O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), prova realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) completou 21 anos com 5,5 milhões de candidatos inscritos, o que não é um recorde. 2014 foi o ano com o maior número de inscritos, 8.722 290.
Em 2009, o Enem passou a ser realizado em dois dias seguidos, contendo 180 questões objetivas e uma questão de redação. A partir de 2017, as provas passaram a ser aplicadas em dois domingos, mantendo o mesmo horário de realização O exame realizado anualmente e tem duração de dois dias, contém 180 questões objetivas (divididas em quatro grandes áreas) e uma questão de redação.
O Enem 2018, teve a menos ausência dos últimos dez anos. Dos 5,5 milhões de inscritos, 25% não compareceram, o que representa 1,4 milhão de candidatos faltosos. Já no segundo dia, o INEP (Inep) divulgou que 29,2% do total de inscritos não compareceram para fazer as provas.
De acordo com o INEP, entre 2013 e 2017, as ausências no Enem causaram um prejuízo de quase 1 bilhão de reais aos cofres públicos. Dos mais de 2 milhões de ausentes na edição de 2017, 84% estavam isentos de taxa de inscrição e apenas 4,4 mil (0,2%) conseguiram justificar a ausência e garantir a isenção também este ano.
O INEP divulgou nessa quarta-feira 14, o gabarito oficial das provas. O resultado final está previsto para o dia 18 de janeiro. A nota serve para ingresso ao ensino superior em universidades públicas e privadas.
Estudantes avaliam Enem
De Sacramentos, centenas de estudantes terceiranistas e treineiros das escolas das rede pública estadual (EE Barão da Rifaina e EE Cel. José Afonso de Almeida, com extensão nos povoados de Jaguarinha e Quenta Sol), particular (Colégio Rousseau) e egressos (aqueles que já concluíram o ensino médio) prestaram o Enem.
Veja a avaliação de alguns alunos entrevistados pelo ET.
EE Barão da Rifaina
As terceiranistas da Escola Barão da Rifaina, Tamara de Souza Santana 17 e Tallita Eduarda Cantolini acharam a prova muito completa. “Este foi o meu terceiro Enem e achei a prova bastante complexa. Achei o tema da redação difícil, aliás, foi inesperado e complexo. Como nos anos anteriores, achei o tempo muito corrido. E saí melhor nas provas exatas”, afirma Tamara, que pretende cursar Medicina Veterinária ou Zootecnia, lamentando a menor carga horária das escolas públicas em relação às escolas privadas. “Alguns conteúdos que caíram na provam não chegamos a ver por conta do tempo menor de estudo que temos, em comparação a algumas escolas particulares que têm aula nos dois turnos, então fica uma concorrência meio que desleal, ficamos prejudicadas”, opina.
Para Tallita, o mais difícil foi a redação, que abordou o tema, 'Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados da internet', as fake news. “Foi um tema confuso, porque a manipulação pode ter diversos sentidos, além disso, é um assunto, relativamente, novo. Quanto às demais provas, concordo com a opinião da Tamara, em relação ao tempo de estudo. Nossa carga horária deveria ser bem maior, para seremos melhor preparadas. Vi assunto na prova que nunca estudamos... Acredito que fui bem em humanas, porque tenho mais facilidade. Embora este seja o meu segundo Enem, de modo geral, achei as provas difíceis”, avaliou Tallita, que pretende cursar Agronomia.
EE Coronel
Na Escola Coronel, o ET conversou também com um casal de alunos, a jovem Nádia Caroline dos Anjos Correia 17, e Victor Alcântara, ambos concluintes do ensino médio e ambos também fazendo o terceiro Enem.
Para Nádia, que concorreu como negra, com direito ao sistema de cotas, as provas deste ano foram mais tranquilas que nos anos anteriores. “Por serem mais interpretativas, com questões do nosso cotidiano, tive mais facilidade, especialmente, no primeiro domingo nas provas de Linguagens. Já nas exatas, senti mais dificuldade. Hoje vejo que as questões em si não eram difíceis, mas a forma como deveríamos lidar, a interpretação exigida foi que aumentou o grau de dificuldade. Havia muitas pegadinhas, e o tempo acaba sendo pouco para resolver 90 questões. São questões muito extensas. Olha, eu digo que o Enem nos vence pelo cansaço, mas temos que nos manter ali firmes, porque dele depende nossos futuro”.
