O jovem sacramentano, universitário da UNB – Universidade Nacional de Brasília, Luiz Eduardo Sarmento Pavanelli, 23, esteve em Praga, capital da República Tcheca durante 15 dias com outros universitários de Brasília e outros estados participando da Quadrienal de Praga, o maior evento de cenografia do mundo, em agosto último.
De acordo com Pavanelli, estudante de Arquitetura, foram apenas 15 dias em Praga, mas muito proveitosos. “Estive na Quadrienal de Praga, não pelo curso de Arquitetura, mas por uma iniciativa inusitada. Em 2009, tentei fazer uma disciplina de módulo livre na UNB, mas não consegui a vaga nesse curso de Artes Cênicas, ligado à cenografia. Como gostei muito da professora e me interessei pela matéria, resolvi fazer o curso só como ouvinte, eu e mais algumas colegas. Acabou que, depois de um semestre todo buscando aprender por hobby, a professora do curso, Sônia Paiva, me convidou para fazer um trabalho como cenógrafo num grupo de teatro de Brasília. E fui”, conta.
No ano passado, segundo o universitário, Sônia Paiva, foi descoberta pela Funarte, Ministério da Cultura (Minc) e USP de São Paulo que organizavam uma exposição já com vistas na Quadrienal. “O pessoal da Funarte, Minc e USP, pela primeira vez, estava reunindo cenógrafos do Brasil todo e universitários para uma amostragem nacional. E Sônia foi convidada para levar a UNB, que iria à Quadrienal pela primeira vez, porque até então na tinha laboratório. Depois do curso de Artes Cênicas, em 2009, com a coordenação de Sônia, criamos o laboratório de cenografia. Foi um grande passo. Em menos de um ano ele estava pronto e iniciamos os projetos”, conta mais.
A partir do convite, a professora convidou o grupo formado pelos alunos, Eduardo, Maria Eugênia Matricardi, Maria Vitória Canesin e Rogério Luiz e o próprio aluno ouvinte, Luiz Eduardo Sarmento Pavanelli, além de outros universitários, num total de 17 alunos para desenvolverem um projeto para participar em São Paulo.
Coralina ou a vida mera das obscuras
O grupo, formado por exigência da professora, por um aluno da arquitetura, um das Artes Cênicas, um das Artes Plásticas e um Comunicação Social, visando a interdisciplinaridade, iniciou o trabalho desenvolvendo o projeto, “Coralina ou a vida mera das obscuras. “Três meses depois fomos expor em São Paulo e tivemos nosso trabalho selecionado para a Quadrienal. A UnB foi a escola que mais trabalhos enviou para Praga. Nunca havia participado por falta de laboratório e foi um sucesso. Foram quatro trabalhos da universidade”, informou o futuro arquiteto.
De acordo com Pavanelli, os universitários tinham que esquecer os modelos tradicionais de palcos e assim trabalharam. “Tínhamos que construir cenas e situá-las em espaços não convencionais. Na Quadrienal, realizada entre 16 a 26 de junho, os projetos foram expostos, por meio de maquetes e ilustrações, em uma das seções competitivas, a Mostra das Escolas. O espaço abrigou trabalhos nas áreas de cenografia e figurino originários de centros educacionais de 62 países. Para o processo seletivo do Brasil, sete universidades e cinco escolas inscreveram 50 projetos, dos quais 30 conquistaram vaga na Quadrienal”, explicou.
O projeto do grupo, “Coralina ou a vida mera das obscuras”, encenou, de forma descontínua (anacrônica) a história de Cora Coralina, poetisa goiana. Construíram uma encenação múltipla em gêneros, mídias e narrativas, na qual a virtualidade e simulacro se combinam. Brasília e Goiás, modernidade e sertão, foram a inspiração, processo e produto. Cora é, pois, a poeta que superou seus recalques, o tempo e a geografia dando originem a uma escrita com possibilidades várias de comunicação e conexões.
