Sob os escombros do ano que ora finda,
jazem os votos que formulamos no início.
Onde se encontram a almejada paz,
o amor jurado, a fraternidade anunciada?
Pelo contrário, irromperam das trevas
da intolerância fundamentalismos
torpes e ódios obscenos.
Por todo o mundo lambem-se feridas de
catástrofes naturais e conflitos provocados.
A explosão demográfica, a pobreza
e a guerra deram as mãos à
intolerância e à vingança.
O racismo e a xenofobia atingiram
proporções dementes que terminaram
na orgia de sangue em que
os homens se atolaram.
Foram frágeis os desejos
e efêmeras as expectativas.
Ano Novo,vida nova!
Estes são os votos que repetimos a cada ano.
E suplica-se que o Ano Novo
seja o paradigma dos nossos sonhos
e não a consequência dos nossos atos
ou o fruto de circunstâncias
que nos escapam.
Após as doze badaladas, do champanhe
e os abraços, por entre beijos úmidos
e corpos que se fundem numa sofreguidão
de amor, com o brilho das luzes e o som
da música, recomeça um novo ano com votos
repetidos de ser diferente e ser melhor.
Os anos nascem ruidosamente
e vivem em silêncio.
Começam com ilusões
e acabam em pesadelo.
Há em cada um de nós
uma força que nos impele
para a mudança, que nos dá
ânimo para desbravar novos
caminhos e assumir novos riscos
enquanto o conservadorismo
e o medo do desconhecido nos tolhem
os passos, nos intimidam e levam
a recusar a novidade.
Acredito que, no coração dos homens
mora um genuíno desejo de paz.
Os mísseis que cruzam os ares,
as bombas que perfuram o solo
ou os efeitos colaterais da artilharia
que errou o alvo e destruiu povoações inteiras,
não são mais que um pesadelo passageiro.
O futuro constrói-se.
A felicidade é um estado de alma
que devemos procurar, e a alegria,
o caminho a seguir.
É em cada um de nós,
no espírito de tolerância,
na aceitação da diferença,
na solidariedade que podemos começar
a construir um mundo melhor,
mais justo, mais fraterno e pacífico
para o qual julgávamos bastar os desejos
formulados de olhos fechados na
última noite de Dezembro.
Ivone Regina