Com este título, o escritor peruano Mário Vargas Llosa, - Prêmio Nobel de Literatura 2010- aprofunda importantes questões de uma civilização empobrecida pelo fascínio do superficial, ou, melhor dizendo, do espetáculo. Com clareza, Llosa vai “tecendo” o nosso raciocínio em direção ao “afogamento” em que a civilização do espetáculo, intencional e subliminarmente, está entorpecendo nossa capacidade de análise, conduzindo-nos ao fosso cognitivo do qual dificilmente emergiremos.
Com fundamentação, ele amplia horizontes no sentido de desanuviar nosso olhar e nosso raciocínio dos entraves intelectuais para onde o ESPETÁCULO está nos conduzindo! O livro é denso; obriga-nos a uma leitura atenta e reflexiva. Llosa demonstra a realidade de um tempo em que a imagem está prevalecendo sobre a palavra; é a própria “retirada da palavra”, conforme o entender de Steiner (Paris- 1929). Segundo Llosa, há um empobrecimento das idéias como força motriz da vida cultural. Responsabiliza boa parte desse descalabro à chegada dos recursos áudio visuais que acabaram por facilitar um maior alcance a toda espécie de informação e que trouxe, como consequência, a superficialidade do produto cultural, prevalecendo a quantidade em detrimento da qualidade. A banalização da arte, da literatura, do cinema e a infiltração do jornalismo sensacionalista refletem uma sociedade que converte tudo na vida em direção ao entretenimento.
A soma de tudo isso produz, no “consumidor normal”, a falsa ilusão de estar na vanguarda de todo produto cultural, sem que para isso haja a exigência de esforço intelectual. Destaca que a cultura , no sentido tradicional como a conhecemos, está prestes a desaparecer, ou até já tenha desaparecido, pois está esvaziada do conteúdo que a definia e, assim, adquire um novo sentido que a desnatura do significado que já teve. A pressão cultural dominante privilegia o engenho em vez da inteligência, as imagens em vez das idéias, o humor em vez da sisudez, o banal em vez do profundo e o frívolo em vez do sério. Isso ocorre de tal forma que “os meios de comunicação que não “rezarem” no altar do espetáculo, correm o risco de ficar falando para fantasmas”. Esclarece não estar sozinho na denuncia da triste perda de horizontes em que esta civilização está mergulhada. Conceituados filósofos, cientistas, historiadores, religiosos, escritores reforçam argumentos quanto ao descalabro intelectual em que nos encontramos. Para explicar o que se entende por Civilização do Espetáculo, diz: é aquela cujo primeiro lugar na tabela de valores é ocupado pelo entretenimento, ou seja: divertir-se, escapar do tédio é a paixão universal.
Fica difícil, confesso, sumarizar o riquíssimo conteúdo deste livro, mas, dentre tantos aspectos importantes destacaria a ligação que ele faz entre cultura, democracia, religiosidade, valores morais e a espiritualidade. Deixa claro a importância da vivência da espiritualidade -desvinculada de sectarismos- na fundamentação das estruturas tanto democráticas como também do pensamento livre que só se realiza, democraticamente, quando o sentimento religioso fundamenta a espiritualidade. Embora ateu, a religião para ele, “é o único caminho que conduz à vida espiritual e a uma consciência ética, sem as quais não há convivência humana, respeito à legalidade, nem aqueles consensos elementares que dão sustentação à vida civilizada”.
Enfim, deixo o convite para que aprofundem nesta leitura. Vale a pena!
(*) Mariù Cerchi Borges
Educadora