Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Uma vida de trabalho e dedicação a Cemig

Edição nº 1191 - 05 Fevereiro 2010

O eletricitário Arinaldo Heitor de Paiva (foto), 47,  está curtindo sua merecida 

aposentadoria, após 30 anos de efetivos serviços prestados à  Cemig. 

Natural de Itutinga, no Sul de Minas, Arinaldo, desde crian-ça sempre esteve 

ligado à Cemig, por conta de outro funcionário da estatal, o seu pai, 

Antero Ribeiro de Paiva, ela Maria Francisca de Paiva. Quando começaram 

as obras da Usina de Jaguara, Arinaldo tinha quatro anos. 

Gostosíssimas lembranças da Jaguara do Trem de Ferro ainda marcam 

o ex-funcionário. E pra falar de tudo isso, Arinaldo nos recebeu na 

sua aprazível chácara, Recanto da Figueira. Vamos lá!

 

ET – Arinaldo, conta aí como foi esse amor pela Cemig...

Arinaldo – Começou cedo, fui ‘barrageiro’ desde criança. Papai trabalhou nas construções das usinas de Camargos e Itutinga. Morei ali, nos acampamentos. Depois de concluídas as obras, a Cemig decidiu construir Jaguara, em 1967, e papai veio transferido para cá. Eu tinha quatro anos. Na época vieram alguns conterrâneos de Itutinga e fomos morar na Jaguara Velha, onde hoje existe um canavial. Ali iniciei na escola aos sete anos. Nesse espaço, por apenas dois meses, fomos morar em Belo Horizonte, mas logo retornamos à Jaguara. A vida aqui era mais fácil. Papai efetivou-se no cargo de motorista, aí mudamos para a vila dos operadores, onde permanecemos até sua aposentadoria. 

 

ET – Jaguara foi sempre um paraíso, passar a infância ali deve ter sido maravilhoso. Tudo começou, então, na Jaguara velha?

Arinaldo – Se foi!! Tenho lembranças maravilhosas. Minhas primeiras atividades começam na Jaguara Velha, porque moramos ali até a efetivação de papai. Eu me lembro que havia uma guarita entre  o acampamento provisório e o pessoal que morava na obra. Ali era o ponto onde o ônibus parava quando nos levava à escola. O motorista era o  Seu Josino e havia o Becão, que era o  rapaz que controlava  a gente no ônibus. Estudávamos à tarde na Escola Nana Kubistchek.  Dona Zilda Nascimento Dale era a diretora. Mais tarde a Ercília passou a ser a diretora. A Dona Lourdes Scalon também foi diretora e sempre desenhava muito bem. Lembro da Isabel Flores como professora. Na terceira série a minha professora foi a Márcia Oliveira , filha do Sr. Osvaldiner e Dona Isaura. A Maria do Carmo Marques  foi minha professora na quarta série; tenho até hoje minha fotografia tirada com ela. Muitos amigos de infância e de escola, como o Maurício Scalon, que era de uma turma mais velha; Claudio Antonio, que está na Cemig em Uberaba; os filhos do Sílvio Oliveira, muitos dos colegas estão na região e nos encontramos de vez em quando.

 

ET – A gente não pode deixar de lembrar do ‘Trem de ferro’, na estação de Jaguara e a famosa Loja do Dedé... Lembra? 

Arinaldo – Claro. Tenho muitas coisas na memória... Mamãe era freguesa da Loja Central do Dedé. Eu não sei se tinha o ‘Central’ no nome da loja. O açougue... A movimentação do trem de ferro,  que ia para Uberaba e Franca. A entrada da fazenda do seu Acácio e Dona Lourdes. A travessia para o estado de São Paulo através da histórica ponte, onde só passava um veículo de cada vez. Ali ficava um guarda de cada lado, controlando o trânsito. Na vila velha, uma vez uma boiada passando por ali, atropelou uma senhora, próximo do açougue. Ela ficou muito machucada.  Lembro da  Igrejinha que havia e do  padre Saul celebrando lá. Houve uma vez uma procissão muito grande, movimentada e o padre Saul lá, à frente, rezando. Mais tarde quando já morávamos na vila dos operadores, fui coroinha do Padre Saul.

