Não faz tempo, perguntei a um deputado: “Na sua opinião, quantos deputados confiáveis há na Câmara?” Pensou um pouco e respondeu: “Uns quarenta”.
Bem, todos nós sabemos que o mundo não é habitado por santos. Sempre houve bandidos, exploradores, ladrões, criminosos, espertalhões, mentirosos, safados e assim por diante. A fauna é bem grande. A própria Bíblia nos apresenta muitos espécimens desses velhacos. Só um exemplo. O personagem do qual vou comentar o comportamento não era judeu, não era muçulmano, muito menos cristão. Seu Deus não era Javé, não era Amon, nem Alá. O certo mesmo é que viveu lá pelos lados da antiga Caldéia, naquela região em que hoje americanos e árabes se explodem uns aos outros por causa do petróleo. O certo é que era casado com uma jovem lindíssima, Sarah, dessas que assustam os mais inocentes transeuntes.
Aconteceu que Abraão (era este o seu nome), apertado pela carestia que se instalara em seu país, decidiu morar no Egito. Uma dúvida, porém, o atormentava. Sua mulher, bonita como era, poderia despertar a cobiça de um galanteador. As coisas poderiam ficar pretas, tentariam matá-lo para entrar na posse de tão atraente tentação. Com tantas minhocas na cabeça, resolveu convocar Sarah e negociar um estratagema: “Olhe aqui, Sarah, lá no Egito, você não vai dizer que é minha esposa. Fale que é minha irmã. Se eles se interessarem em você, eles a levarão e eu escapo da morte”. Não deu outra. Os oficiais do Faraó, vendo Sarah, se deslumbraram. Apossaram-se dela e a levaram ao Faraó que se embeveceu. Tão pirado ficou que propôs uma negociata: “Eu fico com tua irmã e te dou uns trocados”. Só que esses trocados eram terras, camelos, ovelhas, escravos, servas, jumentos e outras coisas”. Negócio tão bom como os realizados em Brasília. Pena não houvesse câmeras para registrar tão honesta transação. Tempos depois, castigado por estranha doença, o Faraó descobriu que Sarah era casada. Devolveu-a ao marido e tudo ficou por isso mesmo. O Faraó não exigiu seus presentes de volta e Abraão nem sequer foi preso, ficou muito rico e se tornou o pai de imensa posteridade.
Por que a Bíblia nos conta coisas assim tão desagradáveis. Há muitos outros episódios da mesma natureza, de mentiras, trapaças e negócios escusos. Com esses fatos, Deus procura ensinar-nos que somos todos muito frágeis, nos vendemos por um prato de lentilhas. Estamos sujeitos a erros, a todo tipo de perversão e maldade. Os homens, quando afastados de Deus são capazes das maiores torpezas.
Se nossos deputados, governadores e senadores, com as devidas exceções, fossem tementes a Deus, se não invadissem o espaço dos outros, as coisas correriam de modo melhor. Furtam descaradamente e, nas próximas eleições candidatam-se novamente e voltam ao poder. Pior, eles são os nossos representantes, governam em nosso lugar, votamos neles, nós os tratamos com champanhe e pão-de-ló, confiamos neles. Sabemos que são raposas e, mesmo assim, nós os colocamos dentro de nossos galinheiros. Ali Babá só tinha quarenta. Nós temos muito mais. Centenas.