Fé e alegria marcaram o 25º Encontro Regional de Folias de Reis em Sacramento, no domingo (19), no Parque de Exposições Hugo Rodrigues da Cunha, evento que contou com a participação de mais de 30 companhias de 13 cidades, que movimentaram o parque durante todo o dia.
O encontro, como acontece anualmente, iniciou com uma celebração eucarística, este ano rezada pelo vigário paroquial, Pe. Paulo Henrique, contando com a presença de um grande número de fieis e devotos dos Três Reis Magos e várias autoridades, entre elas o prefeito Bruno Scalon Cordeiro e o vice, Geraldo Majela Carvalho e vereadores.
Para Antônio Claret Scalon, Polaco, presidente da Associação das Folias de Reis de Sacramento, incansável na coordenação do evento, cada encontro é uma grande realização que aumenta ainda mais a sua alegria e devoção.
“- Começamos este encontro em 10 de janeiro de 1983, com o prefeito Dídia (Luiz Magnabosco), Walter Fonseca e o radialista da Rádio Sacramento, J. Ribeiro, todos de saudosas memórias. Foram cinco anos de encontro municipal e estamos no 25º encontro regional”, recorda, ressaltando sua felicidade na realização do evento. “Tive um problema de saúde, os médicos não queriam que eu assumisse a coordenação, mas isto para mim é vida. E, graças a Deus estamos firmes, com uma festa bonita, alegre, participativa”.
A declaração é do presidente da Associação, Antônio Claret, o Polaco, reconhece, que está difícil prosseguir na coordenação, diante do volume de trabalho por ocasião dos encontros e das viagens. “Devo admitir que, por conta de alguns problemas de saúde, tenho que me afastar da coordenação e organização desses encontros. Mas confesso, por outro lado, que tenho medo de a festa acabar. Todo ano venho falando, 'vou largar', 'vou largar', mas chega na hora não resisto e vai passando mais um ano, mais um ano, mas uma hora vou ter que deixar”, lamenta.
Questionado, que se tivesse de fazer um pedido aos santos devotos, que pedido faria, Polaco respondeu: “Primeiro, não pediria, mas agradeceria o quanto os Santos Reis fizeram por mim e por todas as folias, muitas festas e muita alegria. Mas ultimamente foi um tempo de muitas perdas, de companheiros de folias de reis, de familiares, dentre eles minha mãe, meu irmão há
uma semana, o baque que tive na saúde... Então, eu pediria só saúde para todos, principalmente para mim, que a vida inteira pratiquei esportes. Peço que Ele me dê forças para continuar por mais um tempo, porque gosto do que faço”.
Para o encontro, a Associação contou como sempre com a ajuda da população, a contribuição das barracas instaladas no parque, arrecadação feita pelas folias durante o ano, além da subvenção anual da Prefeitura, este ano no valor de R$ COMPLETAR.
“- A arrecadação em dinheiro com a andança das folias foi pequena, mas a de mantimentos foi muito boa. Cada um dá um pouco, somamos tudo e no final dá tudo certo e a cada ano são cerca de 6 mil refeições, além do café, a cargo de Marino Lobato e sua família, há mais de 15 anos. Por tudo isso, tenho muito que agradecer, pela ajuda, apoio de todos os lados. Agradecer ao prefeito Bruno, à secretaria de Turismo e Cultura, Eliana, que estiveram presentes na abertura, com o vice, Geraldo. E quero deixar registrado que fiquei muito feliz com a presença do Baguá e do Barão na festa, eles continuam mantendo a tradição, mostrando que gostam de folias de reis, independente de política”.
Sou folião de Santos Reis há mais de 80 anos...
* José do Carmo Martins, 82, um dos mais antigos capitães de folia de Reis de Sacramento, é o capitão de duas companhias, a do Mártir São Sebastião e a do Cerea de Sacramento. “Há 22 anos sou capitão da folia do Cerea, sempre participando dos encontros. Mas essa companhia foi fundada no Cerea antes de eu entrar, o fundador foi o Agustinho Rosa Brás. Foram passando capitães, até chegar a minha vez. Agora a companhia Mártir São Sebastião foi fundada por mim, a pedido de Da. Dely Loyola”, conta lembrando que bem antes já ajudava na cantoria.
“- Eu era criança quando comecei, cantando pra Nossa Senhora do Rosário com o José Santana, um dos grandes congadeiros de Sacramento. Da folia de Reis, comecei a participar com o Agenor Rufino, na região das Palmeiras e aí foi passando. Cantei com muita gente, como o Hildebrando Martins, o Roque Mulato, que me ensinaram muito”.
José do Carmo que sabe de cor toda a história popular do nascimento de Jesus, atribui a façanha à providência divina. “Tenho pouca leitura, por isso peço inspiração ao Divino Espírito Santo e graças a Deus vou vencendo”.
