Certamente você já ouviu falar a respeito. Ou na missa, ou num texto, ou a sua mãe dizia, ou alguém já mencionou a “parábola do filho pródigo”. Ela é simples. Fala sobre um filho que saiu de casa, gastou todo o dinheiro que o pai havia dado pra ele e, quando estava na miséria, se arrependeu de tudo e voltou pra casa.
O pai, ao contrário do esperado, o recebeu de braços abertos. Mandou matar um novilho gordo e fez uma festa de boas vindas, porque o filho estava perdido e voltou. No entanto, esse pai tinha outro filho. O outro filho sempre foi trabalhador e nunca saiu do lado do pai e, ao ver a festa que este fez para o irmão desmiolado, se aborreceu, se entristeceu. A essa reação, o pai respondeu: “Alegre-se meu filho. O seu irmão estava perdido e voltou!”.
É basicamente isso, e é assim que deve ser a relação entre pais e filhos. Devemos respeito aos nossos pais, devemos honrá-los e cuidar deles com amor e devoção. Só que os tempos mudaram.
Ser pai, é acima de tudo, não esperar recompensas. Mas ficar feliz caso seja recompensado. É saber, fazer o necessário por cima e
por dentro da incompreensão. É aprender a tolerância com os demais
e exercitar a dura intolerância com os próprios erros.
Ser pai é aprender errando, a hora de falar e de calar. É contentar-se em ser
reserva, coadjuvante, deixado para depois. Mas jamais falar no momento preciso. É ter a coragem de ir adiante. É viver as fraquezas que depois corrigirá no filho, fazendo-se forte em nome dele e de tudo o que terá de viver para compreender e enfrentar.
Ser pai, é aprender a ser contestado mesmo quando no auge da lucidez. É esperar. É saber, que experiência só adianta para quem a tem, e só se tem vivendo. Portanto, é tolerar a dor de ver os filhos passarem pelos sofrimentos necessários, buscando protegê-los sem que percebam, para que consigam descobrir os próprios caminhos.
Ser pai, é saber e calar. Fazer e guardar. Dizer e não insistir. Falar e dizer. Dosar e controlar-se. Dirigir sem demonstrar. É ver dor, sofrimento, vício, queda e tocaia, jamais transferindo aos filhos o que, a alma, lhe corrói.
Ser pai, é ser bom sem ser fraco. É jamais transferir aos filhos a cota de sua imperfeição, o seu lado fraco, desvalido e órfão. É aprender a ser ultrapassado, mesmo lutando para se renovar. É compreender sem demonstrar, e esperar o tempo de colher, ainda que não seja em vida. É aprender a sufocar a necessidade de afago e compreensão. Mas ir às lágrimas quando acontecerem.
Ser pai, é saber ir-se apagando à medida em que mais nítido se faz na personalidade do filho, sempre como influência, jamais como imposição. É saber ser herói na infância, exemplo na juventude e amizade na idade adulta do filho. É saber brincar e zangar-se. É formar sem modelar, ajudar sem cobrar, ensinar sem demonstrar, sofrer sem contagiar, amar sem receber.
É, enfim, colher a vitória, exatamente quando percebe que o filho a quem ajudou a crescer, já dele, não necessita para viver. É quem se anula na obra que realizou e sorri, sereno, por tudo haver feito para deixar de ser importante.
IVONE REGINA