Abordando o titulo, 'O público e o privado na gestão das potencialidades e das fragilidades turísticas no município de Sacramento', o sacramentano, Prof. Paulo Sergio da Silva, depois de cinco anos de trabalho sobre o município, entrelaçando informações obtidas através dos trabalhos de campo e análise dos dados, chegou à conclusão de que, em função de uma estrutura político-pluripartidária, há uma influência na condução dos recursos públicos destinados a gestão do turismo, no município.
Segundo o professor, o município possui potencialidade turística natural registrada pelas inúmeras cachoeiras, mirantes, grutas e piscinas naturais, nos aspectos históricos cravados no Distrito de Desemboque, na gastronomia com as comidas típicas locais, na arquitetura edificada nas igrejas, casarões e fazendas coloniais, na cultura pelas expressões das festas religiosas e populares.
“- Porém – ressalta ele - apresenta fragilidades socioespaciais ao pensarmos em um turismo sobre esses recursos. Os equipamentos turísticos oferecidos no município são limitados tornando necessário respeitar esta capacidade de ocupação principalmente nos eventos de maior expressão como o carnaval que estrangula a estrutura urbana, bem como a hoteleira local”.
ET - Qual é a tese defendida?
Prof. Paulo Sergio - Uma proposta de subsídio a gestão pública e as iniciativas privadas com informações teóricas, conceituais e práticas sobre o fazer turismo no município de Sacramento, com base na comunidade local.
ET - Porque você escolheu o município de Sacramento?
Prof. Paulo Sergio - Primeiro, pelo fato de ser sacramentano e a Universidade Federal de Uberlândia-UFU me abriu portas para a realização deste trabalho. Segundo para contribuir com um trabalho prático sobre a forma como lidar com o turismo e o meio ambiente no município. Ao longo das pesquisas percebemos que o município possui vocações naturais para o turismo, porém, abriga uma incapacidade de ordem pública e privada em lidar com estes recursos e acaba usando e promovendo de forma inadequada estes atrativos, sem preocupar em respeitar sua capacidade de carga e agridem brutalmente o meio ambiente, fato este observado principalmente nas proximidades das represas, cachoeiras e os córregos.
ET – A que conclusões você chegou sobre a gestão do turismo hoje no município?
Prof. Paulo Sergio - Desordenada e desarticulada. Partindo desse princípio, as ações de ordem pública ficam registradas nos projetos turístico superficiais, desarticulados entre o que se pretende fazer e a sua implantação. Esses projetos turísticos acabam se tornando um leque de cursos de capacitação para o turismo, mas, na verdade eles não têm aplicabilidade, pois são isolados, não envolvem a comunidade e são desarticulados de outros setores. Dessa forma, o município vende um turismo que não existe. Por outro lado, apesar da iniciativa privada ser mais rápida na gestão do turismo, ela não é eficiente e não respeita os bens, tanto naturais como culturais e históricos e ambos os setores confundem lazer com turismo e também violam as leis ambientais.
ET – É possível promover turismo sem agredir o meio ambiente?
Prof. Paulo Sergio - É possível, mas não é fácil. Desenvolver sem agredir necessita de um amplo envolvimento de todas as áreas do município que vai desde o empresário, o proprietário rural, a sociedade e os projetos lançados sobre ele. É muito triste circular pelo município e ver as áreas de preservação sendo ocupadas de forma irregular. O turismo deve em primeiro plano trazer benefício para o lugar. Pegamos como exemplo o município de Brotas no estado de SP, que consegue associar desenvolvimento turístico sem impactar e ainda manter as atividades tradicionais.
ET - Quais as potencialidades turísticas que você anotou no município?
Prof. Paulo Sergio - Em primeiro lugar as pessoas. Esses requisitos estão registrados no patrimônio natural, constituído pelos recursos hídricos entre o rio Grande e o rio Araguari, no registro histórico com base no Distrito de Desemboque como uma referência na colonização do Brasil Central, nas manifestações culturais, nas expressões religiosas, na gastronomia, na Gruta dos Palhares e no Parque Nacional da Serra da Canastra.
ET - Quais são as fragilidades do município, em que lado estamos errando?
Prof. Paulo Sergio - Na maneira de tratar essas potencialidades. O fato de o município possuir cachoeiras não significa que ele é turístico, o fato de ter uma festa popular de grande volume, também não confere o direito de elegê-lo como sendo. Mas a maior fragilidade está nas apropriações dessas potencialidades de forma descompromissada com seu futuro, preocupa única e exclusivamente para atender um visitante e obter retorno financeiro.
ET – Na sua tese, você fala das dificuldades para a efetivação do turismo no município. Pode citá-las?
Paulo Sérgio – Claro. Elas atendem a quatro iniciativas: De ordem pública, das iniciativas privadas, da comunidade e da infraestrutura. Falando da ordem pública, eu digo que a gestão do turismo local deve traçar um planejamento que não enxergue apenas os eventos populares ao longo do ano. Um projeto que articule e envolva as comunidades rurais, as pessoas da cidade, as entidades de classe para que todos tenham conhecimento sobre como e o que fazer e principalmente respeitar o patrimônio e sua legislação.