 

ET – Depois de um tempo, você disse, a família muda para Belo Horizonte...

Arinaldo – Sim, mas por um curto período, dois meses. Aí papai efetivou-se e nos mudamos para a vila atual da Cemig. Primeiro, para a casa nº 37 e, depois para a casa 41, uma casa maior, com quatro quartos. O quintal era todo gramado, papai tirou tudo, adubou e plantou verduras. Era uma vida alegre a nossa, em casa e aproveitando o clube. Era uma cidade movimentada na época, cheia de muita gente, crianças... E ali cresci com os irmãos, Antônio Carlos, Arnon José, Arnaldo e Ana Gorete, a única que nasceu  em Sacramento. Papai ia levar o almoço e o jantar para os operadores e a gente, menino, não podia entrar. Ficávamos lá fora, aguardando. Assim são minhas lembranças, a vila da Cemig, que vi construir, tinha uma vida social intensa, durante a construção e até alguns anos depois da inauguração, que aconteceu no dia 26 de fevereiro de 1971. Aliás, daqui a um ano a vila estará completando 40 anos. Na inauguração, fizeram uma grande festa, foi um churrascão com a presença do governador e do presidente. 

 

ET – Qual é a sua formação acadêmica? Começou ali no Grupo Escolar Nana Kubstichek ... E depois, o ginásio, colegial?

Arinaldo – A partir da 5ª série, naquele época, a 1ª série ginasial, éramos transferidos para o Gi-násio Estadual de Rifaina, até concluir o chamado 2º grau, o Colegial. O ônibus nos levava para as aulas de Educação Física, pela manhã, e retornava levando para a vila  as empregadas domésticas. Voltava à Rifaina para nos buscar e, ao meio-dia, novamente, nos levava para a Escola e buscava à tarde. Papai era um dos motoristas do ônibus. Depois de concluído o 2º grau em Rifaina, fui estudar em Franca, no Colégio Dr. Julio Cardoso, o Industrial, onde fiz o curso técnico de eletrotécnica e pude tirar o meu Crea. Para aquela época fazer um curso técnico era muito bom  e me valeu muito na minha carreira dentro da Cemig. 

 

ET – Jaguara, Rifaina, Franca... A vila com aquela atividade social intensa, tinha tudo para se casar por lá e veio encontrar o grande amor de sua vida em Sacramento. Como foi isso?

Arinaldo – É verdade. Vivi toda minha juventude entre Jaguara e Rifaina. Havia o clube que ti-nha um movimento muito grande, bailes, grandes bailes, Cassino de Sevilha já esteve tocando em Jaguara. Horas dançantes, torneios de futebol. Vínhamos muito pouco a Sacramento, pois Jagaura tinha uma vida muito ativa. E como estudávamos em Rifaina tínhamos muitos  amigos lá. Então, eu acredito que, de fato, eu teria tudo para arrumar uma namorada em Jaguara ou em Rifaina... Ou até mesmo em Franca, onde fiz o curso técnico.

 

ET – No entanto, tchan, tchan, tchan... tchan…

Arinaldo – (risos) Numa noite de sábado,  em  novembro de 1982, vim a Sacramento com al-guns amigos, por volta das 21h00. Estávamos nos preparando para voltar para a vila e resolvemos pas-sar na Cinelândia. Lá, meu amigo, Jerônimo, encontrou uma amiga, a Silvinha, filha da Dona Sebastiana, que nos apresentou as meninas, Solange, Diomira, Solimar, Vanessa... Conversamos um pouco, despedimo-nos e saímos. Logo, olhei para trás e a Solange me olhou. Foi um olhar fatal. No domingo da próxima semana voltamos a Sacramento e nos encontramos pela segunda vez... Conversa vai, conversa vem, no domingo mesmo começamos a namorar. Meu futuro estava reservado em Sacramento. O casamento aconteceu dois anos depois, eu tinha 23 anos. E de nossa união nasceram os filhos, Guilherme e Rodrigo. Esse ano eu e Solange fazemos bodas de prata. São 25 anos vividos com muito amor.

