive requerimento ao prefeito e cobrança ao Promotor de Justiça, porque há uma lei que exige essa acessibilidade (Lei nº 10.098/2000). Este é um carro que tem um horário diferenciado das 6h às 8h30; 10h às 13h e das 15h30 ás 18h30, ou seja, ele transita nos horários de pico.
ET - Vocês disseram que quando tentaram rodar o circular deu prejuízo, e hoje, é rentável para a Prefeitura?
Marcondes - Desde o começo até hoje, esse transporte é deficitário, ele não se sustenta, não dá retorno, porque a grande maioria dos passageiros viaja de graça. Como eu disse, toda a arrecadação é repassada a Prefeitura. Mário Lúcio faz todo o controle dos passageiros pagantes que passam na catraca (roleta) e dos passes gratuitos que também passam pela roleta, que são a maioria dos usuários do transporte - trabalhadores, funcionários da Prefeitura, idosos acima de 60 anos e estudantes. E, assim, o número de passageiros pagantes não é suficiente para mantê-lo, com o custo da passagem a R$ 1,50.