Mariú Cerchi (*)
Acompanhei, na medida do possível, a visita do Papa Bento XVI à Espanha para participar da Jornada Mundial da Juventude. Aparentando cansaço no corpo e no olhar, esse Vicarius Christi, a despeito do cansaço, transbordava o vigor de um homem pleno de Deus. Um homem verdadeiramente tocado pelos anseios de paz e de fé. Na simplicidade da sua fala, a fundamentação de conceitos e conteúdos que, talvez, poucos consigam atingir.
O Papa foi sóbrio e simples no seu falar. Sem nenhum rebuscado e nem sofisticação, ele revelou-se sereno e seguro na proclamação das verdades próprias daqueles que alcançam a plenitude. Falou aos jovens com prioridade e colheu, nessa Jornada, os frutos da semente lançada, há 25 anos, pelo Beato João Paulo II. Lotaram a praça, aproximadamente, dois milhões de jovens de vários países do mundo, número infinitamente superior aos que protestaram em praça pública contra os gastos do governo com a visita do Papa à Espanha. A esses jovens, o Papa os confirmou na fé e os enviou para a missão de proclamarem a verdade revelada. Embora tenha ficado claro a pouca importância que os meios de comunicação deram a esse evento, na verdade, isso pouca importância tem, pois tudo aquilo que é verdadeiro, um dia reaparece no seu devido lugar.
Ouvir o Papa, ler os seus escritos, suas encíclicas, observar o seu semblante, ajuda-nos a identificá-lo naquilo que ele realmente é: um homem de Deus. Nada de compará-lo ao seu inesquecível predecessor.Nada de esperar dele eflúvios espetaculares e arrojos comoventes capazes de arrancar fortes emoções. É preciso captá-lo para além do aparente e surpreendê-lo na essência do que caracteriza o seu caminhar terreno: a plenitude na fé. Fé que dá sustentação à sua permanência no mundo e que, tal como um facho de luz, ajuda a clarear o caminhar humano.
Como católicos, temos orgulho do Papa que se apresenta como uma reverência ao mundo. Mundo esse que reconhece nele a autoridade que lhe é própria. Não por ser um Papa da Igreja Católica, não por ocupar um lugar de destaque na esfera dos valores humanos, mas pela capacidade de estar no mundo, segundo o que lhe foi designado: Ser sacerdote in aeternum.
Temos um Papa que carrega nos ombros o peso de uma Igreja inserida num mundo pragmático, cambaleante, destituído de valores. Um mundo sofrido, sangrento de guerras, de ódio, de violência, de falsos deuses, de corrupção, de desesperança e incompreensões. Um mundo pagão, carente do amor, preso tão somente ao “aqui - agora” que entorpece os sentidos pela fuga da dor que mascara o verdadeiro encontro da felicidade. Mundo inquieto, confuso, de onde emergem falsos profetas a oferecer a ilusão da riqueza fácil, da prosperidade enganosa e da traiçoeira busca pelo efêmero.
Temos um Papa que, no apagar das luzes de um mundo pós moderno, surge com acenos de esperança no sentido de soerguer a humanidade que se encontra ameaçada de perder os rumos em direção a um amanhã promissor.
Ficaremos, a partir de então, na expectativa da próxima Jornada Mundial da Juventude a ser realizada em 2013, no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.
Até lá, Bento XVI.
(*) Mariú Cerchi Borges é pedagoga