Luiz Carlos de Oliveira foi um dos 15 primeiros seminaristas a ingressar no Seminário Santíssimo Redentor em Sacramento no dia 26 de fevereiro de 1959 e deu testemunho de sua vida e seus ensinamentos.
Falar do Pe. Antonio é contar um pouco da minha própria história. Em 1958, a Província quis colocar uma casa religiosa entre São Paulo e Goiás, que fosse também pré-seminário para essas regiões. Padre Antonio andou procurando por Araguari, mas com as insistências do pároco, Pe. Saul do Amaral, optou por Sacramento. Afinal era sua terrinha. Aqui, no dia 6/1/1959 foi inaugurado o Seminário do Santíssimo Redentor, onde hoje é a Casa Rosa da Matta. No dia 26 de fevereiro, os 15 meninos, entre 11 e 12 anos, iniciamos uma bela história. Padre Antonio era o diretor e padre João Pereira Gomes, também formador. Mais tarde veio o irmão Vítor para Sacramento.
Éramos crianças e só mudamos de casa, pois continuamos nossa vida de meninos. Reinávamos no quintal com muitas árvores, o córrego Borá, o poço onde tomávamos banho, chamado Voltinha e também um poço maior, chamado Chorão. Tínhamos aulas em casa mesmo. Tínhamos uma capelinha para as orações e a missa. Padre Antonio era feliz com aquela ninhada de meninos. Ele nos chamava de os '15 mistérios do Rosário'. Eu era o 4º, doloroso. Era uma vida de família, com cachorrinho e papagaio. Padre Antonio vinha do pré-seminário da Pedrinha. Fez aqui um seminário em tamanho menor. No ano seguinte, entraram mais 12, pelo que me lembro. De sacramento éramos cinco, mas fui o único que foi até o fim e permanece até hoje, passados já 55 anos.
Padre Antonio tinha sua família em Sacramento. Suas irmãs eram distintas. Não teve irmão. Pude ainda conhecer seu pai, já bem idoso. Tinha o apelido de Lola. Sempre foi muito querido na cidade. Um ícone. E Pe. Antonio resumiu o seminário em uma pequena casa de família, como também resumiu em si toda a obra do carisma redentorista.
Indiscutivelmente, sua vocação fundamental era ser santo. Sua imagem sempre foi de um homem santo de Deus. Alimentava essa santidade com a oração, a piedade, as devoções e a Eucaristia. Era um redentorista completo, espiritualmente. Era um homem de oração. Isso manteve até o último dia dos 90 anos de vida. Ele se levantava cedo e fazia longo tempo de oração. Dizia que primeiro cuidava da alma e depois iria cuidar das outras coisas.
Era também um grande apóstolo: além de atender a Igreja do Rosário onde instaurou a Novena Perpétua de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, muito concorrida por sinal, pregava missãozinha pelos arraiais do município e voltava com a ximbica (carro velho) carregada de presentes para a manutenção do Seminário.
Era empreendedor criativo. Para construir o grande seminário ele usava de grande criatividade: concurso de rainhas, venda de tijolinhos, festas, leilões, rifas e fez o seminário com o seu esforço. Diziam que quando ele chegava perto, o povo já ia colocando a mão no bolso. E ssim construiu o belo prédio. Quando quiseram vendê-lo, ele se desesperou, não por destruir sua obra, mas porque fechava a porta às vocações e à pastoral. A gente dizia: o provincial tem força, mas padre Antonio sabe rezar. E agora o seminário cumpre a bela missão da assistência social aos adolescentes. Quase como antes.
Depois que se fixou em Goiás, no interior, foi um grande construtor de Igrejas. A última, em Trindade, a Igreja do Santíssimo Redentor, que abriga as preciosas relíquias de Pe. Pelágio, e agora as suas. Ali, caiu nos degraus da escadaria e veio a falecer em 8/6/2011. Sua alma preciosa acabou de subir os degraus e entrou na casa do Pai, onde se faz nosso intercessor.
Pedimos que sua obra apostólica, de formação e piedade não termine. Em Trindade já se espalham seus milagres para o bem do povo de Deus. Ele sempre manifestou muito carinho por mim, e tinha um orgulho grande pelo meu sacerdócio. Pregou minha primeira missa e sempre que vinha a Sacramento, coincidia-me encontrá-lo em casa de meus pais, pois sempre os visitava.
Um fato bonito de sua infância me foi contado pelo Sr. Jorge Cordeiro: alguém lhe deu uma maçã, que era coisa rara. Pe. Antonio saiu correndo com ela e foi dá-la a um pobre leproso que morava na vizinhança. Dedicar o Seminário, hoje Centro de Assistência Social Pe. Antônio Borges, à sua proteção, é dizer que sua missão continua e nos convida a participar dela. O amor, que era sua vocação cara, deve continuar produzindo seus frutos.