Aproveito o cair da noite para, num friozinho que a cada semana vai se firmando, agradecer ao ET pelo convite para participar da mesa redonda e almoço em Jaguara. No sábado, às 10:00 horas, me lembrei do evento que estaria se iniciando naquela hora. A vontade foi de estar lá com vocês. O Estado do Triângulo, certamente, é um dos mais longevos jornais em cidades do porte de Sacramento. A cada número que me chega, me alimento na ilusão de que não estou muito distante dessa terra. Em espírito me aproximo das coisas ali narradas, noticiadas.
Vejo a persistência do sacramentano com a sua fé, seja ela católica, espírita ou, em crescimento, evangélica. Vejo o fortalecimento da economia rural, seja nos grãos, seja na pecuária leiteira ou nas indústrias, seja pelo crescimento do PIB e do IDH.
Assim, creio, firmemente no futuro da nossa cidade, porque sustentada em duas bases firmes, insuperáveis: a fé em Deus e a força do trabalho. Já não reconheço tanta gente que por ali aparece, mas revejo pessoas estimadas que, por outro meio, não poderia vê-las. E tudo isso, sinto na pele porque recebo as notícias semanais, como em uma transfusão ou numa osmose, patrocinada pelo Estadinho.
A dimensão histórica d’O Estado do Triângulo é palpável desde já. Se há quase 45 anos o dia a dia da cidade é contado, para mais de uma geração que buscarem nas páginas desse jornal, encontrarão, em um agradável passeio, os acontecimentos marcantes dessas terras à margem do Borá. Terras que se estendem até o rio Grande, banhadas pelo rio das Velhas e que chegam muito perto de tantas outras cidades que não têm um registro firme e confiável de sua história, como Sacramento o tem, pelo “nosso” jornal.
A persistência de seu editor é um fato que, mesmo valorizado por seus contemporâneos, somente terá a sua verdadeira dimensão estabelecida quando avaliada por gerações futuras. Daí a importância, a responsabilidade, o peso das decisões tomadas ao se definir a pauta semanal desse periódico. E o seu valor, hoje em plena ebulição, será significativamente maior, potencializado pelas sementes da memória e pelo tempo que as germinará, na busca pregressa dos fatos marcantes da história de uma sociedade, da nossa sociedade. E nosso editor é o artífice dessa jornada.
Há alguns meses li um dos formadores de opinião da grande imprensa, talvez o Dimenstein, afirmando que a imprensa não pode ser encarada como um registro diário da história. Seria ela, a imprensa, manipulável, influenciada pelos humores do momento.
Sem presunção, discordo desse pensamento e vejo n’O Estado do Triângulo um exemplo simples do equívoco da assertiva. Ainda mais numa sociedade como a brasileira, que muito pouco se preocupa em guardar, ou preservar a sua memória, fato mais agravado, ainda, se olharmos com uma lupa e chegarmos a Sacramento. Uma cidade à véspera do seu 2º centenário e qualquer desavisado que aí chegue, avaliará que somos uma jovem urbe, com não mais do que algumas décadas de existência. Qualquer lembrança de um passado cheio de marcas, está registrado, apenas, em poucos apontamentos oficiais, de difícil acesso ou de, mais difícil ainda, interpretação.
A linha editorial do jornal, como atualmente ocorre, até quando sarcástica, como o foi nos anos 1970, é imparcial, mesmo comungando com outra linha política, esta não interfere naquela. E a nossa história vai sendo registrada a cada edição. Desde o número 1, desde a histórica visita de JK, das visitas de governadores, ministros, bispos, destacados artistas, esportistas, passando por tragédias, como a do maníaco que rondou a nossa zona rural, executando cinco pessoas do campo e a indescritível e abrupta perda de mais de duas dezenas de sacramentanos na Serra da Rifaina, da tristeza profunda de muitas famílias. Tudo foi registrado, tudo está registrado.
O perfil de uma sociedade está narrado, desde 1968, com seus bailes de debutantes, dos 10 Brotos, de quando os concursos de misses paravam uma cidade, dos Destaques e Personalidades, dos carnavais de rua e os de salão, dos times de futebol e de vôlei, dos formandos a cada ano, dos vestibulandos aprovados, da alegria de muitas famílias. Tudo foi registrado, tudo está registrado.
Da evolução de uma sociedade que antes não tinha espaço para notícias de crimes ou de criminosos e que hoje tem uma página dedicada a essa triste editoria, mas, também, da evolução de uma sociedade que hoje conta com empreendedores nascidos na terrinha ou por adoção e que passaram a agregar a família sacramentana. É a história viva e compartilhada e é, ao mesmo tempo, o prognóstico do que se espera.
Meu caríssimo editor, paro por aqui com as minhas divagações. No sábado, mais tarde, no Facebook, li um pouco do que aconteceu lá na Jaguara. O Miguel fez um breve relato e, mais ainda, me doeu não ter podido lá estar, mas fiquei feliz ao perceber que foi um dia edificante e de agradável confraternização para todos que lá estiveram.
Parabéns a você e a essa valorosa equipe que hoje faz, constrói e enriquece a imprensa, a história de Sacramento. Com amizade, reconhecimento, apreço e saudade. Um caloroso abraço.
Alberto Vieira