Sacramento não comemora o 20 de Novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, nem no âmbito municipal nem em nível de entidades afro. Mas algumas escolas reuniram os alunos para palestras e reflexões sobre a data, além de trabalhos e atividades alusivas. Para Delcides Tiago Filho, 44, um dos líderes da comunidade negra e presidente do Terno de Congada Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, são vários os motivos que levaram a comunidade a deixar de comemorar a data nos últimos anos. “Houve um descontrole generalizado que nos impediu de comemorar a data, pelo menos em nível de comunidade, mas vamos voltar a fazer a comemoração. Para isso precisamos unir mais pessoas para estarem participando, pra não ficar uma festa – como dizem – de meia dúzia de pessoas”.
Convidado a fazer uma palestra aos alunos da Escola Coronel, Cid se diz satisfeito, afirmando que pelo menos ele não passou a data em branco. “Estive na Escola Coronel, fazendo uma palestra sobre a data. Isso demonstra que as escolas hoje têm buscado levar aos alunos a história afro-brasileira, trabalhando com os alunos essas questões. Senti que os alunos participaram com interesse, entusiasmo. De certa forma, para mim, pelo menos, a data não passou em branco”, destaca.
De acordo com a Lei 10.639/2003, todas as escolas públicas e particulares da educação básica devem ensinar aos alunos conteúdos relacionados à história e à cultura afro-brasileiras. A lei inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática, "História e Cultura Afro-Brasileira".
Conforme o art. 26-A, “ Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. § 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras” e pelo art. 79-B, “O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como 'Dia Nacional da Consciência Negra'".
Políticos alegam que “Sacramento já tem feriado demais”
A respeito do feriado do dia Nacional da Consciência Negra, que existe em muitas cidades é feriado, inclusive em Uberaba, Franca, Ribeirão Preto, Cid explica que já houve uma tentativa, mas foi em vão. “Já tentamos uma vez que fosse criado o feriado do dia 20 de novembro na nossa cidade, mas não conseguimos. Eles alegaram que Sacramento já tem feriados demais e parou por aí”.
De acordo com Cid, Sacramento conta com dois ternos de Moçambique e um de Congado, o Grupo de Dança Afro, liderado por Dalva, além dos grupos de capoeira. “Tínhamos na cidade o Movimento Identidade Afro, que embora ainda tenha diretoria, não está atuando. O Movimento era responsável pelas comemorações de 20 de Novembro e outras lutas de interesse de nossa comunidade, com o feriado no dia 20, resgate da cultura, da arte, da culinária afro e tantas outras atividades”, informa.
Delcides é servidor público municipal há 17 anos, casado com Leila Maria Tiago, (presidente da ASAA – Associação de Artistas e Artesãos de Sacramento), pais de dois filhos Mariane e Pablo. Cid e Leila perderam em agosto o filho Tarciso. E são avós de dois netinhos, Davi e Piedro Gabriel. Delcides é também presidente do Centro de Recuperação do Alcoólatra – Cerea de Sacramento. “O prazer maior que tenho é poder trabalhar e principalmente fazer este trabalho afro, que são nossas raízes e não podemos deixar que a cultura acabe”, finaliza.
Quem foi Zumbi dos Palmares
A data, Dia Nacional da Consciência Negra, foi estabelecida oficialmente pelo projeto lei número 10.639, no dia 9 de janeiro de 2003, mas a data, 20 de novembro já era celebrada desde a década de 1960, A escolha de 20 de novembro, homenageia Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, que morreu em 20/11 de 1695.
Para historiadores, a homenagem a Zumbi é mais do que justa, pois este personagem histórico representou a luta do negro contra a escravidão, no período do Brasil Colonial. Morreu em combate, defendendo seu povo e sua comunidade. Os quilombos representavam uma resistência ao sistema escravista e também um forma coletiva de manutenção da cultura africana aqui no Brasil. Zumbi lutou até a morte por esta cultura e pela liberdade do seu povo.
A criação desta data foi importante, pois serve como um momento de conscientização e reflexão sobre a importância da cultura e do povo africano na formação da cultura nacional. Os negros africanos colaboraram muito, durante nossa história, nos aspectos políticos, sociais, gastronômicos e religiosos de nosso país. É, portanto, um dia a ser comemorado nas escolas, nos espaços culturais e em outros locais, valorizando a cultura afro-brasileira. A abolição da escravatura, de forma oficial, só veio em 1888. Porém, os negros sempre resistiram e lutaram contra a opressão e as injustiças advindas da escravidão.