Na década de 40, o Papa Pio XII pronunciou um famoso discurso sobre a Democracia. Afirmou que “era o melhor regime de governo, apesar de seus defeitos”.
Os dirigentes, nos regimes democráticos, podem ser fiscalizados e castigados. O poder está radicado no povo, mas, como o povo não pode exercê-lo diretamente, escolhe seus representantes. Todos são eleitos para governar no lugar do povo, em “nosso” lugar, em meu lugar, em seu lugar. O poder não cai do céu. Brota das mãos do povo. Se brotasse de nossa escolha consciente, escolheríamos apenas os bons, os honestos, os de bom caráter, gente que fosse gente.
Afastaríamos os inescrupulosos, os safados, os trapaceiros, os golpistas, os nepotistas. Como seria bom se fôssemos governados por gente confiável. Viveríamos bem mais felizes. Mas isso não acontece. Não sabemos votar. O câncer já entrou na fase irrecuperável da metástase. Nossa esperança de uma política sadia já está na UTI.
O que acontece, infelizmente, é que os culpados somos nós. Somos os responsáveis pela situação. Quem os escolheu fomos nós. Infelizmente, não votamos em quem gostaríamos de votar. Votamos em quem “eles” nos apresentam. O povo não escolhe ninguém. São as bases políticas que fazem o jogo. São elas que nos apresentam os candidatos previamente escolhidos por eles.
Todos nós conhecemos a história daquele rapaz que se enamorou da filha de um coronelão. Encheu-se de coragem e, depois de uma meia-dúzia de birita, resolveu enfrentar a fera. Disse quem ele era, deu todo seu currículo e pediu a filha em casamento. A resposta foi curta e grossa: “Olhe, 'seo' moço, tenho cinco filhas e o senhor pode se casar com qualquer uma delas, contanto que seja com a Mariazinha”.
Assim acontece conosco nas eleições: somos livres, você pode votar em quem quiser, contanto que seja em um daqueles da lista que eles apresentaram. Isto se chama democracia. Dizem que é o melhor regime político. Para quem?
Agora, quanto aos nossos, vamos esperar mais um pouco. Há muita gente boa entre eles. Enquanto isto, vamos curtindo nossa paciência e nosso desencanto.
(* Padre Thomaz de Aquino Prata - Padre Prata, 94 anos é sacerdote diocesano ordenado em 8/12/1946, na Catedral Metropolitana de Uberaba, por Dom Alexandre Gonçalves do Amaral, portanto há 71 anos. Padre Prata é professor e escritor, autor de 10 livros e ocupa a cadeira nº 4 da Academia de Letras do Triângulo Mineiro (ALTM).