Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

A etern(a)idade de Fernandinho

Edição n° 1226 - 08 Outubro 2010

Quero para Fernandinho uma Ressurreição imperecível, no dizer do teólogo Hans Kung – que ele adorava ler – “uma nova vida da esfera de Deus, invisível, incompreensível, que rompe com as dimensões de espaço e tempo, simbolicamente, designado por céu”.

 

Quero para Fernando, na sua transvivenciação, que retorne aos nossos encontros de juventude, às noites de serestas e de inocentes ações subversivas, nas disputas e loucuras de nosso protagonismo estudantil.

 

Quero com Fernando nadar 3, 4, 5 mil metros na piscina da Praça de Esportes e sair da água quente daqueles antigos verões, ainda meio zonzo, e tomar uma geladíssima Mirinda.

 

Quero com Fernando correr as matas virgens, ciliares, do rio Grande, andar sobre os trilhos do trem, saltar da ponte de Jaguara, cair no rebojão do Rancho dos 13 e mergulhar tranqüilo nas águas claras e puras de nossa adolescência.

 

Quero com Fernando ler todos os poemas de Vinícius, de Lindolf Bell e Berthold Brecht e declamá-los em noites de lua cheia, ao som do dedilhado divino do mestre Lelinho.

 

Quero com Fernando voltar ao Nordeste, subir as escadas do Senhor do Bonfim, percorrer as terras de Antônio Conselheiro, beijar as areias cálidas de Iracema, a virgem dos lábios de mel, e fazer em Crateús um tributo a Dom Fragoso e a Dom Hélder.

 

Quero com Fernando discutir o Existencialismo ateu de Sartre, o pessimismo de Schopenhauer e contrapor com a mensagem cristã d'Os  últimos dias de Pompeia: “Esta terra é apenas o princípio da vida. A glória desses poucos anos não tem importância nenhuma no curso dos séculos; não há liberdade verdadeira a não ser quando a alma, livre desses vínculos terrenos, voa para a eternidade”.

 

Quero com Fernando andar pelas ruas no seu passo de monge silente e ouvir: “Por que essa pressa? Nós somos pobres proletários, a antítese da dialética marxista. De nada adianta correr!”.  “– Mas que bom seria uma sociedade sem classes, o Comunismo, a síntese perfeita!!” – retrucava eu o monge, para ouvir de sua mente sábia: “Pelo egoísmo e ganância dos homens, jamais chegaremos à síntese.  A síntese está em Deus”.   

 

Quero com Fernando me sentar nas calçadas e recordar histórias dos tempos de nossos avós, o Sacramento antigo da terra batida, do Cônego bandeirante, senhor da Farinha Podre, do Bonde Elétrico, dos milagres do jovem Eurípedes, do Juca Sacramento e do santo Victor.

 

Quero voltar à fazenda do pai de Fernando, galopar pelas campinas, montar cavalo bravo  e descansar no riacho, bebendo a água fresca que saciava a sede de nossas  doces ilusões.

 

Quero retornar com Fernando à Mariápolis de Piracicaba, sair a esmo de carona, lavar todos os pratos do encontro e sorrir com centenas de mariapolitas o mais puro sorriso de Mariama.

 

Quero também sulcar com Fernando, como o arado que abre a terra, as bocas maledicentes dos invejosos e plantar na cova aberta o testemunho evangélico do santo de Assis, que dependurava à cintura, para não esquecer as lições da humildade, compaixão e do despojamento .

 

Por fim, quero banir com Fernando, de todas as praças do mundo, os discursos céticos, apologéticos de todos os impérios ainda existentes e cantar alegremente a canção da Paz, da Ecologia, do Ecumenismo e do Amor.

Feliz etern(a)idade, Fernandinho! 

(WJS)