Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Minha professora de português

Edição n° 1322 - 10 Agosto 2012

O exemplo é meu, mas a aula é ela.

 

Entre quarenta moleques endiabrados, 

na lousa negra do Colégio Estadual,

da carteira do lado, eu lia a letra miúda 

e ouvia a voz serena de minha professora. 

Era aula de Língua Portuguesa.

A sua pequena estatura não demonstrava autoridade

nem sua voz tinha tamanha eloquência, 

marcas propícias à indisciplina da molecada, 

já acostumada com a repreensão sem castigo. 

Mas tudo foi tão bem!

 

E foi aí, com quatro anos de estudos,

que aprendi a construir exemplos de saber. 

E da morfologia às regências, 

tudo me parecia tão simples de minha professora. 

Hoje, sei que 'Amor' 

foi o primeiro substantivo abstrato, 

que se tornava concreto na minha professora. 

Aprendi que no exemplo, 'mulher de hoje', 

a locução é minha homenagem. 

Aprendi que nos pronomes, 

entre os possessivos da terceira pessoa 

eram os de que mais gostava. 

Mais vale 'dar' do que receber. 

E nesse verbo da caridade, conheci 

a irregularidade da primeira conjugação, 

mas que era tão regular na minha professora. 

E me enchi de júbilo quando conheci o regular 'Amar'. 

Para que lições de casa, mil exercícios, 

se o exemplo vivo era a minha professora?

 

E percorri as classes gramaticais, 

conhecendo a minha professora. 

'Carinhosamente', eu a via entre os advérbios. 

'Que' as conjunções, que ligam a vida.

'Desde' as preposições, que unem os laços.

'Puxa'! Até as interjeições, que exclamam a alegria,

foram todas aprendidas com minha professora. 

Veio a sintaxe mais complicada, 

com os seus termos essenciais, 

concordâncias nominais...

E foi aí que aprendi a analisar 

a minha professora. 

 

MÃE CORINA É CIDADÃ SACRAMENTANA. 

 

'Mãe Corina': sujeito simples. 

O núcleo não é o teu prenome. 

É Mãe, que personifica a eternidade. 

É Mãe, que embala nos braços tantas filhas. 

É Mãe, que doa aconchego aos oprimidos.

É Mãe, e basta. Sinal do divino entre nós. 

E numa irreverência gramatical, 

'Mãe' é o núcleo da minha oração. 

 

'É': irregular anômalo! 

E tu foste  'ligação' entre teus conhecimentos 

e a essência da vida, da vida de muitos. 

Tu foste 'ligação' de milhares,

entre  a parca instrução aos seus doutorados. 

Tu foste sempre nosso exemplo maior: 

SER hoje a mulher de sempre. 

 

'Cidadã sacramentana': 

O predicativo completa meu exemplo. 

Título que eu já te dei naquele tempo da lousa negra, 

pelos teus ensinamentos

pela tua conduta de Mãe, 

pelo teu trabalho comunitário, 

na terra que não nasceste. 

 

Gáudio maior não existe para um simples aluno,

assumir tua cadeira nos exemplos da língua. 

Quem me dera um dia substituir-te 

na conduta do verbo 'Amar'. 

 

Hoje, Mãe Corina, depois de tantos anos, 

com o mesmo caderno às mãos, 

longe da lousa e sem meu giz,

com um humilde poema,

que também me ensinaste a construir,

completo o meu dever de casa. 

 

(WJS)