Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Waldomiro doa discos para Arquivo

Edição nº 1235 - 10 Dezembro 2010

O motorista aposentado, Waldomiro Cardoso da Silva, 90, sacramentano radicado em Franca, esteve em Sacramento  para fazer uma doação especial ao Arquivo Público: uma coleção de quase mil discos de vinil, os antigos LPs (Long Play), vulgarmente conhecidos como ´bolachão´. Acompanhado do genro, Waldomiro passou o acervo ao secretário de Cultura, Amir Salomão Jacób, na última semana, 2.

“- Não sei quantos são. Sei que eram muito mais, eu tinha cerca de 2 mil discos, que usava para gravar fitas, muitos quebraram e hoje restam estes aqui que estou doando, me desfazendo da coleção, porque é muito cansativo cuidar, a gente já está com a idade avançada e trabalhar com gravação desgasta muito. Eu fazia gravações de fitas cassete em casa e vendia na cidade. Fazia gravações,  por encomenda, de musicas antigas”, justifica.  

Conta Waldomiro que começou a colecionar discos há 50 anos atrás. “Eu tinha 40 anos quando comecei, aqui mesmo em Sacramento e fui reunindo, ao longo dos anos, muito material. Eu gostava  e gosto muito de música, eu tocava violão e cantava muito nas festas, nos pagodes que havia por aqui. E fui juntando discos, fui juntando. Tinha um cômodo cheio de discos. Eu comprava meus discos em São Paulo, numa loja no começo da São João, porque lá tem um pessoal que sai procurando esse material para revender”, recorda.

Waldomiro revela um fato que ele acha engraçado. “O engraçado é que eu comprava e não tinha tempo para ouvir. Eu ouvia quando estava gravando, não tinha tempo de ficar tocando só por gosto. Agora, como 90 anos, decidi doar para o museu, porque as pessoas que gostam de coisas antigas vão gostar e eu, quanto tiver saudades posso olhar e recordar. Deixando aqui no museu estarão guardados”, afirma.

A grande paixão de Waldomiro era por músicas sertanejas, que fazem parte da maioria de seu acervo. “Sertanejo raiz, aquele bem antigo, que fala das cosias da natureza, das belezas da terra, coisa de que as músicas sertanejas de hoje não falam. Hoje, eles falam de pornografia, gozação, amor barato”, define.

Para o ainda cantor e tocador de violão, o que existe hoje não é sertanejo. “A música sertaneja, mas sertaneja mesmo é mais sadia”, diz, mostrando os discos e se confessando muito feliz em fazer a doação. “Estou muito feliz, meu medo era de não achar quem aceitasse. A gente tem dó de jogar fora, são discos bem conservados, bem cuidados. Coisa que muita gente não conhece, estou feliz em ver que aqui eles vão continuar bem cuidados”. 

Waldomiro, que mora sozinho, ainda se dedica ao violão e à música. “Moro sozinho e Deus, e toco alguma coisa, gosto de dançar nos forrozinhos dos idosos e vou vivendo a vida. Tenho muita saúde, graças a Deus, não sinto nada, ajudo minha filha na chácara e vou passando o tempo”. 

Waldomiro é sacramentano, nascido  na fazenda Divisa, onde viveu até os 30 anos. Já casado com Leonelina Henrique Vitorino, com quem quatro filhos,  mudou-se para a cidade e aqui  exerceu profissão de motorista e  outras atividades, por dez anos.  Depois mudou-se para São Paulo, onde residiu por 32 anos, trabalhando como motorista de caminhão.  Aos 60 anos, mudou-se com a família para a cidade de Franca, onde reside até os dias atuais. 

“- Aqui em Sacramento, eu trabalhei com caminhão na prefeitura, o prefeito era o Dr. Juca, fiquei um tempo e aí fui fazer serviço ambulante. Não tinha patrão , não. A minha esposa era da região da Divisa e meus filhos nasceram todos aqui, três nasceram na Divisa: Ivonildes (Antonio), Matinho (Neusa), Iracilda e Irani (Waldiney). Tenho sete netos e cinco bisnetos.

 

Secretário Amir agradece doação

 

O secretário de Turismo e Cultura, Amir Salomão Jacob agradeceu a doação da  discografia, ressaltando a importância do acervo para o Museu da Imagem e do Som, que pretende criar. “Pretendemos criar o museu da imagem e do som, já estamos com o projeto pronto e esse acervo dentro desse museu terá uma importância  muito grande. É uma reserva técnica que temos para  o arquivo público e o museu histórico e que  futuramente irá para o museu da imagem e som, para que as pessoas conheçam esse tipo de disco, que não se encontra mais no mercado”, afirma, agradecendo ao doador: “Essa doação, Seu Waldomiro, é importante demais, porque ele traz vários tipos de músicas, desde MPB, sertanejo raiz, religiosas e outras. Agradecemos muito por ter se lembrado de trazer isso para a sua cidade natal, contribuindo para o acervo do futuro museu”.