Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

A bola está com Bebeto Stival

Edição nº 1376 - 23 Agosto 2013

Pelo porte físico esguio, atlético, parecendo uma palmeira, ele era conhecido entre a molecada que fazia rachinha na rua da Estação por Babaçu. Logo que completou 18 anos rumou para São Paulo, com um destino certo, trabalhar no esporte. E se apresentou, claro, com o nome de batismo, José Humberto Stival, filho de Domingos Stival (Mingote) e de dona Maria  Abadia Stival, ambos falecidos, ela no último dia 8. Buscou emprego, formou-se em Educação Física, com especialização no Futebol, e depois de muito ralar – ele mesmo confessa – chegou às equipes de ponta da primeira divisão do estado de São Paulo como Bebeto Stival, o preparador de equipes de base. Conheça um pouco de sua história.

 

ET – ACM, Palmeiras, Santos... Como você chegou até lá?

Bebeto – Não foi fácil! Essa história tem 38 anos de muito trabalho. Cheguei em São Paulo aos 18 anos... Fui para trabalhar e cuidar da minha vida. Até conhecer a cidade e me organizar não foi fácil, era algo até bastante delicado. Aos poucos fui me adaptando e gostando da cidade e todos os dias viajava de São Paulo a Mogi, até 1979, quando me formei e fui fazer o que gosto, esportes. É uma coisa que me faz muito feliz.  Porém não foi fácil, foi uma luta muito árdua...

 

ET - Com o diploma na mão, já procurou serviço nos clubes?  

Bebeto – Não, antes de concluir o curso comecei a trabalhar na área. Naquela época podíamos começar o estágio em equipes esportivas se tivéssemos conhecimentos na área. Meu primeiro trabalho foi um estágio remunerado na Associação Cristã de Moços (ACM). A partir dali comecei a dar os primeiros passos no esporte dentro de São Paulo. Dentro da ACM, conheci o primeiro diretor de futebol, Vinícius Zamucci, do Palmeiras, que me indicou para um estágio no Palestra Itália, sem remuneração. E eu claro, aceitei. Ele me abriu as portas no esporte, no futebol profissional. E esse era meu objetivo, sempre quis fazer Educação Física e trabalhar com futebol. 

 

ET-  E o Babaçu bom de bola, atleta alto, meio campista, físico invejável, por que não chegou a jogar?

Bebeto - A bem da verdade acredito que poderia ser um bom jogador. E nessa realidade do nosso futebol, hoje, eu seria um grande jogador. Na minha época, o nível era muito alto, havia feras no futebol. Hoje, não, é um e outro. Infelizmente, hoje, qualquer pessoa que tropeça na bola vira craque.  Quando às vezes me perguntam sobre isso, eu respondo: Na época em que eu tinha condições de jogar futebol profissional,  não deu, depois eu já estava com bem mais de 20 anos para iniciar.

 

ET - Terminado o estágio na Palmeiras....   

Bebeto - Fiquei estagiando no Palmeiras por seis meses e continuava na ACM, até que recebi um convite para permanecer no clube como funcionário, obviamente, aceitei, imediatamente. E, para minha felicidade, o técnico na época era o Telê Santana, com quem tive o prazer de conviver por dois anos. Fizemos uma amizade muito grande. Ele muito disciplinador, muito organizado me deu ensinamentos muito grandes de como seguir na vida para ser um profissional respeitado. Telê foi uma escola para mim.   Com  um salário razoável no Palmeiras, deixei a ACM e passei a me dedicar só ao clube. Nesse ínterim, o Palmeiras montou uma academia de ginástica, na época, coisa de primeiro mundo. Durante o dia eu fazia o trabalho no futebol da Palmeiras e à noite eu ia coordenar a academia. E assim foi por quatro  anos.

 

ET - Deixou o Palmeiras e foi para ...

Bebeto - O Nacional Atlético Clube, uma equipe da 2ª divisão profissional de São Paulo. Deixei o Palmeiras em 1982, quando era técnico Moracy Santana. É bom enfatizar que na época do Nacional, no horário de almoço, eu dava suporte técnico para outras equipes universitárias e trabalhava como técnico também. São Paulo tem um esporte universitário muito intensivo, hoje as competições diminuíram, mas até alguns anos eram muito intensas. Valia a pena trabalhar na área e era também um celeiro de atletas. 

