Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Jovens de 80 e velhos de 20

Edição nº 1355 - 29 Março 2013

Muito pouco vi e ouvi pela mídia e pelos púlpitos, a não ser alusões à Jornada Mundial da Juventude, que trará nosso primeiro Papa latino ao Rio de Janeiro, em julho próximo, proclamações sobre o tema da CF 2013, Juventude e Fraternidade, cujo lema é tão candente, 'Eis-me aqui, envia-me'. 

Acostumado pela missão de educador a trabalhar os temas, sempre bem ecumênicos, na escola, através dos projetos, 'Chico Fé' e JUC (Juventude Unida do Coronel), o manual da Campanha foi sempre uma leitura obrigatória. Fora da Escola, não deixei de comprá-los a cada ano para meditar sobre os lemas propostos. O deste ano, então, está muito rico. E parece que não recebeu a devida atenção. 

Diz o manual que “no tempo atual, há uma exacerbação do indivíduo, do ser particularizado, há uma centralidade no indivíduo. O genérico, o social perde valor diante do individual”. E recorre a Lipovetsky, que classifica a sociedade atual como do 'bem-estar', para afirmar: “A ideia de sacrifício, de heteronímia estão socialmente deslegitimados, e não se exige mais consagrar-se a um único fim superior, já que os direitos subjetivos, particulares é que dominam, são como mandamentos dessa sociedade mutante”. 

O texto nos ensina a entender, talvez, não aceitar, por que milhares de jovens participam de  um Festival de Rock (Lollapalooza) em São Paulo, em plena sexta-feira da paixão. Nada contra, também prefiro celebrar a vida, a ressurreição, do que a morte. Mas um pouco de respeito... 

A ONU diz que jovem é quem tem de 15 a 24 anos. O Brasil, através de uma PEC, estendeu a faixa até os 29. E nessa faixa etária temos 51 milhões de jovens, com valores, como diz Lipovetsky, no Manual, “adocicados e anêmicos”, sem perspectivas. E Luiz Marins, em belo artigo, a mim cedido pela jovem e bela Hebe Portella, diz que há jovens de 80 e velhos de 20. Termino com ele:

“Independentemente de qualquer convicção religiosa, não há quem não tenha acompanhado a eleição do novo Papa. Dentre as muitas surpresas e coisas que nos podem fazer pensar, uma delas foi a eleição de um homem com quase 76 anos. 

Quantos de nós, com muito menos idade, só pensamos em parar, descansar, se aposentar? Quantos de nós, muito mais jovens, dizemos ser velhos demais para assumir responsabilidades maiores? Quantos de nós, aos 50 ou 60 anos, vivemos reclamando do trabalho o tempo todo? Quantos de nós teríamos a disposição de assumir uma responsabilidade como a de comandar uma instituição do tamanho e com tantos desafios como o Papa Francisco está assumindo aos 76 anos? Quantos de nós nos sentimos velhos demais e perdemos a vontade de enfrentar novos desafios, mesmo tendo condições de fazê-lo?

Conheço jovens de 80 ambos e velhos de 20. No mundo em que vivemos é preciso cuidar de nossa cabeça, de nossos modelos mentais, de como pensamos sobre nós mesmos. Vejo, com muita reocupação, jovens que se sentem velhos, incapazes, desmotivados para a ação. Com medo de desafios, fogem dos problemas ao invés de enfrentá-los. Desistem frente às primeiras dificuldades.

Vejo pessoas se infelicitando pela ilusão de uma vida fácil, sem embates, sem trabalho árduo, sem sacrifícios. Vejo pessoas buscando o caminho das facilidades e muitas vezes comprometendo valores e princípios, vivendo num imediatismo focado exclusivamente no prazer do agora sem pensar nas consequências futuras.

Vejo pessoas que são verdadeiros 'mortos-vivos'. Desistiram de lutar. Desistiram de fazer. Desistiram de acreditar em sua própria capacidade de vencer obstáculos e ser feliz.

E você? Qual a idade da sua disposição? Com quantos anos está a sua cabeça? Quais os seus planos para o futuro? Ou já desistiu?

Pense nisso. Sucesso!”

Alheias ao protagonismo juvenil, base para formação de nossos futuros governantes, as escolas e igrejas deveriam dar maior importância ao tema. Não deixar que nossos jovens fiquem vclhos aos 18.

 

(WJS)