A cachaça P.O., produzida na fazenda Montágua, no município de Conquista, pelo sacramentano Marcos Cordeiro de Rezende, é destaque no livro, Cachaças – Minas Gerais, lançado pelo Sebrae/MG em 2010, que registra as 15 marcas de cachaças certificadas e reconhecidas pelo INMETRO, entre as melhores cachaças mineiras. Dentre as apresentadas, além da P.O., há apenas mais duas da região, uma de Araxá e outra de Uberaba.
A P.O. é destaque no capítulo intitulado, 'Pura de Origem na terra do gado zebu', onde o empresário Marcos Cordeiro Rezende conta a trajetória da cachaça. “Meu tio, Oto Rezende da Cunha, foi quem criou a marca no começo da década de 1980, pensando na cultura dos criadores de gado. A marca fez sucesso e se tornou muito falada por aqui”.
Ainda de acordo com Marcos, mais conhecido como Marcos da PO, “a trajetória da cachaça, pode ser dividida em dois momentos: de 1980 até 1995, período em que Oto Rezende produziu a cachaça em sua fazenda, em Capinópolis. Ao longo de 15 anos, Oto foi modernizando o modo de produção, até que resolveu aposentar-se”.
Iniciando no ramo e buscando um nome para sua cachaça, Marcos anteviu na original marca P.O., um grande filão publicitário. A começar da associação da sigla com a marca do mais puro gado Zebu; duas iniciais de fácil memorização, além do conceituado passado da marca. O sobrinho não pensou duas vezes, herdou a marca e a trouxe para a fazenda Montágua, no município de Conquista.
Daí para a frente, Marcos disse que inicia o segundo momento da P.O.. Ao adquirir a marca, começou por priorizar a melhoria técnica do produto. “Eu era apenas um consumidor de cachaça e trabalhava com produção de leite há 14 anos, mas sempre enfrentava dificuldades. Então resolvemos investir, eu, meu pai, Donaldo Lenza, e minha mulher, Séfora”, contou Marcos aos editores do livro. Nessa trajetória, começou já a partir de 1996, correr atrás de informações técnicas no Sebrae/MG e a fazer cursos de alambiqueiro e de fermentação.
O livro dá destaque também à fermentação caipira da cachaça. “A P.O. é fabricada dentro das normas de certificação das chamadas bebidas de qualidade. Apresenta teor alcoólico de 39%, baixa acidez, e com um buque com leve toque do carvalho, madeira usada nos barris para o envelhecimento da bebida durante dois anos. No processo de fermentação, é usado o chamado fermento caipira, cuja mistura traz milho, farelo de arroz e farelo de soja. Já na destilação, Marcos separa o coração da cachaça para ser envelhecido, reutilizando a cabeça e a cauda para produzir álcool para uso doméstico”, explicou o livro, distribuído hoje pelo Sebrae.
Sobre a boa aceitação da bebida, Marcos justifica a suavidade de seu produto. “Acredito que um dos fatores que ajudou na venda de nossa cachaça foi a suavidade. Isso porque a P.O. é mais leve do que as cachaças de outras regiões do Estado. Além disso, quando se começa a fabricar a cachaça artesanal não se tem ainda um padrão e o produtor acaba buscando um gosto, um sabor que seja de seu agrado. E, às vezes, esse gosto característico tão próprio da nossa terra, acaba agradando mais as pessoas”, explicou.
Para Marcos, um dos fatores que ajuda também na qualidade da cachaça é a água da região de Engenheiro Lisboa, onde está localizada a fazenda Montágua. “Na época da certificação do Inmetro, os técnicos fizeram estudos da qualidade da água da região, cujo resultado foi muito positivo. Essa água é utilizada na produção da cachaça e um exemplo disso está na preparação do caldo para moagem”.
História da Cachaça
O livro de 180 páginas traz ainda a história da cachaça no Estado e a linha do tempo desde a introdução da cana no país, em 1504, até os nossos dias, em que a cachaça encontra-se no apogeu. “A cachaça se popularizou e tornou-se signo de resistência aos colonizadores. Atingiu o ápice no século XIX, transformando-se, também em sinal de brasilidade”, diz a revista no capítulo intitulado, De filha bastarda a símbolo nacional.
Sobre a bebida que saiu dos alforjes e algibeiras dos tropeiros para chegar ao topo da preferência nacional, o livro traz um capítulo histórico, com a reprodução de 89 rótulos de cachaças produzidas em Minas nos anos 1940 e 50, da coleção da artista plástica Lotus Lobo, doadas gentilmente pelo técnico alemão em litografia, Guilherme Rudiger, em 1977.
Outros rótulos são da coleção de José Maurílio Silva de Curvelo. Ambas são algo histórico, mostrando rótulos da cachaças dos mais variados rincões mineiros e os nomes que o digam: Maria Bonita (Bambui), Invencível e Sedutora (ambas de Barbacena), Combate e Virgulina (Cataguazes), Sarobá (Curvelo), Dominante (Januária), Passa Cinco (Juiz de Fora), Tentadora (Ponte Nova), Jararaca e Rainha do Mundo (Santo Antônio do Grama), Vingança e Caridosa (Leopoldina), Leite de Onça (Governador Valadares), Tomba Nego (Santana do Abaeté), Chora no Copo (Uberlândia, Perna Bamba (Bom Despacho), Atleticano e Cruzeirense, Destino Traçado, Curvelo, Parati e Pramim (BH), Pecadora (Santa Bárbara), até a Jeca Tatu, fabricada em Sacramento por Leônidas Afonso Primo.
Destaque também para os apelidos de A a Z que a cachação ganhou nas diferentes regiões. Há também o registro de curiosidades tais como museus da cachaça, clubes da cachaça , tipos de copos e a relação das boas madeiras para o envelhecimento, dicas de leitura.
Sérgio Rezende é um dos mais novos colecionadores de cachaça
O destaque final do livro, na pág. 188, é para o mais novo colecionador mineiro: o sacramentano Sérgio Antonio Rezende, ex-presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Diz a matéria, que Sergio começou a coleção em 2006 e já possui mais de 500 marcas, mas ele nunca comprou uma garrafa sequer. “Nas viagens pelo estado, Sérginho passou a ganhar de presente dos amigos, aguardentes da região visitada”, narra o livro.
Destaca ainda o livro, que o ex-desembargador não é degustador de cachaça, o que é a garantia de vida longa para a coleção. “Gosto de colecionar por causa dos rótulos, dessa memória que faz parte da cultura mineira. Tenho, por exemplo, a P.O. de Minas, original, produzida por Oto Rezende da Cunha, em Capinópolis. Essa cachaça faz parte da memória de minha família”.