 

ET – Você disse que completou 30 anos de Cemig e 37 anos trabalhando... Onde trabalhou nesse período antes de entrar na Cemig?

Arinaldo – Sim, trabalhei um tempo no  Hotel da Cemig, depois numa imobiliária em Rifaina. E aí aconteceu um fato curioso que me descobri como pintor de letras, ao ver o Nenê Terra, um grande pintor de letras de Sacramento, pintar algumas placas para o dono da imobiliária, Augustus Imóveis.  Para aproveitar o espaço do verso da placa, meu patrão pediu para eu pintar outra publicidade. Fui copiando as letras e vi que tinha jeito e acabei pintando o verso de todas as placas, além de outros serviços na cidade.  Pintei muitas placas e faixas para a Prefeitura de Rifaina, para Cemig e para os políticos nos anos de eleição.

 

ET – Você era muito jovem na época, trabalhava como aprendiz, sem registro ou era regis-trado?

Arinaldo – No começo, sem registro. Tive meu primeiro trabalho registrado, na fazenda Cervo, em Rifaina, de propriedade do Sr. Hamilton Zuliani e Dona Elvira. O Sr. Hamilton precisava de um office boy para ajudá-lo na fazenda, pois ele havia aposentado recentemente do antigo banco Banespa e desenvolvia seu novo trabalho na fazenda. Ele foi até o ginásio de Rifaina e pediu indicação de um aluno que fosse bem disciplinado, letra boa e organizado. A Escola fez indicação do meu nome. Ali iniciei aos 16 anos e saí de lá para entrar na Cemig. O Sr. Hamilton, pessoa que mantenho contato até hoje, me ensinou grandes lições de trabalho. Coisas que empreguei na minha vida na Cemig e na minha vida particular.  

 

 ET – Quando foi seu ingresso na Cemig?

Arinaldo – No início dos anos 80 já estava trabalhando na Cemig, depois de um curso na Es-cola Técnica de Sete Lagoas. Cheguei como aprendiz. Eu me lembro que éramos 120 funcionários. Mui-tas coisas mudaram nesses 30 anos, a começar pelo número de funcionários. Quando deixei Jaguara há dois anos, para ir trabalhar em Igarapava, já éramos apenas 30. O quadro foi reduzindo gradativamente, somente com planos de incentivo, sem nenhuma demissão. E hoje, talvez, 25, e a meta é operar a usina com 17 funcionários. As demais necessidades de mão de obra virão de um centro de apoio sediado em Uberaba. A vila, então, construída para abrigar os funcionários foi ficando ociosa, até que foi vendida.  Da Cemig, resta hoje, a usina e muita saudade para muita gente. 

 

ET – De aprendiz a supervisor e sempre em Jaguara... Como foram essas promoções?

Arinaldo – Sim, iniciei como aprendiz na escolinha da Cemig e logo ingressei na Usina de Ja-guara. Um ano e meio após, fui efetivado como auxiliar de eletricista. Quatro anos mais tarde, após realizar um trabalho de levantamento de dados numa das seções, obtive uma carta de elogio e logo fui promovido para o cargo de auxiliar de engenharia. Nesse setor trabalhei dez anos, aí fui para o cargo de auxiliar técnico, depois técnico industrial, passando a supervisor em Jaguara e, depois,  na função de gestor de contratos em Igarapava, nos últimos dois anos. Meu trabalho sempre foi na Cemig, muitos que iniciaram comigo foram para outras usinas, mas como sempre morei ali, fiz um pedido para permanecer e fui atendido. 