 

ET – E do Nacional?

Bebeto – Fui para a Portuguesa de Desportes. Ali fiquei quatro anos na função da qual sou especialista, a preparação técnica. Sempre gostei muito de trabalhar essa formação atlética dos jogadores.  Sempre estudei, porque  futebol tem que ser estudado, por entender que a gente tem que fazer algo diferente, tem que ser diferente  naquilo que a gente faz. Aliás, no esporte em geral, temos que ser profissionais hábeis, confiáveis e competentes  para fazer um trabalho diferenciado.

 

ET - Saindo da Portuguesa...

Bebeto - Eu criei uma escolinha de futebol, a Bebeto & Cia, que funcionou durante 15 anos com uma equipe de profissionais muito boa. Concomitante com a escolinha do Brasil, tive uma boa experiência com esse mesmo tipo de trabalho, nos Estados Unidos. Morei em Chicago por um bom período e intercalava o tempo entre essa cidade, na época da temporada de jogos lá, com a Escolinha no Brasil. Eu ficava nos Estados Unidos por um tempo e retornava ao Brasil no inverno. Da minha escolinha em São Paulo saíram grandes craques, como Kaká, um de nossos maiores destaques, que ficou conosco dos 10 aos 13 anos, e hoje está no Real Madrid. Também por dois anos, o Tiago Motta, que está no Paris Saint-Germain (PSG);o Juan, hoje lateral esquerdo do São Paulo e muitos outros. 

 

ET - Por que os Estados Unidos?

Bebeto - Eu queria conhecer algo diferente... E digo pra todos que foi a maior escola de formação, de organização, disciplina e de aprendizado que tive. Nos primeiros quatro anos eu ia e voltava. Depois me fixei um pouco mais, porque recebi convites para ficar no país e assim eu ficava oito meses lá e quatro no Brasil, justamente no inverno americano, que é quando fecham as portas para o futebol de campo, o conhecido outdoor. Nesse ínterim, encerrei as atividades da escola de futebol, porque não dava tempo de dar a devida atenção.  Mas foi nos Estados Unidos que adquiri e trouxe para o Brasil um conhecimento maior na área de futebol. 

 

ET – O que de diferente você trouxe do exterior?

Bebeto – Por exemplo, as clínicas para avaliação de atletas no lugar dos terríveis “peneirões”, aqueles “rachas” formados por dois times. São 11 atletas de um lado e 11 do outro e a bola no meio a rolar... E o 'olheiro' fica lá com uma prancheta na mão observando e assinalando os mais talentosos. Mais talentosos entre aspas, porque, na verdade, trata-se de uma observação muito superficial. Aliás, é o maior desrespeito, principalmente com a criança. 

 

ET – Por quê? Não foi assim que foram descobertos os Pelés da vida?

Bebeto – No tempo do Pelé, sim, mas hoje, não. Não há espaços públicos mais nos dias de hoje como antigamente, em que as crianças se davam ao luxo de jogar suas peladas em campinhos improvisados, os famosos campos de várzea, todos os dias. Aqui mesmo em Sacramento, tínhamos vários. O Brasil perdeu esses espaços e não recriou outros, como há muito tempo vêm fazendo os Estados Unidos e vários países da Europa. A partir de então, venho fazendo o que chamamos de 'Clínica de Futebol'. Essa é a maneira como o futebol americano e europeu avaliam um atleta. Existem bibliotecas com material didático super interessante para se estudar esportes. 

 

ET – Lembra dos campinhos de Sacramento?

Bebeto – Se me lembro!!.. Antigamente, qualquer cantinho de rua tinha um grupinho de meninos correndo atrás de uma bola, às vezes, marcavam o gol até com a pasta escolar. E daí vinha o resultado. Hoje, eu venho a Sacramento não vejo mais futebol na cidade.  Os clubes não jogam mais, não há mais aquele jogo de domingo à tarde: Atlético, Marianos, Treze de Maio. Havia até o conhecido 'Cascudo', os aspirantes, que faziam a preliminar, antes do jogo dos titulares, isso era tradicional na nossa cidade. Os times treinavam segunda, quarta e sexta-feira, pra jogar no domingo. Era muita gente, uns jogando e um monte de gente no banco querendo entrar. Isso acabou, por quê? O  pessoal era abnegado, tinha paixão por aquilo, os técnicos eram jogadores da velha guarda e a gente ia assistir, encontrava os conhecidos, torcia.