ET - Das iniciativas privadas...
Prof. Paulo Sergio - Não pensar somente no lucro, na exploração dos recursos sem preocupar com seu futuro. O que adianta dotar uma cachoeira de quiosque, bar e outros benefícios se não houver uma preocupação com lixo, com o meio ambiente, com o assoreamento, com a quantidade de pessoas que podem passar por ali. Os empreendimentos turísticos do município devem ser típicos e não parecer típicos. Estudos da OMS mostram que o turista está se tornando cada vez mais segmentado e as artificializações estão expulsando o visitante. Você empresário do setor no município já se perguntou por que os visitantes estão deixando de voltar no seu receptivo?
ET – Sobre a importância da comunidade...
Prof. Paulo Sergio - Eles não são consultados sobre os projetos, tão pouco sabe que de repente sua cachoeira está sendo divulgada como atrativo. Em nossos trabalhos no campo percebemos que algumas propriedades estão com cadeado na porteira, porque “pessoas passaram por aqui deixou aberto e misturou bezerro com vaca e não tive leite no outro dia” afirma um morador.
ET – E, finalmente, da infraestrutura, em que pecamos?
Prof. Paulo Sergio – Sim, sobre a infraestrutura de Sacramento, percebi que o município possui uma vida própria. Os eventos extrapolam a infraestrutura e fora deles o hotel está vazio, o posto de combustível fecha às 22h00 e o comércio mal abre até às 13h00 de sábado e os bancos no serviço até 22h00. Veja bem, se estamos falando que o município é turístico, em primeiro lugar precisamos torná-lo turístico. O município não tem de se entregar ao visitante não, mas, é preciso oferecer condições de suporte a ele, ou então, pare de vender um turismo que não existe.
ET - Quais os resultados mais relevantes sobre sua pesquisa no município?
Prof. Paulo Sergio - A riqueza natural do município é indiscutível. Pensar em projetar um turismo sobre este patrimônio requer a elaboração de uma proposta que respeite acima de tudo os valores edificados por nossos antepassados, no meio ambiente e na pessoa que vive no município e vê-los como sujeitos neste processo e não, simplesmente, como meros expectadores espalhados pelo município. Outro dado importante foi perceber a atividade se projeta de forma irresponsável sobre os bens e sua apropriação beneficia apenas um grupo, provoca impacto ambiental e descaracteriza o lugar em favor da promoção turística; o morador reconhece que o município é turístico, porém, se mostra com receio em relação a sua circulação pela região; o visitante reconhece que o município é turístico, porém, ainda necessita de criar infraestruturas para sua efetivação. E, finalmente, a gestão pública faz seu papel auxiliando nos eventos pontuais ao longo do ano, porém, não se compromete em respeitar a legislação por ela criada e não aplica punições às iniciativas privadas agressoras.
ET – Na sua tese, você aponta soluções, propostas para melhorar o desempenho da atividade no município?
Prof. Paulo Sergio – Sim, claro. Antes de tudo, um trabalho integrado. Em uma mesma mesa abrir um amplo debate entre todos os envolvidos. Mas indico algumas ponderações.
·Promova pesquisas sistemáticas dos atrativos e eventos, da infra-estrutura turística;
·Implante novo Centro de Atendimento ao Turista no trevo MG 464 com MG 190;
·Melhore a informação sobre os aspectos turísticos em todo o município e espaço urbano;
·Implante programa de conscientização e capacitação nas comunidades rurais nos lugares onde estão localizadas as propriedades;
·Implante programa de revitalização e desenvolvimento da agricultura familiar;
·Incentive a revitalização das propriedades abandonadas no espaço rural com a instalação de pontos de receptivo;
·Implante um programa voltado para o turismo cultural, objetivando recuperar o patrimônio histórico, arquitetônico e religioso;
·Respeite a legislação patrimonial e ambiental;
·Sugiro também um roteiro entre a cidade de Sacramento até o Distrito de Desemboque e outro entre a cidade e as estações do Cipó e de Jaguara.
ET – Concluindo...
Prof. Paulo Sergio - A democratização das proposições e do fazer turismo constitui-se em uma proposta para o município de Sacramento pelo fato de entendermos que não existe uma forma acabada para a sua implantação. Assim, a participação da comunidade local pode se tornar um importante caminho para constituir arranjos e estratégias turísticas capazes de gerar recursos e promover a distribuição das riquezas por ela gerada.
ET – Professor, você apresentou o resumo de sua tese aos vereadores da cidade, no espaço 'Tribuna Livre'. Como foi?
Prof. Paulo Sergio – Correu tudo muito bem. Estive lá na reunião do dia 16 e fui muito bem recebido pela casa. Posterior a minha apresentação, a tese foi apreciada e debatida pelos vereadores presentes. Ao final entreguei ao presidente da casa, o Prof. Carlos Alberto Cerchi, um exemplar do trabalho para estudos de viabilidade de aplicação. Todo o material produzido será entregue, também a gestão do turismo no município e ao executivo para a apreciação e uso caso couber.