“Lucilia – Rosa Vermelha” é o sugestivo título da biografia de uma mulher maravilhosa, Lucília Soares Rosa, uma comunista que, pelo ideal, se iguala a Olga Benário, não pela luta em campo e pelo sofrimento da mulher de Luiz Carlos Prestes, mas pelo ideal, sim, um ideal que durante toda a sua vida carregou.
De autoria de Luciana Maluf Vilela e Luiz Alberto Molinar, mas escrito, digamos, a oito mãos, pois teve a participação também de Evacira Gonçalves de Coraspe e Lauro Henrique Guimarães Correa, o livro conta a sua vida.
Lucília Soares Rosa (1912/2011), foi a pioneira do feminismo em Uberaba e uma das 17 primeiras vereadoras de Minas Gerais, eleita aos 35 anos, em 1947, em Campo Florido, no Triângulo Mineiro. Ela pertencia ao PSD (Partido Social Democrático), embora fosse ligada ao então clandestino PCB (Partido Comunista do Brasil) desde os 18 anos, partido do qual foi defensora ferrenha até os últimos dias de vida.
“Lucília dedicou sua vida à causa revolucionária. Lutou por uma sociedade justa e igualitária para todos, fazendo jus ao significado de seu nome. Lucilia significava solidariedade, sinceridade. Disciplinadora, porém doce, amável e, às vezes, até angelical. Gostava muito de conversar. De contar causos seus e dos outros, todos sem censura”, relata o jornalista Luiz Alberto Molinar, coautor do livro.
Lucília foi uma mulher além de seu tempo. “Ousou e enfrentou preconceitos ao ligar as trompas em 1939, depois de ter dois filhos, Calixto e Moyses. Essa operação somente realizava-se na Europa”, relata Molinar. Residindo em São Paulo por 15 anos, de 1958 a 1972, Lucília trabalhou como doméstica, tendo como patroas, dentre outras, a deputada federal Ivete Vargas (PTB), sobrinha do presidente Getúlio Vargas.
Lucilia manteve, ao longo de sua vida, um rico acervo de documentos, dentre eles, correspondências que manteve com Luiz Carlos Prestes, secretário-geral do PCB entre os anos de 1930 e 1980 e com Anita Leocádia, filha de Prestes com Olga Benário, morta em campo de concentração nazista, na Alemanha e de outras celebridades da política e da cultura nacional, como por exemplo, o pintor Candido Portinari e o escritor Jorge Amado.
Em Uberaba, Lucília foi um dos importantes nomes do PCB ao lado de Abel Reis, Afrânio Azevedo, mas sempre com bom relacionamento com outros partidos.
Lucília morreu aos 98 anos, em 3 de março de 2011.
O livro
As mais de 417 páginas com 250 imagens,, conforme os autores, revelam, além da personalidade e os caminhos de Lucília, a trajetória de anarquistas, de espíritas, de maçons e de comunistas, grupos combatidos, sistematicamente, pelo clero da igreja católica. Enfim, o livro aborda a origem dos movimentos populares e de seus agentes em Uberaba e região, desde o final do século 19 até a década de 1970.
“Lucília – Rosa Vermelha” é mais uma publicação da Editora Bertolucci, com tiragem de duas mil cópias. Uma das orelhas do livro é assinada pelo proprietário da Editora Bertolucci e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, Carlos Alberto Cerchi, responsável pelo cerimonial da noite cultural.
O livro 'Lucília Rosa Vermelha' foi lançado em Uberaba no dia 13 de janeiro, e em Sacramento, no dia 20, na Casa da Cultura Sérgio Pacheco, onde foi exibido o documentário “Lucilia: 90 Anos de Memória”, produzido por estudantes do curso de Jornalismo da Uniube, em 2002. Abrilhantando a noite, a banda Lira do Borá e Coral Edin Neves , sob a regência do maestro Paulo Constâncio da Silva, que executou na flauta o hino, “A Internacional”, enquanto o ator Milo Sabino declamava “A Internacional Socialista”.