Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Educadores apontam 'rascunhos' de um plano de governo

Edição nº 1528 - 29 de Julho de 2016

O SindUTE e a Rede Brota Cerrado realizou na noite dessa terça-feira 26, na sala de sessões do Paço Municipal, a I Audiência e Mesa Redonda sobre o tema,  'Programa de Governo para o próximo quadriênio', com a participação dos convidados: Carlos Alberto Cerchi, professor e sindicalista (Conjuntura atual), Ivan Sebastião Barbosa Afonso, advogado, professor e empresário rural (Economia e Administração), Maria de Fátima Archanjo Fajardo, doutora em agroecologia (Agricultura), Walmor Júlio Silva, professor e jornalista (Educação) e Cristiano Freitas Arantes, médico sanitarista (Saúde). Após a apresentação dos temas, o pequeno público presente teve o seu espaço para questionamentos e debates. Veja abaixo o resumo da exposição de cada orador.

 

Cidade tem ótima infraestrutura, porém inaproveitada ou subutilizada

Ao abordar este assunto, ressalto a necessidade de estabelecer um diagnóstico do momento para agir criticamente, inclusive para escolha de candidatos no pleito municipal. Este comportamento permite identificar os interesses escusos dos que pleiteiam os cargos de prefeito e vereadores.
No âmbito do município, a sucessão dos ocupantes do cargo de prefeito em Sacramento se fez por forças políticas tradicionais. As obras como prédios e construções urbanas foram priorizadas em detrimento de políticas de fomento à criação de postos de trabalho e produção. A cidade tem uma ótima infraestrutura, porém  inaproveitada ou subutilizada, como por exemplo o grande número de quadras esportivas e campos de futebol sem que a população e os jovens utilizem esses espaços adequadamente.
O mesmo se verifica com razoável número de postos de saúde e unidades básicas, sem que exista uma política de promoção à saúde e uma ocupação dinâmica desses espaços com efetiva participação popular no âmbito da administração pública. O mesmo pode-se avaliar em relação à educação, levando em conta, por exemplo, a escola Técnica Carolina Maria de Jesus, até hoje ociosa, aguardando providências de utilização.
A análise conjuntural permite identificar problemas de cunho cultural, ligados ao paternalismo e outras mazelas existentes, oriundas de situações geradas no exterior, no país, no estado e no município.
Necessário se faz identificar estas questões crônicas e agir com racionalidade e consistência. (Prof. Berto)


Priorizar o que é demandado pelo povo

O homem de Estado, o governante, deve realizar a sua obra levando-se em consideração a sua limitação no tempo de seu mandato e nos recursos orçamentário. De tal forma que, em não podendo fazer tudo, deve priorizar aquilo que é mais demandado pelo povo, sobretudo a parcela mais carente. Somente assim, em benefício do povo, podem os governos ser tolerados.
No que se refere à criação de emprego e renda, para que o povo possa melhorar as suas próprias condições, um governante em Sacramento deve levar em consideração a dimensão e a qualidade do território do Município e fomentar atividades que possam criar os empregos necessários. Além do incentivo aos empreendimentos existentes, sejam industriais, comerciais e agrícolas, creio que seria salutar o lançamento de um Programa de Cafeicultura, com o objetivo de se implantar 40 milhões de novos cafeeiros, que possibilitariam a criação de mais 2.000 empregos diretos e o aumento de 10% na arrecadação do município; o incremento das atividades de fruticultura, notadamente o abacate, que se encontra em grande florescimento na região da Sete Volta.
Parece-me que o turismo é uma opção de grande perspectiva para o município, pois temos atrativos de grande importância. Eurípedes, espírito de luz que aqui viveu, é capaz de proporcionar significativo fluxo de visitantes. Os padres Vitor e Antônio Borges também têm os seus devotos. A náutica que pode ser desenvolvida em seus lagos, ao lado do histórico Desemboque, Gruta dos Palhares, da Serra da Canastra, das cachoeiras abundantes, dentre outras, podem se transformar em impulsionadores de geração de empregos e renda.
Finalmente, permito-me apontar a necessidade da cidade ser aberta por novos loteamentos, pois inúmeras áreas em suas partes centrais permanecem sem parcelamento, encarecendo em demasia o preço dos lotes e os tornando incompatíveis com as rendas do povo.
Essas são algumas primeiras percepções que podem, com humildade, se prestar para contribuir com um rascunho de um Plano de Governo, para a nossa cidade. (Dr. Ivan)

 