ET – E de alguns atletas, lembra?

Bebeto – Sim, guardo na memória o José Monteiro, o Sô Zé, do Marianos. Comecei com 15 anos de idade lá com ele. E com ele, o Cavaco, o Nonô, Robim, Zé Pretim, Zé Aleixo, Turunga, Weber, Som, Tody e tantos outros. Meu pai saía da fazenda a pé comigo pra virmos para os treinos e aos jogos. Hoje eu sou o que sou por ele. Só que hoje não existe isso mais, a habilidade da criançada, dos jovens passa agora pelo vídeo game, pelo teclado do computador, quer dizer, ela passou dos pés para as mãos. 

 

ET – Estão mais prá Vôlei do que para o Futebol, que tem o passe como seu principal fundamento...

Bebeto – Então! E o passe é dado com os pés. Por isso, a grande dificuldade que encontramos em trabalhar com crianças hoje é essa parte coordenativa dos membros inferiores. Eles não exercitam mais as pernas, os pés... Tem criança que não sabe nem chutar uma bola. E eu enfatizo isso em todos os lugares para onde vou: o principal fundamento do futebol é o passe. O Barcelona treinou seus meninos desde cedo e vimos a seleção espanhola agora na Copa das Confederações, abusando desse fundamento. 

 

ET – As famosas tabelinhas Pelé – Coutinho não existem mais...

Bebeto – Não existem, porque não dão conta mais. Observe um jogo na TV, raramente se vê uma troca de passes. E a quantidade de passes errados! E porque ocorre isso? Pela falta de base. O cerne do nosso futebol está desaparecendo, infelizmente. Essa queda técnica vertiginosa que teve o nosso futebol, não é por acaso: falta base. Se não temos mais as várzeas, temos que criar esses espaços e ensinar. O futebol profissionalizou, tem que haver escolas como o Barcelona tem, como os Estados Unidos têm. 

 

ET – Prá não passar vexame do tipo que o Santos levou do Barcelona...

Bebeto - Parecia profissionais contra amadores, não foi? Infelizmente. E esses 8x0 foram avisados. Quando saí do Santos, no ano passado, deixei lá muitos conselheiros amigos, que continuam em contato, que me ligam para trocar ideias, pedir informações sobre atletas.   E eu te digo, aqueles meninos foram jogados numa jaula de leões. 

 

ET – Mas você não cuidava da base do Santos?

Bebeto - Os atletas que estão no profissional hoje, apenas quatro passaram por mim: Pedro Castro,  Leandrinho, Giva e Citadino. Essas clínicas, como base de formação dos adolescentes, são recentes no Brasil. Na Europa esse método vem de longas datas. Meu trabalho no Santos foi com a categoria de base, a partir de 2009,  e a minha safra principal, foi o sub-17,  90% foi formada por mim. Fui eu que busquei  os atletas, viajei o Brasil inteiro fazendo clínica, viajei por ligares que jamais imaginei que fosse conhecer. A prefeitura queria que o Santos fosse até lá e eu ia fazer as avaliações. 

 

ET – Como são feitas essas avaliações através da 'clínica'?

Bebeto – A 'clínica' funciona assim. Colocam-se os meninos ativos o tempo todo. Num espaço reduzido, por exemplo, 20 x 20 m no início, jogam cinco contra cinco, sem goleiro, e ali trabalhamos a posse de bola, já testando o fundamento básico que é o passe.  Depois, cinco contra cinco num espaço  40 x 40 m. Aí vou ver passe, toque, movimentação, dinâmica de jogo, domínio, como ele bate na bola, porque o jeito de bater na bola é importante.  Um atleta que tem um diferencial, até a maneira que ele trata a bola é diferente...

 

ET – O Seedorf...

Bebeto – Disse tudo. Até o som, quando Seedorf, bate na bola é diferente. Ele bate e a bola parece que diz: 'Eu vou até lá, porque o senhor está mandando'. Isto é, a bola o respeita. E hoje, a grande maioria, 95% do futebol brasileiro, a bola está judiando dos atletas, literalmente judia, porque eles não estão conseguindo fazer com que a bola os respeite. 

