Aprender dói? Discrimina? A resposta a essas perguntas é bem simples: aprender dói sim, discrimina, sim. Basta-nos observar a “justificada” preocupação do MEC (Ministério da Educação), ao poupar os que usam o linguajar dito popular, do complicado aprendizado da norma culta da língua. Claro que o MEC, ao lançar este polêmico livro, não o fez aleatoriamente; deve ter sido elaborado após exaustivas pesquisas e estudos. Pelo menos, é o que supomos. No nosso entender,a escola não ficaria dispensada de ensinar a forma correta da língua, deixaria apenas de tachar como errados os que falam errado, ou melhor dizendo, segundo a linguagem padrão. Assim sendo,não haveria mais razão para se preocupar com o plural e singular das palavras, com a concordância nominal e nem verbal pois o importante mesmo, na nova proposta pedagógica, é a comunicação. Daí fica claro que, falar errado não é errado.
Ao lançar o livro “Por Uma Vida Melhor”, a intenção do MEC, pelo menos aparente, foi evitar a discriminação dos que não se comunicam segundo as rigorosas regras gramaticais. No entanto, no nosso modo de ver, ao poupar os menos favorecidos, do aprendizado conforme a norma culta da língua, estão, na verdade, discriminando muito mais do que protegendo. Convenhamos que, em tempos passados, quando a escola punia os alunos relapsos com recursos antipedagógicos como: deixá-los sem recreio, ou de castigo após o final das aulas, ou, ainda, usando a palmatória, era, sim, moralmente humilhante e doía de fato na pele e no brio da cada um. Todavia, pelo que sabemos, tais recursos nunca tiraram pedaço de ninguém e, pasmem-se, tais castigos tinham o total apoio dos pais, que seguiam o seguinte raciocínio: se o professor agiu dessa forma, é porque o menino mereceu. Tal fato mostrava a confiança que os pais depositavam na escola, além de deixar claro que escola e família andavam de mãos dadas.
Numa análise bem elementar, sem preocupações conceituais e filosóficas, perguntamos: Se a escola não suprir as lacunas que as crianças, com baixa escolaridade, trazem dos ambientes que frequentam, quem cumpriria com esse papel? Haveria, no mercado de trabalho, tolerância para com os candidatos que se afastam do linguajar padrão? A verdade é que, ao pouparmos as crianças do aprendizado das regras gramaticais, respeitando o seu falar espontâneo, estaremos privando-as de uma organização mental do pensamento lógico, o que lhes trará incalculáveis prejuízos no futuro. Que o diga Piaget!
Alguns analistas políticos, articulistas e puristas do idioma, incluindo nessa categoria o Sr. Ivan Santos, que vasculham o que se passa nas entranhas (verdadeiras intenções) presentes nessa polêmica iniciativa do MEC, apontam para os resultados óbvios da adoção de tal livro nas escolas públicas, qual seja: a separação dos que comandam (elites) dos que executam e obedecem (o povão).
A conclusão de Clóvis Rossi, articulista da Folha de S. Paulo, na crônica: ”OS LIVRO””, é, no nosso modo de ver, perfeita. Diz ele: Em nome de uma revolução pedagógica o que a escola tem feito é a implantação da lei do menor esforço: estuda-se pouco e ensina-se mal: Isso sim é o que deveria realmente preocupar”.
Mariú Cerchi (*)