O exemplo da ex-superiora da Casa Rosa da Matta, Irmã Coleta Cavalcanti de Morais, nos incentiva a não desanimar nunca. Há pessoas que se aposentam e, afirmando que já contribuíram muito com o país, com o INSS, com a vida que, literalmente, no dizer do poeta Raul Seixas, hoje já nos braços do Pai, se prostram em casa 'esperando a morte chegar'. Ela, não, aos 82 anos, ao invés de curtir a vida nas clausuras das irmãs espalhadas pelo país ou visitar parentes e amigos, ela se inscreveu para ser missionária na África.
Ir. Coleta acaba de cumprir uma gestão profícua à frente dessa grande obra na cidade, completando 58 anos de dedicação à vida religiosa verdadeira, ou seja, ao próximo, e se entrega a essa aventura no continente africano. Que beleza! Que exemplo para nós, cansados aos 50, aposentados e entregues ao ócio aos 55, respeitando as exceções...
A religiosa da Congregação Franciscana Na. Sra. do Amparo vai realizar um sonho acalentado há anos e enfrentar a realidade de um novo continente, como diz, de “coração aberto”. “Acredito que Deus está me preparando com esse calor imenso que tem feito por aqui. Desde que decidi pela vida religiosa, no meu coração, meu ideal era ser missionária. Numa congregação temos que nos adequar á sua estrutura e desde bem nova venho com administração de casas, trabalho que me envolveu muito, mas é uma missão dentro de uma casa”.
Lembra a franciscana dos desígnios e da fidelidade de Deus. “Deus não nos esquece, é fiel nas promessas d'Ele. Quando a Congregação abriu uma missão na África, falei pra Deus, acho que chegou minha vez, mas me manda logo, se não, não dará mais tempo. E Ele viu que estava na hora. Isso é a mão de Deus na minha vida e eu sempre quis ter uma vida mais radical, enfrentar novos desafios e Ele está me concedendo isso no fim da minha vida. E sou obediente, eu vou viver a missão que sempre sonhei”.
A missão de Ir. Coleta em Luanda, capital de Angola, não deixa de ser também, além do exemplo, um desafio. Encarando o calor angolano, vai trabalhar na obra da congregação que administra, com apenas seis irmãs, uma Casa Escola com 600 crianças. “Por isso, eu disse: obrigada, Senhor! Vou para África, vou me entregar à minha missão, porque sei que o Senhor não quer me levar sem terminar minha missão. Estou na reta final, mas fiz todos os exames e o médico disse 'pode ir, irmã'”.
Aos cuidados de outras irmãs que não recomendaram a viagem por conta de sua longevidade, respondeu dando outra lição: “Idade está no coração e morrer a gente morre em qualquer lugar, quando chegar a hora”.
Fica ainda o testemunho de Carlinho Diogo, motorista de van escolar, sobre a discípula de Francisco de Assis: “Em outubro do ano passado, levei as crianças da Rosa da Matta, a Peirópolis e à Gruta dos Palhares e vi uma cena que não há palavras capazes de definir, o modo e o vigor com que irmã Coleta cuida das crianças, apesar da idade avançada. Ela corre, pula, brinca, nem parece uma mulher com mais de 80 anos. E faz isso demonstrando zelo, disposição e dedicação, como se fosse uma criança mesmo, e com o maior carinho. As crianças ganharam o passeio, mas eu ganhei essa beleza de gesto da irmã. Irmã Coleta vai embora e a cidade vai perder muito, a casa Rosa da Matta, as crianças e seus pais vão perder uma grande mulher, mas vai ficar o amor”.
Jornal ET