* José Luciano da Silva, capitão da companhia Rumo a Belém, de Sacramento, participa dos encontros e conta que a companhia foi fundada em 1993, por devoção. “Reunimos os amigos, companheiros e formamos o grupo dos 12 por devoção, por isso, hoje peço a bênção a todos por este encontro bonito, onde a gente pode mostrar nossa fé e devoção aos santos”.
* Geraldo Antonio Ferreira, da companhia do Diomásio, de Igarapava, caracterizado de palhaço, despertava a curiosidade do público, na sua dança ao lado da bandeira. Na verdade, a figura tem um significado histórico. “A palhaço acompanha os três reis para atrapalhar o rei Herodes que queria pegar o Menino Jesus. O palhaço ia atrás dos reis, dançando, para pagar os rastros”, explica, afirmando que há 45 representa o papel. “Vou completar 70 anos e são 45 nessa missão de palhaço. Em todas as casas que a folia vai, nos doze dias de andança em Igarapava eu estou com eles e só tiro a máscara na cantoria no presépio”, conta, destacando muitas graças alcançadas com os santos pela família.
* João Lopes da Silva, com os olhos marejados, quando perguntado sobre a idade da folia, diz que a companhia tem 80 anos de tradição. “Começou com nossos avós, meu pai cantou conosco até os 80 anos, aí meu primo assumiu e agora eu estou à frente do grupo. Cada um que morre assume outro da família. A gente começa na infância, as crianças nos acompanham, temos até o palhacinho. Eu mesmo comecei com sete anos, nunca mais parei. Cantamos para Jesus, porque se Ele não tivesse nascido não teria folias de reis. Deus está acima de tudo e as bênçãos vêm”, conta, emocionado, ao lembrar dos familiares.
Festa de Santos Reis serviu 6 mil pratos de comida
A cozinha este ano contou com novo coordenador, José Eurípedes da Silva, que, na verdade, saiu da turma do mais tradicional cozinheiro das folias de reis da cidade, o Waldemar Zago e sua família. Encarando o trabalho, José Eurípedes disse que a festa estava muito bonita. “Uma festa bonita, tranquila, alegre e nós aqui na cozinha com uma boa equipe, cerca de 30 pessoas. Tenho experiência com grandes festas, há mais de 20 anos ajudei na festa. E é assim, vivendo e aprendendo”, disse.
Para servir o almoço a partir das 11 horas, a cozinha já estava mobilizada desde a véspera, com o cozimento das carnes, feijão e outros preparativos. “Hoje, começamos às 4h00, mas desde ontem adiantamos muita coisa, pra dar conta”, conta, com razão, porque foram consumidos cerca de 500 quilos de carne, 240 kg de arroz, 90 kg de feijão, oito sacas de batata, 130 kg de macarrão, 100 kg de fubá para polenta, segundo sua estimativa.
Finaliza, afirmando que o trabalho com Santos Reis é uma herança de família. “Toda a família é muita devota dos Três Reis. Meus pais foram festeiros muitas vezes e a gente ali ajudando sempre. Trabalhar pelos três reis é herança de família e somos agradecidos pelas graças, pela saúde e por podermos ajudar”, conclui.
* São patentes os elogios para a comida da festa dos Santos Reis e no parque não foi diferente. O público gostou. “Todo ano é sempre assim, muito boa a comida. Adorei o tempero”, comentou Darci, de Araxá, almoçando ao lado de sua chará, Darcy e de Bete, que completou: “Aliás, das festas que vou, a comida de Sacramento é sempre uma das melhores que já comi. Excelente, nota 10”, avaliou.
* A veterinária Carla Rezende de Menezes, mais um ano deu a sua contribuição, ajudando na cozinha para servir os idosos do Lar São Vicente de Paulo, herança do saudoso Celso Menezes (Bugrinho). “Este é um trabalho que papai começou há alguns anos. Ele arrumava uma Van e, no próprio carro dele, pra trazer os velhinhos para a festa. De fato isto é herança, papai se foi, então minha mãe Viviene, meu irmão Victor e eu decidimos continuar a sua ação e é muito gratificante. Hoje trouxemos 22 idosos que estão delirando de felicidade. Esta é uma oportunidade que eles têm de sair, ver muita gente e o almoço que é uma festa para eles”.
* Maria Abadia Lobato, há mais de 20 anos ajuda no preparo do café com doação total, ao lado do filho Marino e demais familiares. “Começamos eu e o marido, no tempo do Jair Ferreira e o Marino nos ajudava, agora assumiu o lugar do pai e temos o resto da família como adudantes”, afirma alegre, Abadia, informando que até aquela hora, por volta das 12h, serviu mais de mil pessoas. “Começamos os preparativos aqui ás 4h da manhã, é muito café, mais de mil pães com manteiga, tudo preparado aqui por nossa equipe, a gente perde a conta da quantidade de café. Fico feliz por poder ajudar todo ano, pela devoção a Santos Reis, que me curaram”.