Jornal O Estado do Triângulo - Sacramento
Edição nº 1783- 18 de junho de 2021

Contraponto

Edição nº 1202 - 23 Abril 2010

Apanhados em estado de embriaguês ao volante, após terem provocado acidentes nas rodovias  duas cenas, mostradas pela TV, chocaram. Nos dois casos, os infratores caçoaram dos policiais; um deles, depois de ser  preso, chegou a exibir passos de dança no corredor da delegacia, enquanto o outro, olhando com deboche para as câmeras que filmavam a cena, disse: “Bebi sim, cerveja- umas quatro latinhas e daí?”. Episódios dessa natureza se espalham por esse Brasil afora.  Nas escolas, diretores, professores, alunos acuados, indefesos,  amedrontados. Cada qual à mercê do  potencial criminoso daqueles  cujo furor pode ser desencadeado ao menor gesto que venha  a contrariar  os seus propósitos; cada um se coloca à espreita do perigo que o outro pode representar. Do outro lado, traficantes anunciam o toque de recolher e uma cidade inteira fica literalmente paralisada em todas as suas atividades.  E mais: pais acusados de assassinar os próprios  filhos , vergonhosos casos de pedofilia,  corrupção instalada nos poderes constituídos, impunidade para crimes hediondos. A selvageria, a podridão e a degeneração do gênero humano ficam escancaradas aos nossos olhos... é a própria  natureza humana  que ,obscurecida da sua verdadeira destinação, despenca abismo abaixo, numa  vertiginosa corrida   aos porões da inconsciência. 

 No entanto, transpondo a linha divisória que separa a perversão da nobreza, quando tudo nos leva a desacreditar da presença do amor no coração do homem, o furor da natureza, fazendo a terra tremer, a chuva soterrar casas e pessoas e o chão deslizar,  faz emergir, dessa desacreditada e perversa natureza humana, a solidariedade! Pessoas arriscando a própria vida para salvar outras vidas! Pessoas que, tendo perdido filhos, casa e todos os pertences, se colocam a serviço. É a generosidade, a fraternidade  e a compaixão  manifestando-se nas leis inscritas  no  coração.

Aristóteles, filósofo grego (384-322 a.C.), na sua teoria pedagógica, ao tratar do tema sobre o aprendizado do bem e do agir virtuoso, traz importantes pontos de reflexão. Para ele as coisas nobres e justas  são um pré- requisito para o esclarecimento do que é o bem. O  método  a ser empregado para se chegar a esse bem seria uma prática intensiva que acostume a pessoa a uma conduta nobre e justa. O aprendizado do  bem  habilitaria a pessoa a  guiar a conduta  na descoberta da verdade. A quem faltar o gosto pelas coisas nobres e justas não será dado  conhecer a virtude. O prazer que a pessoa sente por essas ações cresce com o seu cultivo e  a sua prática. Decorrendo daí o prazer  de aprender  a agir virtuosamente  por meio de uma correta educação.

Certamente, aqueles que estão arriscando suas vidas para salvar outras vidas, são os praticantes das virtudes a que se refere o filósofo. São os heróis anônimos, cuja felicidade reside exatamente em fazer o bem ; marcam na alma humana o contraponto entre o mal e o bem.  Representam a esperança  de que um mundo melhor , para as futuras gerações, pode acontecer. 

Que assim seja!!! 

 

Mariú Cerchi

Educadora