José Sebastião Rezende, o Rute do Areão, era um dos mais antigos moradores do bairro de Na. Sra. do Perpétuo Socorro, onde viveu por quase 70 anos e viu o progresso do bairro. E com orgulho, numa entrevista em 2010, por ocasião da inauguração do Posto de Saúde, na esquina em frente ao seu estabelecimento comercial, a conhecida 'Venda do Rute', aberta há 50 anos, e que por muitos anos foi o único armazém do bairro, disse ao ET: “O Areão virou uma cidade dentro de Sacramento”.
E tinha razão de sobra para dizer isso, pois ali chegou aos cinco anos, vindo da terra natal, Espírito Santo da Forquilha, hoje, Delfinópolis (MG) com os pais Sebastião Bernardes de Rezende e de Ifigênia de Paula Borges e mais dois irmãos, Maria e Lourdes; os outros irmãos, João, Luiz, Antonio (Periquito) e Lúcia nasceram em Sacramento. Ali Rute cresceu com os irmãos e fez a sua história. Foi no bairro Perpétuo Socorro que ele viveu sua infância, adolescência, juventude, construiu sua família e ali a criou.
Num época em que vereador era eleito pelo povo para trabalhar para o povo, Rute foi eleito vereador dedicou-se aos bairro, onde vivia desde criança. Mas seu trabalho ia além da política. Rute tornou-se referência, um grande líder no bairro: criou um time de futebol, que dirigiu por 18 anos; liderou com o então pároco, Pe. Gil Barreto Ribeiro, a construção da igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Era, vamos dizer, o prefeito do Areão.
Numa entrevista com Maria das Dores, irmã de Rute, que veio ainda criança de Delfinópolis, o Rute trabalhou muito pelo bairro, independente de política.
“- Rute tocou a vida ali no Areão. Durante muito tempo só ele tinha carro, só ele tinha telefone, só ele tinha armazém, que fornecia a Jaguara e às pessoas do bairro, a maioria pobre. Se tinham dinheiro compravam, se não tinham compravam também... Seu coração era grande demais, não sabia dizer não pra ninguém”, contou Maria em recente entrevista ao ET.
“- Outra coisa bonita do Rute é que ele criou a família no bairro, levava para a escola e para as festas, mas todos morando ali, só saíram quando foram pra faculdade. Quer dizer, ele sempre valorizou o lugar, aliás, a família toda”, revela mais a irmã, lembrando sua ida para Brasília. “Fiquei por lá uns tempos e levei alguns irmãos, depois retornei finquei pé no Perpétuo Socorro, mas o Rute nunca saiu de Sacramento. O Areão foi sempre o ponto dos irmãos, que aqui vinham a cada ano, sempre presentes, até politicamente, sempre fomos eleitores de Sacramento”.
Para a irmã Maria das Dores, o velório deveria ter sido no Perpétuo Socorro. “A vida dele foi no bairro, poderia ter velado em casa, na igreja e levava para a Câmara na hora da homenagem...”, afirma e o filho Thiago compartilha a mesma ideia. “Papai era um homem do povo”.
O ET e todos os que estavam na Câmara, testemunharam no final do velório, duas pessoas do bairro, pranteando a perda e o que Rute representou na vida delas. Respeitamos sua dor, mas do lado de fora, dona Maria muito emocionada dizia: “Rute me ajudou demais a matar a fome dos meus filhos. Um homem muito bom, que Deus o receba de braços abertos”.
Também na saída para o sepultamento, Oralda Martins Manzan, ao lado do filho Renato, confidenciou à repórter: “Rute era uma grande pessoa. Uma época havia dois telefones entre o Rosário e o Areão, um do Rute e um nosso. Como Rute conhecia todas as pessoas que doavam sangue, a Santa Casa, de dia, de noite, de madrugada, ligava na nossa casa pedindo o telefone do Rute pra ele levar doadores de sangue... E ele estava sempre pronto. Rute tem uma grande história de vida e de doação”.
Maria Elena de Jesus