 

ET – Enfim, se o Brasil não se profissionalizar nessa estrutura, vamos ficando cada vez mais para trás. É isso que você quer dizer?

Bebeto - Não tenho a menor dúvida disso. O Brasil já está vivendo essa realidade. A cidade de São Paulo, onde vivo hoje, nesses últimos 15 anos, desapareceu com três mil campos de várzea, para dar lugar a edifícios. E isso não sou eu que estou dizendo, não, são dados estatísticos. Agora, você imagina o que são três mil campos de futebol, três mil espaços onde poderiam estar crianças, jovens, adultos praticando esportes. 

 

ET – Os próprios governos não fazem por onde... Nos novos loteamentos abertos, enxugaram tudo, os lotes de apenas 200 m², as ruas, os passeios... É uma pena! Não vemos um espaço público exclusivo para a modalidade, quando muito uma minguada praça, um posto de saúde, uma creche... E por aí vai. 

Bebeto – É verdade. É terrível essa especulação imobiliária. Estamos perdendo espaços, onde se poderia resguardar um campinho para a criançada se desenvolver naquilo com que mais nos identificamos, o futebol. De onde brotava aquele celeiro de craques, virou tudo imóvel, objeto de compra e venda, especulação, lucro... 

 

ET – E como descobridor desses talentos, onde você os busca hoje, fora das clínicas?

Bebeto - Em São Paulo, por exemplo, temos hoje uma competição de futebol amador, denominada Copa Kaiser, que é fantástica, vibrante, formada por equipes de todos os bairros. Vai afunilando até ficarem os quatro melhores. Eu  não perco um dia, por que lá podemos ver que 90% dos garotos que estão jogando são meninos oriundos de base, que não tiveram condições, por estarem escondidos em lugares onde ninguém pode identificá-los e vê-los. É este o trabalho que faço hoje.

 

ET – Nessa pindaíba toda dos clubes brasileiros, como fazer para montar essa estrutura de formação da Escolinha de Base? E há clubes hoje no Brasil com essa estrutura?

Bebeto – A palavra é 'profissionalização'! Sem isso, é quase impossível, porque é muito caro manter uma Escolinha com o nível desejado, a começar da exigência de uma área considerável. No Barcelona, por exemplo, as crianças moram lá, estudam, têm tudo. No Brasil, hoje, enchemos os dedos de uma mão, com clubes que fazem esse trabalho como deve ser feito: Internacional, de Porto Alegre, o Goiás, Atlético Mineiro, Cruzeiro e o São Paulo F.C, que tem uma das maiores estruturas do Brasil. O Santos está investindo, mas tem um problema, o espaço físico não é satisfatório, está muito espremido na serra que é área de preservação permanente, não pode mexer. 

 

ET – E essa privatização toda, com empresários mandando no futebol?

Bebeto – É outro grande problema. Infelizmente, isso vem acontecendo nos clubes, Hoje o futebol mudou de mãos, os clubes estão sendo privatizados por empresas e empresários, que vão lá, ficam dois três anos sugam o que podem do clube e depois  abandonam, deixam um vácuo que o clube tem que reiniciar tudo quase que do zero. Para ser franco, o futebol no Brasil virou uma banca de mercado e isso é um dos fatos também da queda técnica. O empresário quer ganhar o dinheiro dele. 

 

ET - Por que você deixou o Santos? 

Bebeto - Eu cheguei no Santos para trabalhar nas categorias de base e com o objetivo de reestruturar o trabalho, montar um trabalho novo, fazer algo diferente, moderno. Em 2012, eu tinha 260 garotos dentro das categorias sub-11 a sub-20. Eu chegava diariamente ao clube às 6h30, às 7h00, impreterivelmente, abria os vestiários para os meninos do sub-11, que trocavam e tomavam o ônibus para o CT do clube. Isso o dia todo, com os meninos todos estudando no contra-turno do treino. Ninguém ficava sem estudar. E fiz esse trabalho muito bem. Mas, de repente, você percebe que está mexendo com interesses de muitos. E essa foi uma das razões de eu ter saído. Como era um trabalho inovador, houve blogs que vinham fazendo algumas críticas a respeito do meu trabalho. Quando alguém faz algo diferente do que é feito isso mexe com as pessoas, principalmente no esporte, onde corre muito dinheiro, onde você muitas vezes tem que atender à vontade de alguns, senão não fica... Além disso, algo diferente que você faz no esporte, mexe com a vaidade  das pessoas.