“- Fomos a Goiás Velho pesquisar sobre Carolina e todo rascunho que fizemos foi aproveitado. Lá em Goiás não pudemos fotografar a casa, os objetos, é proibido, então, partimos para os desenhos e anotações. Todo processo criativo do nosso trabalho foi registrado em folhas de rascunho, com colagens, anotações, desenhos, rabiscos e depois foi tudo encadernado, virou um portifólio. Até porque o espaço que tínhamos lá era de 50 x 50 x 25 cm, era uma caixinha. Cada maquete tinha que caber neste espaço e valeu muito a pena, porque a Quadrienal é o maior espaço de arte cênica hoje no mundo”, relatou, destacando a dificuldade da língua. “Fomos bem recebidos no país, mas não entendemos nada da língua, nossa sorte é que os mais jovens falam inglês, os mais velhos, muitos falam alemão e os mais idosos falam o idioma deles mesmo, o tcheco incompreensível”.
Na Quadrienal de Praga, o Brasil recebeu a Triga de Ouro, prêmio máximo da Quadrienal de Praga, maior evento de cenografia do mundo, no dia 21 de junho pelo conjunto da obra cenográfica exposta. O prêmio foi entregue ao Presidente da Funarte, Antonio Grassi e Aby Cohen, respectivamente, curador geral e curadora adjunta da Mostra Nacional Brasileira.
Para investir no projeto, Luiz Eduardo Pavanelli deixou de lado o curso de Arquitetura, que será retomado agora. “Perdi um semestre do curso, mas valeu muito a pena”. E diz ele que já tem projetos na área de cenografia em vista. “Fomos chamados pela Sônia para palestras e convidados pela UnB para trabalhar no Tubo de Ensaio, dentro da universidade, com olhos para o Festival de Cultural da América Latina.
Luiz Eduardo é filho de Lísia Meirelles Sarmento e Luiz Antônio Pavanelli de Araújo – Totoin, e esteve em Sacramento no final de semana pra curtir a família e amigos e na segunda-feira retornou à capital federal.
Projeto de habitação social
Luiz Eduardo tem se destacado sobremaneira em projetos, um deles foi para o Estado de São Paulo, um projeto de habitação social ou casas populares. “Após uma disciplina de projeto de arquitetura, eu e mais duas amigas descobrimos um concurso do Governo de São Paulo para desenvolver um projeto de novas tipologia dessas casas. E encaramos, porque o modelo adotado para essas casas é horrível, não tem espaço, se a família quer ampliar na dá, então fomos buscar inspiração no Chile e Colômbia e Argentina que tem um projeto de habitação de nível altíssimo”.
Segundo Pavanelli, o governo de São Paulo queria uma inovação na arquitetura dessas casa. “Era um concurso para arquitetos, mas tivemos o aval de um professor que aprovou o projeto e assinou para nós. No final, ele ganhou menção honrosa, com o projeto exposto em São Paulo, como exemplo de inovação adotada pelo estado hoje, que são os predinhos com a laje, que possibilitam ampliação para cima de até quatro pavimentos”, explicou.
Luiz Eduardo na mídia
Pavanelli ganhou também as páginas dos jornais e a imprensa falada junto com mais duas colegas, Mariana Bomtempo, e Lívia Silva Brandão por criticarem a metodologia do professor de Projetos, Neander Furtado. As críticas ao professor foram registradas em duas cartas sem ofensas pessoais assinadas pelo centro acadêmico e encaminhadas à diretoria da faculdade de Arquitetura em julho do ano passado, mas só em janeiro deste ano, o professor resolveu processar os alunos e pedir indenização de R$ 20 mil. Nas cartas, os alunos denunciavam que o professor não utilizava o ateliê, para que pudessem aprender na prática, por exemplo, como fazer uma maquete.
O professor não gostou das criticas como do protesto dos alunos, e também não gostou do protesto dos alunos que amontoaram carteiras e colaram cartazes nas paredes com letras de músicas de Chico Buarque e Tom Zé, após o conselho da faculdade avalizar o método do professor.
Apesar de ter sido assinada pelo Centro Acadêmico, a ação foi movida contra três alunos que integravam o colegiado: Mariana Bomtempo, Luiz Eduardo Sarmento Pavanelli e Lívia Silva Brandão. Os três tiveram a defesa do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro Kakay, advogado de políticos e empresários.
E de fato, a ação deu em nada, o juiz Álvaro Luiz Chan Jorge, do 3º Juizado Especial Cível de Taguatinga, no Distrito Federal, negou o pedido de indenização pedida pelo professor "O meio universitário deve ser utilizado também para questionamentos de ideias e atitudes, incluindo-se aí os métodos de ensino utilizados pelos mestres", disse o juiz ao julgar improcedente ação proposta por professor.