Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Editorial

Velhos Tempos, belos dias!

Maria Elena de Jesus

"Eram os efervescentes anos 60. A geração rebelde, a geração alienada. E até a geração comportada do Iê, Iê, Iê... havíamos deixado para trás a era Elvis Presley, com seu rock alucinante, e entrado nas baladas dos Beatles, os garotos de Liverpool, "Hey Jude, to make said..." E, no Brasil, o Rei era Roberto Carlos, com sua famosa, 'Quero que vá tudo pro inferno'. A beatlemania dominava o mundo. Dominou tanto que um deles ousou dizer: "Somos mais famosos que Jesus Cristo". Presságio ou não, pouco depois a banda se desfez.

Mas aqui pelas bandas das Minas Gerais, um grupo de adolescentes, extremamente ousados, revolucionou a provinciana cidade criando o que na época chamávamos, um "Conjunto Musical", recorda Roberto Crema, o idealizador e maior incentivador da Banda, além de Lelinho, um dos maiores talentos d´ Os Corujas, com a sua guitarra base.

(...) E quarenta anos se passaram. Os tempos mudaram. O rádio cedeu lugar à TV, em vez dos velhos discos de vinil e da vitrola, o CD e os sofisticados aparelhos de som e o MP3. O Iê, Iê, Iê deu lugar ao 'heavy' metal. O romantismo quase que sumiu. Tantos ritmos nasceram e morreram e aí está o funk,.. Os instrumentos evoluíram, porque naquela época os músicos tocavam ou quase...
Mas o certo é que a modernização e a modernidade seguiram seu curso natural, mas não foram capazes de matar aquele gostinho de passado, de um passado dos idos da segunda metade do século XX. Parece tanto tempo... mas não é, afinal todos estão por aí. E a modernidade ajudou... e-mail aqui, e-mail ali, a turma está completa ou quase...

E parafraseando os Vips "Afinal chegou / o momento que eu vivia a esperar", a turma estava reunida: Roberto Crema (guitarra solo e cantor), Lelinho Pucci (guitarra base e arranjos), Cilmo (piston), Biro (sax), Walmor e Peroba (baixo), Shiro (guitarra harmonia e escaleta), Robertinho Gribel (o caçulinha da turma na guitarra base), ... Somente um faltou ao encontro, o ritmista da turma, Toninho, que por certo, ao lado de Deus e de um coro de anjos assistia ao momento e comandava a batera. Recordando Sergio Bittencourt, nos anos 70, Shiro cantou: "Naquela mesa está faltando ele / e a saudade dele está doendo em mim...".

As "corujetes" marcaram presença! Muitos casais da época... quantos namoros começaram nos embalos d´Os Corujas! E foi pura tietagem... Encontros e reencontros... Até lágrimas de emoção. Veio gente de longe, famílias inteiras... Gente de todas as idades. Dona Maria Karashima, que fez a primeira camisa do grupo, vermelha, carinhosamente guardada por Lelinho. Dona Elza Crema, duas mulheres que acreditaram no sonhos dos jovens e que junto com seus maridos, Onobuge e Lelé, de saudosas memórias, financiaram os meninos. Afinal era uma guitarra elétrica para sete tocadores...

Um momento único, de risos e lágrimas, final com tantas recordações, de fotos antigas do seminário em obras. Era ali que o grupo ensaiava, naquele tempo era respeitada a Lei do Silêncio, ou melhor, quem iria agüentar sete rapazes arranhando guitarras, para tirar alguma coisa. Quem ficava nos bastidores também foi para a tela, o "public relations", Betô; e o proprietário da Rural Willis e motorista do grupo, Jaiminho Araújo.

E o ponto alto veio com a seleção d´Os Corujas depois de 40 anos, improvisada, afinal muitos se reencontram apenas uma hora antes do evento, mas a pista ficou pequena e sucessos da época foram desfilando... E para completar a noite, revivemos a beatlemania, com a excelente banda cover, "Let it Beatles", de Brasília, que conta com dois filhos do Coruja, Shiro.

Os velhos tempos, os belos dias foram rememorados. Sobre Os Corujas, Shiro definiu: "Éramos, antes de qualquer coisa, grandes amigos, éramos mais, éramos irmãos de infância, éramos felizes". Mas eu digo mais, que a definição não cabe a apenas os integrantes do grupo, mas a toda uma geração, que tinha um ideal, que soube desfrutar o melhor de uma época e encontrou o seu caminho.

Maria Elena é professora de Língua Portuguesa na EE Cel. José A de Almeida