Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Dande, querida!

Edição n° 1303 - 30 Março 2012

A senhora está no plano superior

e tenho a certeza de que dará risadas

com o meu desabafo.

 

Sábado passado, à tarde, quando abri

a janela do meu quarto,

havia um grande vazio à minha frente...

 

Sua casa estava sendo demolida, Dande!

 

Comovi-me e lembrei-me do mestre

Adoniran Barbosa que teve a mesma

sensação que eu, quando viu 

sua “”saudosa maloca” sendo destruída,

e cantou assim:

 

“...que tristeza que nóis sentia

cada táuba que caía

duia no coração .” 

 

Ah, Dande, que saudade!...

Saudades, quantas saudades!

Das muitas festas que fizemos

em sua casa e a senhora,

a anfitriã perfeita.Sempre preocupada 

em nos servir o melhor que tinha,

deixando-nos à vontade e participando

alegremente das nossas conversas

às vezes vãs, sem nenhum sentido.

 

Que saudade de ouvir a Adelina Magnabosco

adentrando-se todos os dias pela porta da sala 

que nunca foi trancada, trazendo alvissareiras 

notícias da cidade, da prefeitura, do Dr. José Alberto, 

da igreja e  “otrascositas más”...

 

Da Rede Vida na sala, funcionando diuturnamente,

monitorada pela tia Linda lá em Campinas.

A senhora e Altair com o terço na mão,

orando pelos que pediam e pelos que não

pediam suas orações.

E a Altair zelosa, abnegada e eficiente,

vigiando-a a cada passo.

 

Saudade das brincadeiras do Afonsão

sempre às “turras” com a Lindinha

que não se  calava para ele.

E a senhora tomando o partido do amigo:

“ a  Linda não tem jeito!”

 

E a Branca, a Badiinha,a Magrela e a Iara?! Affff!...

Quantos namoricos no seu alpendre!

 

E o doce de mamão servido 

lá na cozinha, hein Walmor? Putz...

Ninguém nunca mais fez igual 

ao seu e o de D. Esperança.

 

E o Dr. Rominho com a Edina?

Sempre prontos a acudi-la e a Altair,

a qualquer hora que chegassem

à janela e os chamassem.

 

Embora com a cabecinha de 90 e tantos anos,

nunca  se esqueceu de perguntar-me:

“E a Zizi?

Está boa? Estou com saudades dela!” .

(eu também, Dande!!!).

 

Esperando no alpendre...

Lá estava ela.

Esperando quem? O que? Quando?

Só Deus sabe.

 

E os parentes queridos de São Paulo

que iam para a fazenda e passavam 

primeiro pela  “pensão da Dande”?

 

Quanta alegria em recebê-los!

 

Saudade da sua fala mansa,

cheia de sabedoria e alento.

Daquele abraço acolhedor

que sempre nos consolava

nas aflições  e pesares.

 

Da sua presença no meu aniversário,

fazendo-me uma visita rápida,

mas sem jamais esquecer-me.

 

Saudadesdas palavras doces

e cheias de sabedoria 

que nos colocavam para cima

e nos fazia crer que éramos

poderosas, bonitas, e não

tínhamos concorrentes.

Éramos as melhores aos seus olhos.

 

Ah, Dande!

Que saudade daquela força que nos

passou quando a Celminha, o Jairo

e o Zezé nos deixaram.

Ao invés de consolá-la, 

fomos consolados.

 

Chega!

Não foi para reclamar e chorar

o que passou que invoquei

a sua lembrança.

 

Lembrei-me da senhora, Dande,

como sempre, foi para dizer-lhe

que apesar dos escombros,

nosso amor, amizade pela família

e nossa saudade não serão destruídos.

 

Os laços que nos unem são mais potentes

que o barulho e a frieza de uma máquina implacável.

O eco de seu amor ressoará

para sempre em nossos corações.

 

É o “pogresso” Dande!

 

O Ronaldo Zago que comprou a sua casa

é um homem de bem. 

Também foi criado por uma mãe-coragem 

que lhe ensinou os princípios básicos da vida:

amor, honestidade e trabalho.

 

No lugar onde foi sua casa, 

ele erguerá um prédio imponente,

bonito, moderno e que servirá

da alicerce para seus descendentes.

Esta família será feliz e realizada

no local onde a senhora lançou

as sementes do amor, do bom senso,

da sabedoria e da perseverança.

 

Quando pensamos ter encerrado

um ciclo evolutivo, a surpresa nos

pega e nossa vida é sacudida

e modificada.

 

Dentre em breve a casa

dosBrigagão também poderá ser

demolida e tomara a Deus,

a nossa falta seja sentida como a sua

e de sua família respeitada e querida.

 

Dande querida, que fraqueza a minha, né?

 

A senhora nunca se preocupou com

as coisas materiais, elas não tinham valor para si.

cuidava sim, das coisas divinas

que iriam garantir o seu lugar junto do Pai.

 

Por enquanto, nós aqui ainda peregrinos,

vamos continuar lamentando nossas perdas,

porque continuamos imperfeitos e egoístas.

Mas esperamos encontrá-la um 

dia para continuarmos a nossa

festa na “casa da Dande”

que nunca será desfeita 

em nossa lembrança.

 

Aqueeeeele abraço!

  

Sandra Almeida