Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Festival 'Carolina em Mim' traz à cidade ator de Bacurau

Edição nº 1719 - 20 de Março de 2020

O Festival Carolina em Mim, em comemoração aos 106 anos de nascimento da escritora sacramentana, Carolina Maria de Jesus, teve quatro eventos no último final de semana, 13 e 14, o dia de seu aniversário, no Arquivo Público Municipal, com a participação do ator Wilson Rabelo.

Uma Roda de Conversa, no Arquivo Público às 18h30, com a participação de Rabelo (o personagem Plínio, do premiado filme, Bacurau) com mediação da professora Aline Rosa e Toquinho Carvalho, seguida da exibição do filme, marcou o início do festival com a presença de um bom público.  

No sábado, às 14h30, outra roda de conversa com o tema, 'Fome de Justiça: Mulheres, preconceito e cultura, mediada por Maria de Fátima Fajardo e participação de mulheres convidadas.  Às 16h30, Sarau do Despejo e, às 18h30, o monólogo, 'Carolina: o luxo do lixo', apresentado pelo consagrado ator, Wilson Rabelo. 

De acordo com o secretário de Cultura e Turismo, Carlos Alberto Cerchi é sempre um desafio realizar um evento cultural, mas nem por isso, a data passou em banco. “Estamos tendo muita dificuldade, porque está existindo um vácuo muito grande da verdadeira cultura,  que é a leitura, a música, arte dramática...com as pessoas indo aos eventos como se não tivessem a necessidade de aprender, mas está sendo muito positivo. As rodas de conversa tiveram boa participação e foram muito proveitosas”, explica, destacando que poderia  atribuir o esvaziamento  em relação à cultura ao coronavírus, mas não vê motivo para isto. 

“O motivo para mim, é descaso  e o desconhecimento da cultura é mais grave devido  ao momento histórico que vivemos com a conjuntura política que temos. E faço até uma crítica a nós mesmos, mas não podemos esmorecer”, analisa, agradecendo a receptividade das pessoas que prestigiaram a programação.

Maria de Fátima Fajardo, mediadora de uma das rodas de conversa, também fala da importância do evento. “Neste movimento de diversidade, de olhar para o tempo enquanto arte, é importante a gente considerar que tem um silêncio na voz das mulheres, então reunir mulheres é compartilhar relatos, compartilhar luz. Tivemos histórias e relatos incríveis. Falar do nosso cabelo curto, raspado, crespo, nos fortalece, surgindo a ideia de um movimento mesmo”, reconhece, lamentando a falta de representatividade feminina na política. 

“Enquanto as mulheres estão na rua em defesa da educação do país, fazendo passeata, a Câmara Municipal de Sacramento e em tantas outras não tem representatividade feminina. Então pensamos em ter um coletivo para poder fazer essa voz no Legislativo”, afirma, destacando o filme Bacurau, exibido na noite da sexta-feira. 

“No filme Bacurau, a sociedade é a verdadeira escola, há irmandade, igualdade plena de direito. Então temos que romper esse silêncio com poesia, arte, dança, literatura”, afirma, apontando títulos da obra carolinina em vários idiomas. “Carolina para nós é a prova balizada do sacrifício dos trabalhadores na sociedade. A demonstração da inumanidade do mundo capitalista é o caminho que, de passo em passo, cresce até chegar ao consciente afro-revolucionário, que é isto aqui hoje. Aqui, a gente é, em defesa da liberdade”, disse e prosseguiu falando de Carolina.  

Toquinho Carvalho, um dos organizadores e divulgadores do evento, avalia também, positivamente, a iniciativa. “Foi sensacional, não tivemos lugar pra todos na exibição do filme Bacurau, que é um filme necessário para o momento em que vivemos. E as  discussões ocorridas após o filme foram de grande importância e altamente proveitosas, inclusive os embates”, avaliou, ressaltando a importância da participação de Wilson Rabelo. “Ele traz uma bagagem artística e cultural muito grandes, foi uma aula de alto nível”. 

