Joseph Ratzinger, hoje Papa Emérito da Igreja Católica, no livro “Joseph Ratzinger- Uma Biografia”, de Pablo Blanco, no capitulo: A Consciência e a Vida Correta, apresenta-nos um estudo sobre o relativismo dos dias atuais e a formação da consciência, compreendida como o núcleo da unidade do homem, alicerçada em valores absolutos universalmente válidos. Para São Paulo, a consciência é o centro da transparência de Deus em todos os homens, que são, um só homem. Diferentemente do conceito da consciência como núcleo da unidade do homem, defende-se, hoje, a impossibilidade de haver normas morais e religiosas comuns a todos os homens, posição essa que equivale, segundo o Papa, a uma canonização do relativismo. Na verdade, são dois conceitos que se chocam, pois, de um lado está a consciência compreendida como unidade e, do outro, a consciência como “expressão do caráter absoluto do sujeito acima do qual não há, no campo moral, nenhuma instância superior”.
Uma longa jornada de reflexões, leituras, confrontos com autores conceituados tornaram possíveis a Ratzinger uma visão clara das questões relacionadas à verdade (necessária à ação humana), e a força justificadora da consciência errônea que, conforme alguns autores anularia a ausência do sentimento de culpa dos que praticavam atos que confrontavam a dignidade humana. Nessa direção, atos desumanos praticados, por exemplo, por Hitler, que, apesar do horror objetivo das suas ações, teria agido de maneira moralmente reta do ponto de vista subjetivo visto que, seguia sua consciência, mesmo que esta o tivesse guiado erroneamente. Desta forma, deveríamos reconhecer que tais ações eram morais para eles. Foi então, diz Ratinzger que, através das posições teóricas do psicólogo Albert Gorres tornou-se possível encontrar o núcleo dessas questões. Para Gorres o sentimento de culpa pertence ao patrimônio anímico do homem... quem é incapaz de sentir culpa, está espiritualmente doente. Visto dessa forma, diz Ratizinger, negar-se a ver culpa ou fazer emudecer a consciência é uma doença da alma mais perigosa que a culpa reconhecida como culpa. Aquele que é incapaz de perceber que matar é pecado cai mais baixo do que aquele que reconhece a ignomínia de sua ação. É possível sim, ao homem, ver a verdade de Deus no fundo do seu ser criatural. É culpado se não vê.... e, prossegue: a identificação da consciência com o conhecimento superficial e a redução do homem à subjetividade não libertam, mas escravizam... reduzir a consciência apenas à segurança subjetiva significa a supressão da verdade.
Analisando o relativismo sob diversos ângulos, Ratzinger abre espaços para reflexões que nos ajudam a compreender melhor os complexos desafios a que estamos expostos quando buscamos verdadeiramente, encontrar formas de um agir responsável.
Sem a pretensão de esgotar um tema tão complexo, mas apenas acenar para a sua importância, gostaria de registrar o que significa, para Ratzinger, o caminho da consciência, diz ele: manter o olhar focado na verdade e no bem objetivo. O bem é um só e a verdade não se contradiz... o fato de o ser humano não os atingir não relativiza as exigências da verdade e da bondade...viver com os olhos do coração abertos, purificar-se interiormente e buscar a luz são condições para a salvação humana... portanto, é necessário fazer brilhar a luz e não a “pôr sob o alqueire, mas num candelabro “-Jo 5, 14-15.
(*) Mariù Cerchi Borges - Educadora