Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Somos heróis

Edição n° 1224 - 24 Setembro 2010

Ser produtor rural em um país que não tem uma política única para a agricultura, cujas regras mudam a qualquer tempo, em um país cujo principal agente financeiro do setor, o Banco do Brasil, que é do governo, lhe empresta R$ 100 mil, mas exige, antes da liberação, que 10% fiquem retidos em produtos do Banco, pois caso contrário o produtor não vê o dinheiro, é um grande herói.  E isto nós somos.

A classe de produtores, da qual eu participo, é formada por homens obstinados por resultados e determinados naquilo que estão fazendo. O país alcança a cada dia melhores índices de produtividades, bate recordes de produção e é, sem a menor sombra de dúvida, o setor que mantém a balança comercial com um superávit  positivo há anos. 

Hoje, o país está numa economia relativamente estável graças a âncora agrícola, que foi possível desde o início do governo FHC e depois no governo Lula. O povo está se alimentando melhor, há fartura de tudo neste país tão imenso. Imaginem Srs., tudo o que vocês tocam durante o dia, desde o amanhecer, há neste ato um trabalho que foi feito por um agricultor. Vejam os supermercados, apesar da dimensão territorial deste país, da malha rodoviária sucateada,  todos estão abastecidos, o povo tem onde comprar, não falta nada. Hoje as despesas com alimentação não pesam tanto como antes. É salutar ver nos supermercados famílias com carrinhos cheios. Com R$10,00 levam-se dois frangos para casa.

Nós, agricultores, ainda temos de viver dentro de um segmento oligopolizado. Os fertilizantes estão nas mãos de três empresas multinacionais, e estas são também as que controlam os esmagamentos dos grãos, portanto nos amarram no início e no fim.  É só começar a colheita que os preços caem, e os compradores começam a te ameaçar, informando que vão cair mais ainda, e como não temos capital para bancar os custos que vencem dentro daquele mês, temos de vender. 

Para dar um exemplo, um produtor que colheu 50 mil sacas de milho (333 ha plantadas) que são muitos, neste porte, na região, vendeu o produto no máximo R$ a 15,00; e, hoje, está custando R$ 25,00. Deixou de ganhar R$ 500 mil, que dariam para comprar todo o fertilizante, sementes e defensivos para plantar de novo a mesma área. 

Para onde foi esta transferência brutal de renda? – Para multinacionais ou atravessadores. Quem continua com a dificuldade? - O produtor.

Estou diversificando minha atividade e comecei a plantar um pouco de café. Os Srs. sabiam que somos o maior produtor de café no mundo e a Alemanha, que é a maior processadora de café in natura  do mundo, não tem um pé de café plantado? Ela fica com a maior parte do lucro e aí, cadê o MAPA para criar alternativas para o segmento? Não tem. 

E mesmo assim o produtor encontra ânimo para começar a nova safra, por isto  somos abençoados por Deus, que nos dá esta determinação, porque ele sabe que vamos produzir alimentos para seus filhos na terra. 

Vivam os produtores e que Deus nos proteja!!