 

Profa. Aline Rosa cria projeto ‘Cine Sacra’

Aline Rosa, professora de Língua Portuguesa da EE Coronel José Afonso de Almeida,  criou na escola o  projeto cultural, Cine Sacra, como iniciativa independente, com o objetivo de democratizar o acesso à arte na cidade. “Sacramento não tem um cinema, por que não criar um projeto de um cine clube seguido de um debate? Selecionei dez filmes, um deles, Bacurau, com a presença do ator Wilson Rabelo, o Plínio do filme”, explica, destacando que o projeto foi criado no ano passado e passou a ser realizado em parceria com a secretaria de Cultura para oportunizar a participação de todos. 

“- Propus uma parceria com a secretaria de Cultura, porque precisava de uma espaço e minha ideia era, realmente, deixar disponível para a comunidade o acesso ao cinema e ao debate, gratuitamente”.

Falando sobre Carolina Maria de Jesus, explica que sempre admirou o seu trabalho e suas lutas. “Tenho uma dissertação sobre ela defendida na Universidade Federal de Uberlândia, em que eu trabalho com O Quarto de Despejo, por isso o meu interesse em discutir Carolina na semana de seu aniversário”, justificou Aline, que aderiu à greve dos professores, explica que finalizou o projeto cultural e, por enquanto, não há outra atividade prevista.

 

Wilson Rabelo fala de sua participação em Bacurau 

Wilson Rabelo (foto), o Plínio no filme Bacurau, debateu o filme com os presentes e em entrevista falou ao ET. “Sacramento nos seus 200 anos, desenvolve a sua própria cultura, sempre está enfatizando os seus valores, como Carolina Maria de Jesus, Eurípedes Barsanulfo... E sinto-me honrado com a importância  de Bacurau nesse contexto. Nele há uma sociedade que se respeita, mantém sua identidade. Ela consegue, não na verdade combater, mas resistir, até porque é artigo de ataque, principalmente a cultura, que é o que mais atinge uma comunidade, atinge na verdade a alma das pessoas.  Como mineiro, senti-me muito honrado de participar do filme com a Bárbara Colen e o Carlos Francisco.

Bacurau é um longa de ficção que se passa em um povoado no sertão chamado Bacurau, e tem como marco a morte de uma moradora conhecida, Dona Carmelita. A partir desse episódio, a trama se desenvolve despertando eventos inesperados. Na visão de Rabelo, Bacurau “é um filme que contempla muitos brasileiros que querem ver o seu povo sendo sujeito, tomando as rédeas do seu próprio destino, apesar de todo os percalços”, resume, reafirmando: “A gente está aí para resistir e manifestar cultura neste momento histórico”. 

O filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, ganhou em 25 de maio de 2019, o Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2019, um dos mais importantes do mundo. A película ficou em primeiro lugar, empatando com a produção francesa, Les Misérables, de Ladj Ly. 

Sobre a premiação, Wilson Rabelo explica que ele fazia parte de uma trupe com muitos nordestinos. “Esta trupe é o povo dentro de uma região, que até há pouco tempo representou parte da elite do mundo, então filme marcou uma revolução, não só na estética do cinema, mas também colocando o povo como sujeitos de seu próprio destino, do seu próprio futuro. Vários cineastas também estavam discutindo estas questões, exemplo disso, Os Miseráveis”.

 

 

Mariana Bernardes enriquece monólogo de Wilson Rabelo

O monólogo de Wilson Rabelo, ''Carolina: o luxo do lixo', apresentado no entardecer do sábado em plena rua em frente ao Arquivo Público, foi, desculpando o trocadilho, um luxo, primor do ator que outras vezes já encantou Sacramento. Mas desta vez com a participação da cantora Mariana Bernardes, que enriqueceu sobremaneira o espetáculo, com belas canções da MPB. Prestes a lançar um disco, Mariana pode ser contatada pelo youtube. A dupla arrasou no Festival Carolina em Mim.

 

Os amantes da boa música podem ouvir Mariana em várias performances no youtube. Vale a pena!