Votar é a expressão mais legítima da cidadania e também devemos dizer que votar é o mínimo da expressão da cidadania. Porque ser cidadão significa participar na construção da cidade, isto é, do lugar onde a gente vive.
No votar a pessoa está expressando a sua dimensão essencial, profunda, de cidadão. Uma pessoa que não vota é um cidadão manco, castrado, que abdica daquilo que ele tem de essencial em si que é pensar, construir a cidade.E o ideal seria para que a pessoa humama expressasse seu ser político em profundidade, participando de todos os planejamentos, não apenas de quatro em quatro anos, dar o seu voto. Esta é a democracia representativa que está em crise em todo o mundo. As pessoas não acreditam mais na democracia representativa. Por exemplo, o Clinton, quando se elegeu, ele se elegeu com menos da metade dos votos dos americanos. Os que votaram nos Estados Unidos, foram menos de 50% dos eleitores. Mais da metade da população não votou. O prefeito de Dallas, na eleição dele votaram 5% dos cidadãos. Então o que está acontecendo é que o pessoal desacreditou desta democracia representativa e isso é assim em muitos lugares do mundo, porque se vota e depois as pessoas fazem o que querem.
Mas além da democracia representativa há a democracia participativa. O cidadão ser chamado a dizer sua palavra, expressar o seu pensamento, o seu desejo, em todos os momentos e em todas as circunstâncias em que é possível. Mas tudo vem da idéia, não apenas de uma democracia representativa, de quatro em quatro anos, mas de uma democracia representativa-participativa, onde em todos os movimentos de todos os segmentos de vida de uma população são chamadas a participar. Isso é um passo à frente, é a melhor expressão do voto, aliás.
Há que se ressaltar aqui, um problema muito sério. Estudo feito sobre a representação social da política, constatou a visão que se tem é que a política é suja, que os políticos são corruptos. Por que isso? A explicação mais coerente disso é que é a política que faz tudo, que decide, que reparte os bens, diz como devem ser repartidos, então aqueles que estão se apropriando da política é que estão explorando, é justamente a dimensão política das pessoas. A política em si é uma expressão nobre e extraordinária do ser humano. A nobre e difícil arte da política, como dizia Paulo VI. Também a generalização de que todos são iguais, todos os políticos são corruptos, a gente tem que perceber que não. Há políticos que são honestos, que são bons, que são realmente dedicados, generosos. Não dá para generalizar. A generalização de que a política é corrupta é justamente a arma dos que querem que ela continue ruim e corrupta.
Importante destacar ainda que se há gente ruim na política, a culpa também é minha. Os eleitores têm culpa em votar em pessoas que estão lá. Isto precisa ser dito com todas as letras. Se o fulano se mostra tão corrupto, houve gente que votou nele. Se um Senador que ganha 400 mil votos agora é cassado por corrupção, houve gente que votou nele. Este é o momento crucial. É preciso que a gente pense a importância de dar o voto a determinada pessoa, de saber como controlar, vigiar, acompanhar e isto se vê pela história passada, pela história pregressa do candidato. Não se pode arriscar em qualquer um. Tem que ver o quanto ele já participou dos movimentos, da construção da cidade, da educação, da saúde. O critério básico é ver a sua história na sociedade. Ver as origens e opções. Se suas raízes estão fincadas na comunidade que sejam realmente democráticas porque aí é que o cidadão pode diretamente expressar suas vontades, seu pensamento, dizer o que ele quer. E aqui um ponto importante e decisivo que gostaria de frisar: é importante ver se estes políticos que nós vamos escolher, são pessoas abertas à participação do povo. Se nós estamos avançando hoje na política, é exatamente por isso, pela participação do povo que cansou de apenas depositar o voto na urna. É no falar que o cidadão se manifesta como cidadão, no falar. E isto é que é democracia. O voto é a expressão mínima. O ideal é daí pra frente. Tem gente que ainda nem o voto aceita. Isso é terrível. Assim como o trabalho constrói a cidade, o voto constrói o jeito que a gente quer esta cidade. (Resumo da entrevista com Pedrinho Guareschi, publicada na edição 310, setembro de 2000, da Revista Mundo Jovem - www.mundojovem.com.br/.)
(*) Pedro Arcides Gaureschi, é gaucho de Porto Alegre, formado em Teologia pelo Instituto Redentorista de Estudos Superiores de SP (1964)...