 

ET - Deixando o Santos o ano passado, você foi pra onde?

Bebeto - Fui para Monte Azul, um clube do interior paulista, a convite do Fernando Silva, da diretoria executiva , que me levou para o Santos. Ele sempre quis que eu fosse trabalhar com ele, por conhecer minha filosofia de trabalho. Como estou com escritório montado em São Paulo, estou indo a Monte Azul a cada 15 dias pata fazer toda a assessoria. Montamos uma equipe técnica e fico na assessoria, cuidando do trabalho da equipe e na captação de atletas. É um projeto de dez anos, muito bem elaborado, com um equipe de trabalho muito competente, profissionais de alto nível, muitos saíram comigo do Santos. Retorno financeiro é bom, mas a gente precisa ter satisfação, ter algo diferente, por em prática as suas ideias.  E eu busco algo diferente. 

 

ET -  Qual é o futuro do futebol brasileiro?

Bebeto - Olha, eu estou receoso. Vejo no nosso futebol, apenas o interesse econômico, o monetário fala mais alto. Isso é marcante no nosso futebol. Vou citar,  por exemplo,  a Copa do Mundo. Eu não tenho dúvidas  - muitos podem até me criticar - mas essa Copa do Mundo o Brasil não perde. É uma Copa de interesses. Por que a Copa do Mundo depois do Brasil vai para a Rússia? Se você fizer uma avaliação hoje, o dinheiro está na Rússia. Hoje os milionários não estão somente no mundo árabe, os grandes multimilionários estão na Rússia.  Quando o Brasil foi aprovado como sede da Copa estava em franco crescimento e no Brasil falou de instituição privada, o cifrão está participando. Futebol é apenas o produto que ela leva para ganhar dinheiro. Depois da Rússia a Copa será no Qatar. Eu já estive lá e  durante o dia na sombra dá 45 graus. Como é que vão jogar? Só à noite, mas o dinheiro está lá.  

 

ET – E a megalomania dos estádios, hoje, falsamente, denominados de Arenas... Voltamos à Roma antiga, é como se estivéssemos dando os cristãos às feras... O que diz?

Bebeto – Eu digo o seguinte. Vivemos num país que precisa de saúde, de escolas, de infraestrutura, de saneamento básico, pois em muitos lugares não tem isso, e não são poucos. O país precisa, na verdade, de mais cultura, de mais segurança. Sou totalmente contra a Copa e as Olimpíadas no Brasil. E por quê? Se para o meu lado profissional será ótimo. Eu vejo de outra forma, há outras prioridades no país. O Brasil é apenas um país emergente, que não tem sequer os três itens básicos, saúde, educação e cultura. Por que então gastar fortunas com Copa do Mundo e Olimpíadas, se nós  não temos essa infraestrutura básica?   E ninguém quer saber de fazer isso de forma correta, por isso sou totalmente contra. É claro que vai gerar empregos, trazer divisas, ótimo, mas há muitas coisas que vão ser prejudicadas e muito poucos vão enriquecer com esses dois eventos. 

 

ET – Alguma vez você foi convidado para dar esse suporte técnico para se criar uma 'Clínica de Atletas' em Sacramento, ou sugerir o que pode ser feito, aproveitando toda sua experiência?

Bebeto – Não, nunca fui convidado para trabalhar, mas tenho o meu sobrinho Fabrício, que é o secretário de Esportes e já disse a ele para prestar atenção para o que a cidade precisa. Ela precisa criar algo de diferente, algo, mais relevante na área de esportes. Trazer, por exemplo, uma 'Clínica de Futebol, com a participação das cidades vizinhas. Eu virei para cá com prazer. Clínicas têm um custo, claro, alojamento, alimentação, porque é uma equipe de profissionais. Mas eu virei, porque é a minha cidade, meu povo. Aqui eu dei o primeiro chute numa bola. Se ele quiser fazer um congresso técnico, venho e organizo, dou todo suporte, farei o que for preciso.