Como futura advogada ou professora de História, Nádia defende o sistema de reserva de cotas raciais para negros, índios e quilombolas, criado pelo governo Lula, para corrigir o que é considerado como uma 'injustiça histórica'. “O governo atual fala em acabar com a reserva de contas nas universidades. Eu sou contra, por conta do fator histórico que temos no nossos país, que atrapalha muito o ingresso do negro, índio, quilombolas nas universidades. Haja vista os dados estatísticos apontando que não chega nem a 2% a matrícula de negros nas universidades. É triste ver que, embora nossa população seja maioria negra, muito poucos negros estejam nas universidades. E não é só nas universidades, aqui na minha escola, que é pública, são poucos os alunos negros no ensino médio. Imagine na escola particular”, argumenta.
Para Nádia a questão é social. A maior parte da população negra é pobre. Desde cedo os filhos de famílias negras precisam trabalhar para ajudar em casa. Então, não é questão de ter ou não capacidade para entrar na universidade, é questão de conseguir chegar até lá, porque têm que trabalhar para se sustentar e ajudar a família, e isso vemos aqui em Sacramento. E nas cidades grandes, vivendo em favelas ou bairros periféricos que não conseguem chegar, por conta da acessibilidade”, exemplifica, defendendo que se trata de uma compensação.
“E é até uma compensação, porque quando os negros chegaram ao Brasil não tiveram oportunidades. Quem tinha acesso ao ensino eram os ricos e brancos, quando começou a democratização no Brasil, a partir da abolição, o negro ainda era rejeitado. Somente brancos e alfabetizados podiam votar, sendo que a maioria da população já era negra e não podia votar, por isso é uma compensação e não uma esmola, porque tiveram uma vida árdua e muito triste”, afirma mais, lamentando a decisão do futuro presidente em diminuir a reserva de cotas.
“Bolsonaro diz que vai diminuir a reserva de cotas. Pode diminuir, mas pra isso ele tem que dotar as escolas públicas com a mesma carga horária das escolas particulares e proporcionar o acesso do negro, do índio, do pobre a essas escolas em período integral pra gente poder concorrer em pé de igualdade com os que têm recursos de pagar essas escolas particulares”, defende.
Victor Alcântara 17, que pretende cursar Engenharia Mecânica é também estudante da escola Coronel e fez o Enem desde o primeiro ano. “Foi muito importante fazer as provas nos dois primeiros anos, por conta da experiência que a gente vem ganhando, pois quando chega no 3º é pra valer. Mas comparando com os anos anteriores, achei uma prova bem complexa, embora com questões coerentes e assuntos importantes, principalmente, na prova de Humanas, tais como a homossexualidade, racismo, enfim, assuntos que devem ser refletidos e debatidos na sala de aula”.
Instituto Madiba
Lívia Lemos Menegote Veloso 20, concluiu o Colegial em 2016, fez o IOS e hoje é aluna do Cursinho Madiba. Fez o quarto Enem e percebeu que a cada ano as provas ficam mais difíceis. “Vejo que vem ficando cada vez mais difícil e mais cobrança em cima de conteúdos específicos, especialmente em Ciências Humanas e da Natureza. Felizmente, não parei, fiz o cursinho no Instituto Madiba e me senti bem mais preparada, por isso acertei mais questões. Nas questões interpretativas, um vocabulário bem rebuscado, palavras difíceis. Na minha avaliação, a prova mais difícil foi a de Matemática.
Em relação à redação, Lívia disse que gostou e acredita que saiu bem. “Foi melhor que no ano passado, porque eu já havia desenvolvido algum tema relacionado, que era 'o fenômeno das Fake News nas redes sociais”, então foquei na necessidade de o Estado cobrar das empresas que deixam a população sem a privacidade garantida”.