Plano deve nascer da comunidade escolar

O grande mote desses nossos embates sobre a melhoria da Educação no país está na elevação do índice aplicado no setor em relação ao PIB. E não é de hoje. Nos meus 42 anos de magistério, essa foi uma das maiores bandeiras de luta do SindUTE. Só agora, no governo Dilma, foi votada a lei do PNE – Plano Nacional de Educação, com 20 metas para serem cumpridas em dez anos. Entre elas, a aplicação de 10% do PIB na Educação. Um grande passo. O maior. Dos 4,6% de 2003, chegamos já a 6,6% em 2015. Não sei o que vai acontecer nesse governo ilegítimo do Sr. Temer.
No plano doméstico, falta também muita coisa a fazer. Embora a estrutura do município de Sacramento, em relação à Educação, seja uma das melhores da região, está longe de ser a ideal. Veja a realidade: O município tem 1.924 alunos, divididos em três escolas e uma creche na cidade, e mais quatro escolas na zona rural, sob a responsabilidade de 227 professores e 111 servidores diversos. O piso salarial básico, de R$ 1.281,00, quase mil reais a menos do que o nacional, R$ 2.135,00, fixado em janeiro último. Mas melhora com as vantagens. Um professor de dez anos de carreira, hoje, no município, tem um salário de R$ 2.391,00, na cidade; e de R$ 3.109,00, lecionando na zona rural, por um cargo de 16 aulas e módulos.
Cumprindo as 20 metas, garantindo a efetivação de uma escola democrática, a começar da eleição direta já para diretor; reabertura da EE Cel. José Afonso de Almeida, no Desemboque, a Terra Mãe; plano curricular nas escolas rurais voltado para as atividades agroecológicas/pastoris; escola de tempo integral com o projeto 'Diversidade, inclusão e mundo do trabalho', uma das metas do PNE; capacitação urgente dos professores e demais servidores...,  teremos uma escola bem melhor.
Assim dito, rasgo tudo isso, entendendo que todas essas propostas devem nascer da comunidade escolar e não ditadas de quem acha que entende um pouco mais sobre Educação. (WJS)


Em defesa da garantia de uma alimentação saudável e sustentável para todos

Sobre Agricultura, acentuo a necessidade de redução do uso de agrotóxicos e de sementes transgênicas em Sacramento, tendo em vista publicações como o 'Dossiê da ABRASCO', a 2a Edição do Guia Alimentar para a população brasileira, do Ministério da Saúde e o posicionamento do Instituto Nacional do Câncer – INCA que mostram com clareza como o problema está sendo exposto e denunciado com mais ênfase por seus impactos negativos comprovados à saúde da população.
Lembro que, muito embora o Brasil tenha a vergonhosa posição entre os países que mais consomem agrotóxicos no mundo (7,2, litros/hab/ano), ao mesmo tempo, tem se revelado como referência internacional em relação ao crescimento do número de iniciativas que se colocam para reverter esse quadro. Por isso, sugiro o desenvolvimento e a divulgação das práticas existentes e a formação e capacitação dos agricultores familiares; profissionais e consumidores, levando em consideração essa pauta, inclusive na educação básica e superior.
Concluo, registrando a importância de mais esforços no âmbito de uma comunicação plena para que se permita uma reflexão coletiva mais ampla para assegurar o controle social de forma transparente, participativa e por meio de uma cultura verdadeiramente democrática. Apesar das ameaças de retrocessos em curso, destaco a importância da defesa da garantia da alimentação saudável e sustentável para todas e todos, acreditando no papel transformador da sociedade civil organizada, como o da Rede Brota Cerrado, em conjunto com todas as entidades, organizações e movimentos sociais que defendem a agroecologia e a proteção dos direitos sociais, ainda mais em momentos como esse que vivemos hoje. (Dra. Maria de Fátima)

 

 

Corpo não é uma máquina composta por orgãos e sistemas

A definição de saúde sofreu uma evolução ao longo do tempo, refletindo o progresso científico e o momento histórico e econômico vivido por determinada sociedade. Ela foi de “ausência de doença”, passando pelo “completo bem estar físico, mental e social”, definição ainda utilizada pela OMS, e culminou na definição ampliada do conceito de saúde, como resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente adequado, segurança, entre outros, ou seja, a saúde como fruto de vários determinantes sociais.
Da mesma forma que a definição de saúde sofreu variações no decorrer do tempo, os modelos explicativos do processo saúde/doença também evoluíram. Em meados do século 19 a explicação para o porquê das pessoas adoecerem era unicausal, ou seja, explicavam-se as patologias através de uma relação direta entre o agente causador e o hospedeiro. Era o chamado Modelo Biomédico, com a valorização da materialidade anátomo fisiológica e sua objetividade: normal/anormal. O corpo visto como uma máquina, composta por um conjunto de órgãos e sistemas, em uma visão reducionista do indivíduo (o Rim do paciente do leito 305).
Nesse período, houve um incremento das especialidades médicas, importantes na produção de conhecimentos, mas com uma parcialização abstrata de um objeto real. A partir dos anos 50 do sec. passado começa-se a compreender melhor as inter relações entre o agente causador da doença, o ambiente e o hospedeiro, com o surgimento das definições de Prevenção (1°, 2°, 3°), porém, ainda restritas ao campo individual. Foi à partir dos anos 90 que se começa a posicionar contra a fatalidade do “natural” no processo saúde/doença, dando ênfase à influência da estrutura sócio/política/econômica em tal processo, sendo o mesmo complexo e multideterminado. (Dr. Cristiano)