 

ET – A evolução tecnológica contribuiu para o enxugamento do quadro ou a nova adminis-tração da Cemig, após a venda de metade das ações para a iniciativa privada?

Arinaldo – As coisas mudaram, quando eu cheguei na Cemig, não havia nenhum computador, tudo era manual, não havia telefone interurbano numa usina daquele tamanho. Os dois primeiros telefones interurbanos que chegaram foi em 1981, eram interurbanos de Uberaba. Aquilo  para nós era o máximo, ter um telefone pra falar em Uberaba. Tudo lá era eletromecânico, hoje é tudo digital, comando á distância. A operação pode ser feita em Belo Horizonte mas também tem o quadro de operadores em Jaguara. Os primeiros computadores começaram a chegar, o Cobra 210, depois o XPC. Lembro-me que esse XPC era de 5kb, quando eles atualizaram para 10 kb, para nós foi tudo de bom. E a gente conseguia desenvolver trabalhos muito bons. E hoje veja a evolução que houve nos computadores...

 

ET – E com relação ao salário? Nos anos 70, três cargos eram cobiçados por esse diferenci-al, o Banco do Brasil, engenheiro da Mendes e funcionários da Cemig... Ainda vale a pena ser fun-cionário da Cemig?

Arinaldo – Quando iniciei na Cemig, como aprendiz,  ganhava salário mínimo, mais ajuda de custo. Durante todo esse tempo, pela formação que tivemos em casa, a forma como fomos gerenciando aquilo que ganhávamos, vejo que para mim foi um aumento gradativo até chegar onde cheguei com salário de supervisor. Então, esse aumento para mim foi gradativo, não senti que o salário tenha decaído. Só que iniciei numa fase em que havia promoções, reajustes maiores. Nota-se que a situação financeira das pessoas mudou muito, mas isso está muito relacionado a planejamento de vida orçamento familiar. Com certeza, a Cemig representa ainda uma boa opção de trabalho, pois é uma empresa de grande valor no mercado. Para o futuro há bons planejamentos e quer chegar em 2020 como a segunda maior empresa de energia no país, perdendo apenas para  a Petrobrás.Hoje, ingressar numa empresa que cresce como a Cemig é muito bom. Estive lá por 30 anos e hoje  posso contar com a aposentadoria que a Cemig me oferece. Isso é muito bom. 

 

ET – Feliz, com a certeza do dever cumprido, morando em Sacramento, cidade que adora... Mas, muitos ex-funcionários da Cemig estão retornando ao trabalho em hidrelétricas particulares. Você pensa nessa possibilidade?

Arinaldo – Graças a Deus, sinto-me muito feliz, pois iniciei lá aos 17 anos... Foram 30 anos de trabalho sem acidentes e com saúde, o que me permite fazer as cavalgadas que adoro e o meu trabalho na chácara. E se Deus está proporcionando neste momento de eu usufruir desse benefício, eu sou grato demais a  Ele. Essa aposentadoria chegou no tempo certo, de acordo com aquilo que plantei ao longo desses 30 anos, que, na realidade, são 37, devido aos anos que somei como aposentadoria especial. Sou grato a Deus por isso. A gente sonha muito com a aposentadoria, o ambiente de usina pode ser fatal, por isso hoje quero me dedicar muito à família, ao trabalho espírita, ao meu lazer, tirar o pé do acelerador um pouco, porque dirigi muito, vou me dedicar à chácara, aos cavalos. Enfim, vou me dedicar a mim mesmo, mas trabalhar sempre, vou usar o meu tempo para fazer outras coisas. Tenho comigo que as pessoas não podem parar de trabalhar.  Portanto, poder aposentar e morar em Sacramento é uma grande bênção para mim. Deixei a Cemig com muitos amigos e com uma satisfação muito grande. Recebi muitos elogios, os quais agradeço muito a todos, com a certeza de que, o crescimento que recebi de todos os grupos com os quais pude conviver, me deixa muito feliz para os dias atuais.