Com o título na mão, Periquito migra para Brasília

Como as aves migratórias, Antonio Carlos de Rezende, o Periquito, 59, sempre chega a Sacramento no mês de fevereiro, com o fim específico de acompanhar os preparativos e o desfile da escola do coração: a Unidos do Areão, bairro onde viveu a sua infância com os irmãos Rute e Maria, e logo depois empreende a viagem de volta à Brasília, onde mora 40 anos. Desta vez, batendo as asas mais feliz, pois leva para a capitão federal o sexto título de sua escola de coração. 

E Antônio Carlos tem razões de sobra para isso. É uma volta às origens. Periquitocresceu ali no bairro, bem no coração do 'Areião', com 'i' mesmo, como o bom português do povo sempre falou. Aliás, não sabemos por quê usaram o termo formal, 'Areão' no nome da escola de samba, se carnaval é uma manifestação exclusivamente popular. 

Mas outro fator fez Antônio voltar à cidade. Petista de carteirinha, dá uma boa risada para retornar ao fato. Antes do nascimento daescola de samba, eu havia feito uma promessa, quando mudasse alguma coisa em Sacramento. E conseguimos eleger o primeiro prefeito do PT e ainda por cima japonês, numa terra de italianos e portugueses. Aí voltei. Fundamos a nossa escola e nunca mais deixei de vir todo ano só pelo carnaval. É claro que volto em outras datas. Mas no carnaval e de quatro em quatro anos pra votar naquele que quero que seja o prefeito. Estas são datas certas”, afirma. 

Falando sobre a escola do bairro, Antônio Carlos declara que alimentou esse sonho por muitos anos. “Esse era o nosso maior sonho e temos uma palavra de ordem: alegria. Esse sonho veio desde a infância, quando morando no 'Areião' vínhamos aqui pra cidade, alegres, felizes tocando latinhas de marmelada. Era um som só tec-tec, tec-tec, tec-tec... E, a criação da Unidos do Areão impulsionou o crescimento no carnaval, porque fomos campeões cinco anos seguidos e as escolas tiveram que trabalhar pra serem melhor do que nós e isso foi e é muito saudável pra cidade”. 

Aposentado no serviço público federal, Antônio Carlos está concluindo o curso de Licenciatura em Teatro, pela Universidade de Brasília – UNB, com um único propósito: “Tenho paixão pelo teatro desde criança. Aos oito anos eu fazia teatro e hoje estou concluindo o curso para ensinar a arte do teatro. E vou poder dar um colorido maior na nossa escola”, ressalta. 

Viúvo há oito anos, Antônio, que é pai de dois filhos, Pedro e Juma, tem paixão por Sacramento, mas não pretende voltar para morar. “Por uma questão de hábitos e costumes não pretendo voltar pra morar, mas sempre estarei presente. A gente se acostuma nos grandes centros, o ritmo de vida é diferente e voltar às origens, confesso que é muito difícil”, diz. 

E para confirmar o porquê de não se adaptar mais numa cidade pequena, Antônioconta alguns aspectos de sua trajetória e a força com que abraça uma causa,  como por exemplo a de ir ter com John Lenon, em Nova York, no dia do aniversário de ambos.  “Lenon e eu nascemos no mesmo dia, 9 de outubro. Eu nasci na Gurita na Serra da Canastra, escutando o nhém, nhém,nhém da sanfoninha de oito baixos e ele em Liverpool, 12 anos antes”, recorda. 

Ainda moleque, já com o apelido de Periquito, Antônio Carlos mudou-se com a família para Sacramento. “A igreja me ensinou as músicas do dia a dia. Fui para o seminário em Aparecida, onde comecei a cantar canto gregoriano, conhecer as artes e a música clássica Bach, Mozart e outros; aprendi latim, francês. Lias Aventuras de Rim timtim (Les aventures de Tintin)em francês. Saindo  do seminário,  encontro o quê? O rock in rolle nesse dia descobri que John Lenon e eu nascemos no mesmo dia. Aí,   abracei o rock in rol, quando um dia realizei meu sonho,  fui a Nova York encontrar-me com John  e fui recebido por ele com direito a abraços e autógrafos. Depois fui a Londres ver Led Zeppelin. Fui um dos  sorteados entre 23 milhões de concorrentes. Sempre gostei muito dessas coisas e agora do Carnaval da nossa escola”. 

A entrevista foi feita com Periquito circulando ao lado da escola campeã. Com algumas pintas de palhaço no rosto, mostrando um pouco de sua performance teatral, parava e brincava com as crianças.