Escola, Escola, Escola
O sonho de toda criança
Caminho de luz e saber
Lições e canções de esperança...
É possível imaginar o que de fato aconteceu
naquele longínquo 1933?
Quem eram os seus homens, suas mulheres, professores, políticos que se preocupavam com a Educação...
Saltam-nos à memória um Cgo. Hermógenes
fundando a primeira escola com ensino gratuito no Desemboque.
Manoel Cassiano com o Colégio Miranda.
Sinhana Borges com o Colégio Na. Sra. do Patrocínio.
João Gomes Vieira com o Liceu Sacramentano.
E mostrando uma pedagogia
além de seu tempo, Eurípedes, em 1907, funda o Colégio Allan Kardec.
Mas está em César de Oliveira
a visão do futuro.
Aliando sua vontade de educar à saga dos que querem aprender,
faz nascer a Escola Normal de Sacramento.
Depois das primeiras letras
com Zélia Amaral, Mariléa Maluf,
Celina Silveira, Abadia Marques, Agnes Loyola, Luzia Skiffini, Eleusa Pontes...
(Tem time melhor?),
pisei pela primeira vez esse solo sagrado,
em 1960.
Um universo de saber se abria para mim,
diante de um desconhecido Ginásio.
Um mundo surpreendente de conhecimento
e de Línguas mortas, vivas...
Do Latim, do Inglês, do Francês,
da Geografia, das Ciências, das Histórias além das Minas,
da Língua Portuguesa, além da Pátria,
e da Matemática de Thales e Pitágoras.
Da fé e caridade, na Religião de Pe. Antônio.
Fui sendo talhado de sala em sala
com Aracy, Corina e Zezé.
Como uma pedra bruta, lapidado às beiradas
por José Sobral, Antônio Afonso, Egicares...
Até que transformado num diamante reluzente pela melodia suave
que brotava do piano de Salete,
da psicologia humanista de Célia
da didática piagetiana de Corália,
da opção aos pobres
na sociologia de Benigna,
da vida que brotava do corpo,
de João e Vigilato,
da belíssima Escola Normal.
Mas o barro moldado também tinha as mãos de José Silveira, Rolando Soares,
Jorge Cordeiro...
na escrita correta dos livros Caixa
e Contas Correntes.
Adolescente, vi nesta escola um mundo novo se abrindo,
da queda da Bastilha de Saint-Antoine,
aos lagos dos Andes,
os arredores de Moscou,
até o Grito de Independência
de Tiradentes e Pedro I.
Mas nenhuma lição durou tanto
quanto a 'Queda da Democracia',
os anos de chumbo da Ditadura de 64.
Foi aí que aprendi
com Eduardo Alves da Costa
a percorrer os caminhos de Maiakóvisk:
“Tu sabes, conheces melhor do que eu a
velha história:
Na primeira noite, eles se aproximam
e roubam uma flor de nosso jardim,
e não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem,
pisam as nossas flores, matam o nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra
sozinho em nossa casa
rouba-nos a luz e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta e já não
podemos dizer nada...”
Carregando esse fardo da opressão,
me sentei nos bancos da universidade.
Me vi de repente impelido a questionar
com Sócrates, Sartre, Spinoza um mundo dividido.
Nesta seara, correndo, panfletando, escondendo, subi ao pódio
para receber o diploma de Pedagogia.
A partir dali, com o mundo às mãos, comecei a procurar
a direção escondida de todas as coisas.
E o primeiro porto
onde amarrei o barco
foi minha Escola Normal,
no início dos anos 70.
Pisava mais uma vez esse solo de César.
E me senti tão pequenino
diante de tantos mestres...
Só superei a emoção, a timidez,
porque a compreensão dos colegas,
o carinho e o amor se fizeram presentes.
Os anos foram se passando
e eu passando com eles,
me tornando mais maduro,
mais sereno e mais sábio.
Sem 'perder a ternura jamais'.
E contamos histórias, e poesias e literatura...
Passamos por Camões, Gil Vicente,
Castro Alves, Guimarães...
Cantamos com Vinícius, Vandré e Chico.
Inventamos o FACC, o Chico Fé,
o Grêmio Estudantil ‘Aracy Pavanelli’,
o Coralnel e a JUC - Juventude Unida do Coronel, na visão do que Rubem Alves,
tão admiravelmente aconselha:
“A missão do professor não é ensinar,
nem dar resposta. Isso, hoje, a internet
faz, e faz melhor do que nós. A missão do
professor é criar a alegria de pensar,
é provocar a inteligência, o espanto,
a curiosidade...”
Essas lições me eram presentes
em cada aula.
Consciente, sabia que estava ali
para formar o protagonismo juvenil.
E por tantas pseudas razões fui incompreendido...
Da doce e serena paz de colegas servidores,
enfrentei a mentira de políticos e governantes.
Até que, por duas vezes,
como cordeiro, fui arrastado ao matadouro,
na visão bíblica de Isaías.
Nada, porém, me demoveu daquela 'direção escondida'.
Arrancando de meus alunos o seu protagonismo,
fui à luta, elevando-os ao saber, ao humanismo, à cidadania.
Do contrário, a Educação não tem sentido.
Na acepção de Paulo Freire:
“A educação modela as almas
e recria os corações.
Ela é a alavanca das mudanças sociais”.
Vencidos os anos acabei por me tornar um daqueles ícones,
que nesta manhã, se encontram para trocar
lembranças indeléveis...
Do trabalho feito com amor e dedicação,
de amizades trocadas, vivenciadas
nas varandas, corredores, colunas...
Ou em baixo do velho flamboyant
nos tempos de primavera.
E muito mais de mestres tão inesquecíveis,
que já ultrampassaram a porta definitiva do amor, transvivenciando sua vida
em eternidade.
César Oliveira, Maria Crema,
Corália Venites, Aracy Pavanelli...
até chegarmos a pessoas
mais próximas e tão queridas,
o saudoso Seu Eurípedes,
minha inesquecível Tatá...
É por tudo isso que nesta manhã
abro meu coração
para louvar todos os seus servidores
de ontem e hoje e, humildemente,
agradecer por tudo, e poder dizer:
Minha Escola foi sempre uma canção.
Escola, escola, escola
O sonho de toda a criança
Caminho de luz e saber
Lições e canções de esperança...
(Em homenagem à minha querida Escola Coronel, lido na manhã de 3 de março de 2013. WJS)