Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Brasil. Pátria educadora?

Edição nº 1466 - 22 Maio 2015

Se a situação do ensino está em clima claudicante no país, imagine daqui a alguns anos, quando os professores serão artigos raros. Ninguém quer ser mais professor em troca de miseráveis salários, segurança médica aos frangalhos e apoio governamental quase inexistente em relação às políticas públicas endereçadas à Educação. Estamos na era das tabas, quando se fala em equipamentos utilizados nas salas de aula por professores e alunos. 

O alerta, que não é de hoje, denunciado abertamente há anos por um minguado grupo de professores que teima em sustentar sua bandeira de luta, o Sindicato, não encontra guarida nem mesmo na categoria, quanto mais na classe política. 

O drama é tão grande que a grande mídia conservadora, que sempre defendeu os interesses da Casa Grande, está abrindo espaço para o caos que vem sendo apontado pelo SindUTE há anos. Esta semana, o jornal O Tempo, de BH, em extensa reportagem mostrou a realidade angustiante que atinge a Educação Brasileira. Só na UFMG, a principal universidade do Estado, a queda na procura de cursos de formação de professores caiu 90%.

Conclui o estudo que “mantida a atual tendência, não haverá, nos próximos cinco anos, candidatos a se formarem professores em uma das maiores universidades do país. Quando se avalia quem ingressou na última década em licenciaturas, a situação também preocupa. Enquanto o número de formandos diminui ano a ano, os abandonos crescem com índices que ultrapassam 50% em alguns cursos”. 

Diz ainda a matéria, citando especialistas, que “a queda na concorrência é indício do crescente desinteresse pela docência. Para agravar a situação, entre os que se formam, são poucos que realmente desejam a sala de aula como destino profissional. Seja apenas para obter um diploma de nível superior, seja para acessar outras ocupações, estudantes de licenciatura tem-se interessado cada vez menos por dar aulas”. 

As causas também são apontadas pelo estudo. São citadas, por exemplo: “Salários abaixo da média e condições de trabalho muitas vezes precárias parecem repelir da universidade quem teoricamente seria o primeiro interessado, o professor”.

“A explicação está no baixo valor do diploma. Quanto mais baixo esse valor, menor a atratividade que o curso exerce nas novas gerações” , explica também o professor de Sociologia da Educação da UFMG, João Waldir Alves de Souza. O professor ressalta ainda que a UFMG forma hoje metade dos professores que formava há dez anos. E conclui: “É difícil prever, mas eu diria que, continuando da forma como está, a realidade aponta para o 'apagão de professores'”.

Um outro dado citado pelo estudo vem do pró-reitor da Ufmg, Prof. Ricardo Takahashi: ‘‘As novas gerações não são mais atraídas para a sala de aula’’. 

Me lembro bem quando nossos alunos queriam ser professores até mesmo para imitar os velhos mestres. ‘‘Quando eu crescer quero ser professora que nem a Tia Jandira...’’ Hoje preferem qualquer profissão a de magistério.

 Para o pró-reitor a resposta está na dificuldade em convencer os alunos na diferença de oportunidades entre uma profissão e outra, evidenciadas pelo padrão de vida. Há oferta de emprego, mas normalmente implica remuneração abaixo da obtida em qualquer outra carreira.

Não tem mais como encarar a profissão como um sacerdócio. Nos bons tempos do magistério, o professor chegava a ganhar dez ou mais salários mínimos por mês. Hoje, o piso nacional do magistério, nem sempre respeitado em alguns estados, é de R$ 1.917,78.

(WJS)