Sobre a questão que tratou da LGBT, que causou celeuma nas redes sociais, até o presidente eleito intervindo, disse que não encontrou supresa na questão. “Uma questão interpretativa como as demais, aquilo foi mais uma questão de representatividade homossexual, não tínhamos que saber o significado de nenhuma palavra, absolutamente nada daquele dialeto baseado em palavras indígenas, para responder, só precisávamos saber que para construir um dialeto, precisa de uma base material, no caso o dicionário, que a escritora escreveu”, afirma.
E para Lívia, o que causou muita polêmica e comentários, foi a falta da divulgação da questão. “Faltou a foto tanto da questão quanto da pergunta. Eles cortaram a pergunta e postaram só a questão, falando, erroneamente - e isso é Fake News - , que tinha que saber o significado. E não é isso, a pergunta foi clara: o que é necessário para construir um dialeto. Eu errei, porque pensei que era o número de falantes, quando na verdade é uma base material, no caso, o dicionário”, explica, destacando que pretende cursar Medicina e se não conseguir agora vai continuar tentando.
João Pedro Santos 19, concluiu o ensino médio em 2017, na Escola Coronel e fez este ano o terceiro Enem. Também aluno do cursinho Madiba, João disse que a prova deste ano puxou mais. “Encontrei mais dificuldade na prova de Linguagens, porque tenho dificuldade em interpretação. Na Matemática, Ciências da Natureza e Humanas, tive um bom desempenho. Na matemática me faltou foi um pouco de mais de tempo para resolver as questões. Na minha avalição, o tempo acaba ficando muito curto em relação à quantidade de questões, algumas bem grandes. Mas, de modo geral, considero que foi um bom Enem, apesar de ele estar ficando conteudista...
João Pedro também gostou da redação. “Foi um tema gostoso para fazer, até porque eu já havia feito algo semelhante no Descomplica, porém tive dificuldade na intervenção, isto é, apresentar uma solução, até porque o próprio Supremo Tribunal já reconheceu que não há muito o que se fazer a respeito dessa questão”.
Colégio Rousseau
Pedro Henrique Borges 17, estudante do Colégio Rousseau fez o quarto Enem. Fazendo uma comparação, diz que o nível das provas veio aumentando ano a ano. “Eu tinha 13 anos, estava no 9º ano e percebo que o nível de dificuldade veio aumentando. Embora eu não tivesse tanto conhecimento, o grau de dificuldade era menor. Este ano foi bem mais difícil que no ano passado, principalmente nas provas de Linguagens (Português e Literatura) e Humanas. Ciências da Natureza (Física, Química e Biologia) foi mista, tinha questões muito fáceis, mas outras bem difíceis. Também a Matemática, ou eram muito fáceis ou bem difíceis. Bem diferente dos anos anteriores”, avalia, afirmando que o Enem está ficando mais difícil.
“Não tem dúvida que as provas estão selecionando mais, exigindo um pouco mais de conteúdo e muita interpretação, como as provas de Linguagens, praticamente só interpretação”, avalia mais, ressaltando que a prova de Física foi mais fácil, ao contrário da de Química e Biologia, que dificultaram. De acordo com Pedro, para o nível das provas, ele deveria saber um pouquinho mais, mas reconhece que já teve êxito, pois, independente do Enem, já pode cursar Medicina, na Uniube, onde foi aprovado.
Karla Montagner Bizinoto, que vai cursar Odontologia, e também já foi aprovada no vestibular da Uniube, fez o seu segundo Enem. “Fiz o Enem no primeiro ano e agora no final do 3º ano. Achei o Enem bem mais difícil, principalmente linguagens, com muitas questões interpretativas. Já nas áreas de exatas, concordo com Pedro, algumas questões bem difíceis outras muito fáceis, não havia meio termo”, explica, acrescentando que o conteúdo dado pelos professores cobriu todos os assuntos que viu na prova. “Mas confesso que faltou estudo de sua parte”, reconhece.
Ao contrário, Pedro informa que estudou muito em casa, refazendo todos os exames do Enem desde 2009. “Fazendo uma comparação, vejo que mudou bastante. Inclusive nos meus estudos eu focava naqueles conteúdos mais frequentes nas provas, mas veio a surpresa, provas bem diferentes das anteriores”.
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